O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 20 de julho de 2019
SOLUÇÃO DO AUTOR
DA 1ª. PROVA É HOJE DESVENDADA
São hoje conhecidas as primeiras pontuações obtidas pelos “detetives”
participantes na edição de 2019 do torneio de decifração “Solução à Vista!”. Foram
44 (quarenta e quatro!) as propostas de solução recebidas, relativas ao enigma
“Abílio Vai à Bola” da autoria de Daniel Gomes, o que significa um acréscimo de
cerca de 30% de concorrentes face ao número de participantes na edição
anterior. Mais trabalho, portanto, para o orientador da secção, que se obrigou
a ler por diversas vezes boa parte das soluções classificadas com a pontuação
máxima até conseguir determinar, sem problemas de consciência, aquelas que seriam
merecedoras dos pontos suplementares destinados “às melhores”. Não foi nada fácil
a tarefa, atendendo à excelente qualidade da maioria dos relatórios recebidos.
Ou seja, caros leitores: a época promete!
Alguns “detetives” lamentaram, porém, a temática do enigma em apreço, por
entenderem não se enquadrar no género “policiário”. Outros, todavia, saudaram a
qualidade da narrativa do enigma, que, recordamos, constitui apenas a segunda
incursão do autor na produção deste género de escrita. E a verdade é que,
apesar da aparente fragilidade do enunciado do problema e das suas
características, alguns dos solucionistas não conseguiram escapar aos primeiros
tropeções da competição. Nada que não se corrija, contudo, com o decorrer da
prova, uma vez que ainda há muito “torneio” pela frente. São dez os enigmas a
decifrar e muitos os pontos a conquistar ou... a perder. E tudo pode acontecer.
Razão por que se recomendam sempre leituras cuidadas e atentas aos mais ínfimos
pormenores, bem como soluções o mais elaboradas e detalhadas possível.
TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA!”
Solução da Prova nº. 1
“Abílio Vai à Bola”, de Daniel Gomes
Resposta certa: alínea C – Validou o golo.
Este problema tem polícia mas não tem crime para investigar ou criminoso
para acusar. Tem no entanto leis para fazer respeitar e cumprir. E leis são
leis, quer sejam as do código civil, do código penal ou... do International
Football Association Board, órgão responsável pela regulamentação das regras do
futebol, que fixou na Lei 11 desta modalidade desportiva, que “um jogador
encontra-se em fora de jogo se estiver mais perto da linha de baliza adversária
do que a bola e o penúltimo adversário”. Acontece, porém, que aquele atleta
“não se encontra em posição de fora de jogo se estiver no seu próprio meio campo”.
Assim sendo, o jogador que marcou o golo da equipa visitada não se
encontra fora de jogo, uma vez que recebeu a bola no meio campo do seu clube.
Recorde-se que no enunciado do problema refere-se que no início do jogo, “a
equipa da casa está a ser completamente esmagada por um ataque demolidor da
turma adversária, que a remete para o seu meio campo”, e que, depois, na
segunda parte do desafio, passados mais quarenta minutos do jogo, “tudo se
mantém inalterado”. Ou seja, quando o guarda-redes “lança” a bola “com as
forças que lhe restam” para o seu colega adiantado no terreno de jogo, este
está ainda no seu meio campo. Dessa forma, o golo tem de ser validado.
Ora, se o golo é válido e o árbitro decidiu acertadamente, apenas poderão
estar corretas a alínea C ou a alínea D. Mas, como o guarda-redes forasteiro
não cometeu nenhuma falta, já que não há nada na Lei do Jogo que o impeça de
estar adiantado, longe da baliza que lhe compete defender, não se justifica de
forma alguma que seja punido. Ele ter-se-á limitado a acompanhar a corrida
desenfreada do atacante adversário, correndo às arrecuas, sofrendo depois o
vexame de ser alvo de um belo chapéu que levou a bola a anichar-se nas redes à
sua guarda. Ou seja, só a alínea C pode estar correta, uma vez que, como já se
disse atrás, o árbitro tomou a decisão acertada.
