O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 20 de agosto de 2019
TOMÁS CERQUEIRA MORREU POR ENVENENAMENTO
É hoje conhecida a solução de autor do enigma que constituiu a segunda
prova do nosso torneio de decifração. E com ela chega também o resultado das
performances dos “detetives”.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Solução da Prova nº. 2
“Whisky Mortal”, de Rigor Mortis
Manifestamente, Tomás Cerqueira tinha sido envenenado. Um veneno de ação
relativamente rápida e violenta – não havia, por exemplo, quaisquer sinais de
ele ter tentado usar o telefone, que estava mesmo ao pé, na mesinha ao lado do
sofá. Talvez cianeto.
O envenenamento teria ocorrido muito provavelmente ainda no sábado. A
autópsia comprová-lo-ia, mas o facto de ainda restar um pouco de whisky na
única garrafa aberta e de só terem sido usadas duas das seis cuvetes de gelo
indicava que a morte teria ocorrido ao princípio da noite de sábado.
O inspetor João Velhote pôs de lado a possibilidade de o Tomás Cerqueira
se ter suicidado. O facto de as buscas efetuadas pelos agentes não terem encontrado
nada relacionado com algum veneno foi determinante para tal. Além de que, se
ele tivesse querido suicidar-se por envenenamento, teria provavelmente
escolhido outro tipo de veneno, que provocasse menos dor, e teria tomado também
alguma droga que o pusesse a dormir, ou em estado letárgico.
A inexistência de outros relacionamentos pessoais do Tomás e a
circunstância de tudo se ter passado dentro de uma parte da moradia
completamente fechada por dentro, apenas com a sua presença, levava a
considerar que apenas três pessoas eram suspeitas, o José Machado, o Santos e o
Norberto Ávila.
Velhote pôs também de lado a hipótese de ter sido o Norberto o assassino.
Ele não estava na moradia quando, no sábado ao fim de manhã, o Tomás se tinha
fechado nos seus aposentos. E não o poderia ter visitado ao longo desse dia,
para o fazer ingerir o veneno, já que lhe teria sido impossível sair deixando
as portas e janelas fechadas por dentro. Além disso, os hábitos do Tomás eram
muito fortes, e as visitas do Norberto eram sempre aos domingos. No sábado
provavelmente nem o Tomás lhe abriria a porta.
Não podendo ter sido nas garrafas de whisky, nem nas de Perrier, umas e
outras abertas pelo próprio Tomás, o veneno foi colocado no gelo. Ou, mais
exatamente, no fundo das cuvetes ainda vazias, já que era sempre o próprio
Tomás a enchê-las e colocá-las no frigorífico. O facto de o envenenamento só
ter tido efeito ao fim da tarde de sábado indicava que nem todas as cuvetes
teriam sido envenenadas.
O Machado não teve oportunidade para isso. De acordo com o seu próprio
testemunho, e com o do Santos, o Machado saiu antes de o Tomás ter lavado as
cuvetes, pelo que se tivesse sido ele a lá colocar o veneno, este teria sido
lavado totalmente.
Mas o Santos teve essa oportunidade. Segundo o seu testemunho, o Tomás
colocou as cuvetes já lavadas em cima do frigorífico e tornou a ir à casa de
banho para lavar o copo e a colher. Foi nessa altura que ele se despediu e
saiu. Mas não precisaria mais do que alguns segundos para depositar o veneno numa
das cuvetes – cianeto em pó seria ideal para o propósito. Uma seria bastante,
mais do que suficiente se se tratasse de facto de cianeto. Plausivelmente,
aquela que João Velhote encontrou no frigorífico ainda meia cheia de cubos de
gelo.
O Tomás não terá visto o pó de veneno no fundo dos alvéolos da cuvete?
Estas eram de plástico branco, e o pó de cianeto é também branco…
O inspetor João Velhote estava seguro das suas deduções. E convicto de
que as investigações que ia mandar fazer a seguir as confirmariam: morte por
envenenamento, vestígios do veneno no copo usado pelo Tomás, existência do
mesmo veneno nos cubos de gelo da cuvete meio cheia, traços do mesmo nos
alvéolos vazios dessa mesma cuvete, talvez alguma impressão digital que não
fosse do morto…
O motivo do assassinato? O interrogatório com que tencionava ‘apertar’ o
Santos talvez o levasse a confessar o crime, mas Velhote tinha um
pressentimento… Na segunda-feira iniciaria um périplo pelos advogados que
tinham trabalhado com o Tomás Cerqueira, e pelos notários que este tivesse
usado. E talvez encontrasse um testamento feito recentemente, em que o velho
declarasse como seus herdeiros aqueles únicos três homens com quem ele de
alguma forma se relacionava.
