O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 16 de março de 2017
DESVENDADA A “PETA” DE TEMPICOS NO FESTIVAL DAS MENTIRAS
A solução da primeira prova do Torneio Policiário’ 2017 é hoje conhecida, trazendo à sua ilharga os pontos atribuídos aos 24 concorrentes que se apresentaram a jogo dentro do tempo regulamentar e um retrato em “photomaton” do autor da segunda prova, publicada na passada edição. E como importa fechar um desafio de descoberta dos grandes nomes da escrita policial recentemente apresentado à consideração dos leitores, desvendamos hoje a respetiva solução.
VERBATIM EM “PHOTOMATON”
O autor do problema que constitui a segunda prova do Torneio Policiário’ 2017, de cuja solução aguardamos o envio dos nossos leitores até 10 de abril, adotou o seu atual pseudónimo há pouco mais de três anos. Até essa data, a comunidade policiária conheceu-o como NOVE. A escolha do seu pseudónimo inicial deriva do facto de ter começado a responder aos desafios policiários relativamente tarde. Assim, tendo sido
NOvo nestas andanças, quando já era
VElho, resolveu chamar-se NOVE. Nessa altura, era já reformado, o que considera ter sido uma vantagem, por lhe permitir dispor de mais tempo do que muitos outros para se dedicar a este passatempo, a que acresce ainda o facto de ter beneficiado de uma razoável formação escolar e profissional. Vem das áreas da matemática e da química, mas gosta igualmente das letras. Diz ter muito prazer em resolver problemas de recreação matemática, enigmas e quebra-cabeças, e afirma-se leitor assíduo de obras de divulgação matemática e científica, sem prejuízo da ficção, incluindo a policial, poesia e ensaios.
NOVE, agora VERBATIM (reprodução literal de algo), costuma participar em comunidades de leitores (reuniões para discussão de livros), é presença assídua nos encontros nacionais de policiaristas e membro ativo da Tertúlia Policiária da Liberdade (Lisboa), o que revela o seu grande apreço pelo convívio e pelo debate. Admite que as suas primeiras respostas aos desafios policiários, há vinte e três anos, eram muito incompletas. Porém, com o tempo foi-se apurando, em especial depois de ter começado a participar na Tertúlia Policiária da Linha de Sintra, onde, em 1996, se iniciou como produtor para a extinta secção Enigmas & Desafios, do jornal Notícias da Amadora, e, logo a seguir, para o PÚBLICO-Policiário, onde se tem distinguido também como solucionista.
TORNEIO POLICIÁRIO’ 2017
Solução da Prova nº. 1
“O Primeiro Festival da Peta”, de A. Raposo & Lena
Se não sabem, ficam a saber que Tempicos, o herói da nossa história, aceita todos os convites que lhe fazem sempre que lhe cheira a farra e copos. Nestas condições nunca diz que não, apesar de ter já umas mazelas figadais que o obrigam a andar de vez em quando a água mineral. E nos tempos livres, este antigo inspetor da “Judite”, escreve uns problemas policiais que publica em jornais quando lhe pedem. Pois foi este o caso e agora chegou a vez de a solução ser apresentada:
De todas as afirmações produzidas por Tempicos, apenas uma delas é de facto mentira. E trata-se de uma “peta” muito pequena, do tamanho de um simples minuto. Pois só quando afirma que o sol se põe às vinte horas e oito minutos do primeiro dia do mês em que nasceu é que diz uma mentira. Na verdade, o sol põe-se mais cedo um minuto, exatamente às vinte horas e sete minutos. Todas as outras afirmações de Tempicos são verdadeiras. E o Borda D´Água confirma!
(notas do orientador da secção: setembro é o mês em que terá início o ano de 5778 da era israelita; 1935 foi o ano em que Salazar decretou a ilegalização de todas as sociedades secretas incluindo a Maçonaria, logo foi no dia 8 de setembro desse ano que Tempicos nasceu).
CLASSIFICAÇÃO DA PROVA Nº. 1
1º. Detetive Jeremias: 15 pontos;
2º. Vimaranes: 14 pontos;
3º. Menino Lucas: 13 pontos;
4º. Bernie Leceiro: 12 pontos;
5º. Detetive Bossiak: 11 pontos;
6ºs. Alex, Arc. Anjo, Arnes, Gomes, Haka Crimes, Holmes, Inspetor Mucaba, Madame Eclética, Ma(r)ta Hari, Pena Cova, Rigor Mortis, Santinho da Ladeira, Talismã e Zé de Mafamude: 10 pontos;
20ºs. Charadista, Solidário: 9 pontos;
22º. Onaírda: 8 pontos;
23ºs. Inspetor Guimarães, Beira Rio: 7 pontos.