Pontuação/Classificação
(após a 1ª. Prova)
A esmagadora maioria dos nossos “detetives” acabaram por não ter grandes
dificuldades em sair vitoriosos neste confronto com o enigma de Daniel Gomes, que
trouxe até nós uma modalidade desportiva que arrasta grandes massas de adeptos,
entre os quais se contam muitos dos que fazem do policiário o seu passatempo
preferido. Contudo, alguns deles não escaparam aos primeiros dissabores no
torneio, como se pode constatar na tabela classificativa que se segue:
1º. Detetive Jeremias: 13
pontos;
2º. Rigor Mortis: 12 pontos;
3º. Inspetor Moscardo
(ex-Bigode): 11 pontos;
4ºs. Airam Semog, Arc. Anjo, Bernie
Leceiro, Broa de Avintes, Búfalos Associados, Carlota Joaquina, Charadista,
Chico da Afurada, Donanfer II, Dragão de Santo Ovídio, Ego, Holmes, Inspetor
Guimarães, Inspetor Mucaba, Mancha Negra, Ma(r)ta Hari, Pena Cova, Tempicos
& Tempicas e Zé de Mafamude: 10 pontos;
23ºs. Abrótea, Beira Rio, Inspetor
Madeira, Necas, Príncipe da Madalena, Santinho da Ladeira e Talismã: 9 pontos;
30ºs. Agata Cristas, Amiga
Rola, Bota Abaixo, Detetive Bruno, Detetive Vasoff, Faina do Mar, Haka Crimes, Inspetor
Mostarda, Martelo, Mascarilha, Mosca, Pequeno Simão,
Solidário, Tó Fadista e Vitinho: 8 pontos.
CONCURSO “MÃOS
À ESCRITA!”
Recordamos que a pontuação a atribuir a este enigma de Daniel Gomes pelos
concorrentes do Torneio “Solução à Vista!” deve ser enviada juntamente com a
proposta de solução ao enigma “Whisky Mortal”, de
Rigor Mortis, publicado na passada edição. De
acordo com o regulamento, os solucionistas dispõem de entre 5 a 10 pontos para
atribuir ao enigma, tendo em conta a sua originalidade e grau de dificuldade, a
que se junta a pontuação atribuída pelo orientador da secção, apurando-se
depois a média pontual que define a sua classificação.
CONTACTOS DO ORIENTADOR
Relembramos aos nossos leitores os endereços para os quais poderão enviar
as soluções das provas do torneio de decifração, bem como as pontuações
atribuídas aos enigmas que disputam o concurso de produção, ou para qualquer outro
assunto relacionado com a secção:
- correio postal: AUDIÊNCIA GP / O Desafio dos
Enigmas, rua do Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel – Açores;
- correio eletrónico: salvadorpereirasantos@hotmail.com.
O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 5 de julho de 2019
INSPETOR JOÃO VELHOTE DESVENDA MAIS UM CRIME
Publicamos hoje, sem mais delongas devido a sua extensão, o enigma que
constitui a segunda prova do nosso torneio de decifração, da autoria do criador
do inspetor João Velhote:
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 2
“Whisky Mortal”, de Rigor Mortis
Tomás Cerqueira era um velho azedo e sorumbático, incapaz de um gesto
simpático. Mas tinha tido sempre um agudo sentido para os negócios, nem sempre
limpos. Tal engenho, aliado à sua crueldade intrínseca, tinham-lhe permitido
ir-se apropriando de uma apreciável fortuna. De pouco lhe valia essa fortuna.
Vivendo só, sem familiares conhecidos, desprezava luxos e pouco uso fazia do
dinheiro. Uma moradia grande, mas velha, com muitos móveis antigos, mas
estragados com o tempo e o uso, eram os seus sinais aparentes de riqueza.
Raramente saía de casa. Aí vivia também o único empregado, José Machado, que em
muitos anos de serviço se tinha habituado aos humores do patrão.
Visitas, apenas duas. O seu secretário, o Santos, vinha todos os dias
úteis e aos sábados de manhã. Tratava da contabilidade, do correio e de alguma
carta que o patrão quisesse escrever. A outra era um amigo de antigamente, o
Norberto Ávila. A amizade entre os dois já não era nada que parecesse com a
desses tempos, mas o Norberto continuava a visitá-lo de quando em vez.
Tomás tinha um hábito arreigado. Sábado ao fim da manhã, quando o Santos
e o Machado começavam a folga de fim-de-semana, fechava-se à chave na parte da
casa onde estava o seu escritório, o quarto e uma casa de banho. Duas garrafas
de whisky, uma dúzia de garrafas de água Perrier e uns iogurtes guardados num
pequeno frigorífico que estava no escritório, era tudo o que precisava durante
o fim-de-semana. Quando o Norberto o visitava, um domingo ou outro à tarde,
encontrava-o sempre bem bebido, mas nunca ébrio.
Naquele domingo, pelas cinco horas, Norberto Ávila bateu à porta, mas
ninguém lha abriu. Depois de várias insistências, perante a estranheza do
facto, ocorreu-lhe que o Tomás poderia ter tido algum problema de saúde. À
falta de melhor, resolveu ligar ao 112.
Minutos depois chegou ao local um carro da polícia. Norberto explicou a
situação. Os agentes deram uma volta à casa, espreitando pelas janelas
fechadas. Ao olhar pela do escritório do Tomás, viram um homem sentado num sofá
de orelhas, que o Norberto identificou como sendo o Tomás Cerqueira. Resolveram
forçar a porta de entrada. Entraram em casa e encontraram a porta do escritório
fechada à chave, por dentro. Arrombaram a porta.
