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Passatempo de ESCRITA POLICIAL
Regulamento
1. No dia 28 de cada mês (a partir de Outubro), será publicado aqui no LOCAL DO CRIME um capítulo de um Romance Policial que se pretende “permanentemente em aberto”, cujo processo de criação poderá contar com a contribuição de todos os “visitantes” que se quiserem associar à iniciativa, através da participação na produção dos capítulos e/ou na escolha dos textos produzidos.
2. Entre os dias 10 e 20 de cada mês, os “visitantes”-autores devem enviar para o endereço ssantos@tnsj.pt. as propostas de texto de cada um dos capítulos do Romance (com o máximo de 7.000 caracteres). Os textos propostos para o primeiro capítulo não estão sujeitos a qualquer temática ou enredo, mas os textos produzidos para os capítulos seguintes devem enquadrar-se no espírito e história(s) do(s) capítulo(s) anterior(es).
3. No dia 21 de cada mês serão publicadas, aqui no LOCAL DO CRIME, as propostas de texto enviadas pelos “visitantes”-autores, que ficarão sujeitas à apreciação dos “visitantes”-votantes durante 7 dias.
4. Entre os dias 21 e 27 de cada mês, os “visitantes”-votantes devem escolher um dos textos propostos, através de voto a enviar para o endereço ssantos@tnsj.pt. O texto mais votado nesse mês dará continuidade ao Romance (nos casos de empate, compete ao “detective” Smaluco a decisão da escolha do texto).
E pronto. Agora mãos à obra, meus caros amigos.
SOLUÇÃO do Primeiro ENIGMA (Smaluco no Teatro)
Smaluco pode saber muito de teatro, mas a verdade é que se lhe escapam pequenos pormenores:
1º- O encenador Jorge Lavelli é argentino e não espanhol;
2º- O espectáculo “Clamor” retratava a vida e a obra de Padre António Vieira e não de Fernando Pessoa.
Por outro lado, Bob Wilson não dirigiu a ópera “O Corvo Branco” em 1994 (ano em que Lisboa foi capital europeia da cultura). Aliás, nessa altura ainda nem existia o Teatro Camões, que só foi inaugurado em plena Expo’98.
Acresce ainda que, em 1994, a ponte Vasco da Gama não passava apenas de um projecto em construção, pelo que não podia ser palco de qualquer perseguição automóvel.
E, já agora, digam lá como é que no pós-25 de Abril de 1974 o detective Smaluco podia ser um adolescente, se actualmente ele terá pelo menos 55 anos? E será que alguma vez existiu a tal jovem actriz-bailarina por quem ele diz se ter perdido de amores em tempos? – Talvez saibamos isso em breve...
Primeiro o esclarecimento que se impõe: escapando ao princípio que norteia este espaço, o Primeiro Enigma (“Smaluco no Teatro”, da autoria de um velho detective aposentado que dá nome ao seu protagonista), não foi pré-publicado neste LOCAL DO CRIME. Ele teve a sua primeira publicação na secção Policiário do jornal Público, em 8 de Dezembro de 2002.
De seguida um desafio: os “visitantes” deste espaço que não acompanham habitualmente as provas organizadas pelo PÚBLICO-Policiário e que, por essa mesma razão, não tenham tido conhecimento da solução “oficial” daquele enigma, podem “aventurar-se” na sua decifração, remetendo as respectivas propostas para o endereço ssantos@tnsj.pt.
Primeiro ENIGMA
Smaluco no Teatro
Smaluco é o “nome de guerra” de um velho e medíocre agente da Polícia Judiciária, cujos traços de personalidade mais marcantes são a fanfarronice, a vaidade e a mentira, características que lhe valeram alguns processos disciplinares e a reforma compulsiva aos cinquenta e cinco anos de idade.
Aparte a investigação directa de alguns crimes de pequeno delito, ele passou praticamente todo o seu tempo de serviço como policial “agarrado” a uma secretária, classificando e arquivando documentos, ao mesmo tempo que devorava textos dramáticos e as mais diversas publicações sobre teatro.
Esta sua paixão pela arte de Talma não é recente. Ela remonta, segundo o próprio, à sua adolescência, quando se perdeu de amores por uma jovem actriz-bailarina que na altura debutava pelo chamado teatro independente do pós-25 de Abril de 74, lia Brecht, adorava Beckett e Stravinsky, idolatrava Pina Bauch e odiava os “velhos” clássicos.
O seu romance com aquela jovem, cujo nome nunca pronuncia, e que ele afirma ter sido a grande e única paixão da sua vida, durou apenas dois anos, mas foi a causa e o tempo bastante para que Smaluco se perdesse de amores pelas “coisas” das artes do palco, ao ponto de ser este o seu tema de conversa preferido sempre que encontra uma “plateia” interessada em ouvir as suas aventuras.
Há poucos dias, quedei-me a ouvi-lo discursar para um grupo de jovens, vizinhos seus, que o tratam com reverência e carinho, e que escutavam embevecidos mais uma das suas estórias. Dizia ele: “No ano em que Lisboa foi capital europeia da cultura, tive o grato e inesquecível prazer de conhecer de perto algumas das mais importantes personagens da cena teatral mundial, como o norte-americano Bob Wilson, o espanhol Jorge Lavelli e o português Ricardo Pais. Com este último, tive a oportunidade única de assistir aos ensaios finais do espectáculo ‘Clamor’, que retratava a vida e a obra do grande poeta luso Fernando Pessoa; com Lavelli, tive o ensejo de colaborar na montagem da peça ‘Os Jornalistas’, em cujo elenco pontificava o nosso extraordinário actor João Perry; e com Bob Wilson, vivi a minha mais empolgante experiência nos palcos nacionais”.
E continuava o nosso ‘herói’: “Aquele encenador esteve nessa altura na capital a dirigir, no Teatro Camões, a ópera ‘O Corvo Branco’, uma produção que suscitou alguma polémica face aos meios técnicos, humanos e financeiros que envolveu, provocando os mais irados comentários em surdina no seio da classe teatral, nomeadamente junto dos grupos e companhias que viram os seus pedidos de subsídio recusados pelo Estado”.
Smaluco sentiu o seu jovem auditório entusiasmado com a narrativa e empolgou-se: ”Começou a circular a informação de que uma autodenominada ‘comissão de luta’ dos grupos de teatro emergentes se preparava para boicotar o espectáculo, o que levou Bob Wilson a contactar-me no sentido de averiguar o fundamento daquela notícia”. Não consegui evitar um sorriso, e, a custo, mantive-me calado a ouvi-lo: “Dois dias antes da estreia da ópera, em plena madrugada, um grupo de três encapuzados entrou no Teatro com o propósito de violar os mecanismos de cena e danificar cenários e guarda-roupa, mas foram descobertos a tempo por mim, que me vi de repente envolvido numa feroz luta corpo-a-corpo, com tiroteio à mistura, que culminou numa perseguição automóvel pela ponte Vasco da Gama. Porém, graças à preciosa ajuda de um piquete da PSP, os meliantes acabaram por ser dominados e metidos nos calabouços da PJ”.
Não quis ouvir mais nada e abandonei o local perdido de riso. Vocês sabem porquê, claro...