QUEM É A MULHER DE QUEM SE FALA? (SOLUÇÃO)
Mary Patrícia Hangman é o seu nome de batismo. Nasceu em Forth Worth, no Texas. Aos seis anos de idade mudou-se para Nova Iorque com a mãe e o padrasto, do qual herdou o apelido, e aos quinze anos começou a escrever os seus primeiros contos.
O seu primeiro livro, “Pacto Sinistro”, veio a ser publicado em 1950 e descreve a história de dois homens que se encontram num comboio. Alfred Hitchcock, famoso realizador, conhecido também como mestre do suspense, pegou na história e fez um filme que é hoje considerado um clássico do género.
O seu mais famoso personagem, Tom Ripley, bissexual e serial killer, apareceu pela primeira vez em 1955 no romance “O talentoso Mr. Ripley” e foi transposto para a sétima arte por três vezes: primeiro pelo francês René Clément, depois pelo realizador Anthony Minguella e, mais tarde, pelo diretor alemão Wim Wenders.
A mulher de quem se fala foi uma escritora que se destacou por explorar o lado psicológico e a culpa dos que transitam num mundo sem moral. Morreu na Suíça, em 4 de fevereiro de 1995, e chama-se Patrícia Highsmith. (é da autoria do leitor Inspetor Mucaba a solução premiada com um exemplar do livro “O Talentoso Mr. Ripley” desta notável escritora. Responderam também acertadamente os leitores Beira Rio, Haka Crimes, Holmes, Insp. Guimarães, Insp. Moscardo, Luís Pessoa, Madame Eclética, Onaírda, Santinho da Ladeira, Solidário, Talismã e Zé de Mafamude).
O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 1 de março de 2017
A SEGUNDA PROVA DO TORNEIO POLICIÁRIO É HOJE CONHECIDA
A publicação da segunda prova do Torneio Policiário’2017 preenche por completo a edição de hoje, por razão da sua extensão, o que nos obriga, aliás, a deixar para a próxima edição a devida apresentação do seu autor, um dos mais destacados policiaristas portugueses em atividade, que conta no seu currículo com a conquista de alguns dos mais importantes prémios nacionais como decifrador e produtor. A sua qualidade de produtor está bem patente neste seu mais recente problema, aparentemente fácil, mas enriquecido de inúmeros pormenores que podem fazer a diferença nas soluções a elaborar pelos nossos concorrentes, facto que nos leva a aconselhar-lhes a máxima atenção.
TORNEIO POLICIÁRIO’ 2017
Prova nº. 2
“Trancado na Casa de Banho”, de Verbatim
Os bombeiros chegaram às 18:30. Não se fizeram demorar. Eram dois sapadores e duas especialistas em primeiros socorros, mais um polícia que os acompanhava. Alguém tinha ficado fechado na casa de banho e não dava acordo de si, informara José Mata, no que foi corroborado pela mulher Maria do Céu Dores Mata. Temiam que lá se encontrasse Jacinto Dores, pai da Maria do Céu, que, segundo declararam, viram pela última vez cerca de seis horas antes, quando o deixaram sozinho em casa, pois ele não os quisera acompanhar nem ao restaurante nem no passeio daquele sábado. Disseram, ainda, que o ancião não atendera o telefone às quatro, o que não os admirou porque a maior parte das vezes não trazia o telemóvel consigo. O aparelho estava na sala de jantar e, desde as 12:45 desse dia, registava apenas o telefonema atrás referido.
O casal explicou que, para além da maçaneta que permitia abrir e fechar a porta da casa de banho por ambos os lados, havia uma pequena tranca interna, de aço inox, com o eixo fixado na porta, a cerca de um metro e sessenta de altura, e que rodava para se apoiar num batente com a forma de um u estreito, que se encontrava aparafusado na ombreira. O acesso pela pequena janela que dava para o exterior da casa de banho exigiria uma grande escada extensível ou a suspensão de uma cabine a partir do telhado.
Os bombeiros verificaram que os ressaltos de encosto da porta, laterais e superior, não permitiam que, de fora, se levantasse a tranca interna com um arame ou uma peça semelhante a um cartão de crédito. A frincha inferior, bastante estreita, também não facilitava as manobras. Nestas circunstância, socorreram-se de uma lâmina flexível, pouco mais espessa do que uma película de filme que, depois de algum esforço e muito jeito, lhes permitiu levantar a tranca e, de seguida, abrir a porta com a maçaneta.