Tomás estava sentado, cara contorcida, vestígios de espuma e saliva nos
cantos da boca retorcida, mãos enclavinhadas nos braços do seu sofá preferido.
Morto, seguramente envenenado. Na mesinha ao lado, um telefone, uma garrafa
fechada de whisky e outra aberta, ainda com um dedo de álcool, uma colher e um
copo, menos de meio com um líquido claro, aparentemente mistura de whisky e
gelo derretido. Do outro lado do sofá, em cima do pequeno frigorifico, uma
dúzia de garrafas de água Perrier e duas cuvetes de gelo de plástico branco,
umas e outras vazias.
O inspetor João Velhote entrou na moradia e dirigiu-se ao escritório.
Certificando-se da morte do Tomás Cerqueira, mandou os agentes fazer uma busca
pela casa e interrogou o Norberto:
- Amigo do falecido? Qual era o nome dele? E o deu? Costumava visitá-lo
com frequência?
- Chamo-me Norberto Ávila. Sim, sou amigo do Tomás Cerqueira desde há
muitos anos. Costumo visitá-lo aos domingos à tarde, uma ou duas vezes por mês,
não mais. Sei que ele costuma passar o fim-de-semana sozinho em casa, sempre
lhe fazia um pouco de companhia.
Regressando a casa, José Machado entrou nessa altura no escritório.
- E você, quem é?
- José Machado, empregado do senhor Cerqueira. Acabo de gozar a minha
folga de fim-de-semana. O que aconteceu?
- O seu patrão morreu envenenado, parece que com o whisky que esteve a
beber.
- Não pode ser! – exclamou o Machado – As duas garrafas estavam seladas
de fábrica quando as trouxe ontem ao fim da manhã! Como sempre, era uma
exigência do senhor Cerqueira! Bem como as garrafas de Perrier!
- Perrier no whisky?... – perguntou o Velhote.
- Não exatamente. O senhor Cerqueira apenas põe gelo no whisky, mas esse
gelo é feito com água Perrier, aqui mesmo, naquele frigorífico. Trago-lhe as
garrafas seladas de whisky e de água e é ele mesmo que enche – enchia, desculpe
– as cuvetes e as punha no frigorífico. Era também ele que lavava sempre as
cuvetes e o copo…
- Ele costumava beber todos os dias?
- Bebia só no fim-de-semana, mas aí eram sempre duas garrafas de whisky…
O inspetor espreitou dentro do frigorífico: seis iogurtes intocados, no
congelador quatro cuvetes de gelo, uma delas meio vazia.
- Quando é que deixou o falecido, este fim-de-semana?
- Saí por volta das onze e meia da manhã. Trouxe-lhe os iogurtes e as
garrafas de whisky e de Perrier, que deixei aqui, despedi-me e saí. O senhor
Cerqueira ficou ainda com o senhor Santos, que deve ter saído pouco depois,
como de costume.
Mandado buscar a casa, o Santos chegou uma meia hora depois. Entretanto, os
agentes terminaram a busca, sem encontrarem nada de relevante. Informado da
morte do Tomás Cerqueira, o Santos foi também submetido ao interrogatório do
inspetor João Velhote.
- A que horas deixou ontem o senhor Cerqueira?
- Minutos depois do Machado. O senhor Cerqueira tinha ido lavar as
cuvetes à casa de banho e veio pô-las em cima do frigorífico. Informei-o de que
na próxima semana tínhamos de tratar do IMI, despedi-me e saí, enquanto ele foi
novamente à casa de banho lavar o copo e a colher. Quando estava a vestir o
casaco, no vestíbulo, ouvi-o a fechar a porta do escritório à chave, como
sempre fazia.
- Gostava do seu patrão?
- Bem… A verdade é que ninguém gostava dele…
João Velhote mordiscou o lábio superior, expondo os incisivos inferiores
por baixo do bigode grisalho, como sempre fazia quando mentalmente resolvia
algum caso.
- Isto foi tudo bem imaginado, sem dúvida! Mas não o suficiente… Leve
este senhor detido para a esquadra!
DESAFIO
AO LEITOR
Caro leitor, até ao próximo dia 30 de julho, responda
a estas três questões: Quem mandou o inspetor
João Velhote deter? Como foi executado o homicídio do Tomás Cerqueira? Que
provas poderá o inspetor apresentar para consolidar a acusação?
Recordamos entretanto que, juntamente com a solução desta prova, deve
enviar a pontuação atribuída ao enigma que constituiu a prova inaugural do
torneio, da autoria de Daniel Gomes. E, já sabe, não se esqueça de identificar
a solução enviada com o seu nome (ou com o pseudónimo adotado).