O agente da polícia explicou aos dois membros do casal que, de imediato, não podiam ver o que se passava no interior da casa de banho. Foram então chamadas, com urgência, equipas da polícia de investigação e de medicina legal. Só meia hora depois, Maria do Céu e José, os donos daquela habitação, onde viviam com Jacinto Dores e um outro casal de hóspedes, souberam que o ancião fora encontrado já morto. Durante 48 horas, nada mais lhes disseram sobre o que as equipas da polícia e dos bombeiros observaram na casa de banho, embora esta tivesse ficado livre às vinte e uma horas daquele sábado. O reconhecimento do corpo foi feito em local diferente e apenas com o rosto do morto destapado.
Os bombeiros e o agente da polícia, depois de aberta a porta da casa de banho, que não ofereceu resistência, deram com Jacinto Dores estendido de costas no chão, com os pés debaixo do lavatório, à esquerda de quem entrava, e cabeça entre o topo da banheira, situada à direita, e a parede em frente da porta, na qual se encontrava a janela, na altura semiaberta. Perto do ombro direito de Jacinto Dores estava uma pistola e a têmpora do mesmo lado do ancião apresentava um orifício chamuscado de entrada de um projétil. Dentro do bidé, montado contra a parede da janela, a não mais do que vinte centímetros do corpo, estava uma cápsula. Escorrera algum sangue para o pescoço e para a camisa de Jacinto Dores, não se vendo sangue em qualquer outra parte da casa de banho. O chão estava limpo, mau grado os bordos do lavatório se encontrarem bastante molhados. O Inspetor Flávio Alves pôde confirmar estas observações e verificar, com a equipa médica, que o projétil estaria alojado no corpo de Jacinto Dores e que a morte teria ocorrido entre as 15:30 e as 17:00 daquele dia. Olhando a porta pelo lado de dentro, o Inspetor observou os cabides nela aparafusados e a tranca. Notou algumas manchas na madeira envernizada, que seriam devidas à humidade. Encontrou um pedacinho de fita-cola circular, à altura mediana dos ombros de um adulto, na zona de circulação da haste da tranca. Pensou, no momento, que poderia ser a fita de selar alguma embalagem, pespegada ali por alguém que não mais se lembrou de a retirar. Havia também, no terço inferior da porta, salpicos de algo parecido com um creme corporal.
Os hóspedes, Maria da Paz e Inocêncio Guerra, apareceram às nove e meia da noite, quando já só estavam Flávio Alves e o agente Dias das equipas policiais e de socorro.
Ela dirigiu-se logo a Maria do Céu, perguntando se tinha acontecido alguma coisa ao Sr. Dores. A viúva, em novo assomo de lágrimas, explicou-lhe o sucedido.
- Pobre senhor, já andava deprimido com a história do cancro e não deve ter resistido a cometer uma loucura – comentou Maria da Paz.
- Olhe que não, ele até andava muito animado com a perspetiva do vosso negócio dos lixos – atalhou José Mata – Desconfio que aquilo terá sido um ataque do coração.
- Ataque do coração?! – exclamou Inocêncio Guerra muito espantado.
O Inspetor Flávio Alves, que assistiu à conversa, apresentou-se então aos recém-chegados pedindo que aguardassem na sala, e em separado dos donos da casa, até que ele e o agente Dias concluíssem as tarefas que os tinham trazido ali.
Enquanto o seu ajudante procedia à identificação do casal Guerra, o Inspetor entrou em contacto com um colega informando-o de que já tinha uma ideia do modo como tudo se passara. Havia, segundo disse, muita coisa a confirmar, todavia não esperava que a sua conjetura, aliás sustentada por indícios bastante claros, viesse a ser alterada.
DESAFIO AO LEITOR
O que terá concluído o Inspetor Flávio Alves? Quais os fundamentos da sua conjetura? Quais as principais diligências a levar a efeito para a confirmar ou negar? Tenha em atenção estas questões na elaboração da sua solução e envie-a para o orientador da secção, até 10 de abril, por um dos seguintes meios: - por correio, para AUDIÊNCIA GP / O Desafio dos Enigmas, rua Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel – Açores; - por email, para salvadorpereirasantos@hotmail.com. Mas, atenção: não se esqueça de identificar a solução enviada com o seu nome ou pseudónimo.