Algo que o Santos, como seu secretário particular, certamente conheceria…
Pontuação/Classificação
(após a 2ª. Prova)
O envenenamento como causa da morte e a identificação do assassino não
escaparam à maioria dos concorrentes, mas boa parte dos “detetives” acabaram
por desperdiçar um ponto por não referirem a utilização das cuvetes de gelo no
processo de assassinato de Tomás Cerqueira. E outros houve que se
“atrapalharam” também na indicação do homicida e/ou do uso de veneno no crime,
perdendo ainda mais pontos, como se pode constatar na tabela classificativa que
se segue:
1º. Detetive Jeremias (13+12):
25 pontos;
2º. Búfalos Associados (10+13): 23 pontos;
3ºs. Inspetor Moscardo (11+11) e Rigor Mortis (12+10): 22 pontos;
5ºs. Carlota Joaquina (10+10), Ego (10+10), Holmes (10+10),
Inspetor Mucaba (10+10), Ma(r)ta Hari (10+10), Tempicos & Tempicas (10+10)
e Zé de Mafamude (10+10): 20 pontos;
12ºs. Abrótea (9+10), Broa de Avintes (10+9), Charadista (10+9), Donanfer II (10+9), Inspetor Guimarães (10+9), Mancha Negra (10+9)
e Pena Cova (10+9): 19 pontos;
19ºs. Arc. Anjo (10+8), Bernie Leceiro (10+8), Chico da Afurada (10+8),
Detetive Bruno (8+10), Detetive Vasoff (8+10) e Príncipe da Madalena (9+9): 18
pontos;
25ºs. Airam Semog (10+7), Amiga Rola (8+9), Beira Rio (9+8),
Dragão de Santo Ovídio (10+7), Haka Crimes (8+9), Martelo (8+9), Pequeno Simão
(8+9), Santinho da Ladeira (9+8), Talismã (9+8), Tó Fadista (8+9): 17 pontos;
35ºs. Bota Abaixo (8+8), Faina do Mar (8+8), Inspetor Madeira (9+7)
Inspetor Mostarda (8+8), Mascarilha
(8+8), Necas (9+7) e Solidário (8+8): 16
pontos;
42ºs. Agata Cristas (8+7), Mosca (8+7) e Vitinho (8+7): 15 pontos.
CONCURSO “MÃOS
À ESCRITA!”
As avaliações feitas pelos 44 solucionistas e pelo orientador da secção
ao enigma “Abílio Vai à Bola”, de Daniel Gomes, resultaram na seguinte
pontuação média final: 6,20 pontos. Falta agora saber qual a pontuação que os
nossos “detetives” atribuíram ao enigma “Whisky Fatal”.
O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 5 de agosto de 2019
UMA CRISE CONJUGAL EM TERRAS ALENTEJANAS
Enquanto o orientador se confronta com a tarefa de atribuição da
pontuação às propostas de solução apresentadas para a prova nº. 2 do torneio de
decifração “Solução à Vista!”, de que daremos conta na próxima edição da secção,
os nossos detetives conhecem hoje a prova que se segue, da autoria do confrade escalabitano Bigode. O enigma tem por protagonistas Gazua e Alavanka, que se confrontam
com uma crise conjugal motivada por um bloqueio no Facebook. Como sempre,
aconselha-se a todos os “detetives” a maior atenção na interpretação do
enunciado do enigma, desconfiando das suas aparentes facilidades, evitando
assim surpresas desagradáveis.
TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 3
“O Estranho Caso da Falsa
Mobilidade”, de Bigode
O agente Gazua regressara de mais uma missão da luta contra o crime.
Esperava no jeep que o camarada, subchefe Alavanka, viesse do bar com as
cervejas e o farnel para o lanche. Festejavam o sucesso da missão e o 45º.
aniversário do 25 de Abril.
Revivia mentalmente algumas das peripécias e argúcia utilizada, para
desmembrar a subtil rede ilegal, quando o ajudante entrou com o petisco, para o
lugar do pendura.
- Podemos seguir ─ disse para o
superior hierárquico.
Meia hora depois entravam na esquadra.
Na receção, à espera, estava uma senhora atraente. Interpelou o agente
Gazua deste modo peculiar:
- O senhor é o agente Gazua?
- O próprio, dona...?
- Maria.
Gazua apercebeu-se do ar inibido do subchefe, que presenciava a conversa,
e para desanuviar o ambiente, tomou a iniciativa de proceder às apresentações
estendendo o braço:
- O subchefe Alavanka, meu ajudante.
- Muito prazer... ─ disse Maria com um sorriso.
Alavanka retribuiu o cumprimento e acabou de arrumar a merenda no
frigorífico do bar, sentando-se depois à secretária para continuar a fazer, com
afinco, um relatório interrompido.
- Senhor Gazua, venho participar o
desaparecimento do meu cônjuge.
- Lamento muito, dona Maria. Quando foi que o caso se deu? ─ perguntou, enquanto abria a aplicação no computador.
- Fez um ano, no passado dia 2 de Abril.
O subchefe e Gazua entreolharam-se surpreendidos. Fleumático como uma
enumeração, perguntou:
- E só agora comunica a sua ausência?
- Sim. Na altura, falou-me irritado numa mudança do local de trabalho, de
Beja para Cuba. No princípio não parecia uma coisa descabida, porém a situação
criada pelo bloqueio…
- Continental? ─ Interrompeu Alavanka, que escutava com atenção.
- Não! Da amizade no facebook.
- Dona Maria, desculpe o meu ajudante. Em tempos, foi mestre de história,
e por vezes o trajeto do seu método de investigação tem alguns
desencaminhamentos pelo passado.
Teclou alguns apontamentos, e continuou.
- Qual a profissão do seu marido?
- Funcionário público.
- O bloqueio da sua amizade no “face”, como referiu, foi a ponta do
iceberg de algo inesperado?
O rosto moreno de Maria lampejou.
- Foi o emergir de uma traição bem camuflada.
O agente sentiu alguma apreensão.
- Possui alguns dados concretos que estejam na raiz dessa suspeita?
Maria pensou. Acendeu um cigarro e fitando o teto com um olhar vago, a
tocar ao de leve o azedume, afirmou:
- Não, mas há uma mentira. Soube por uma amiga que ele no dia da mudança
não trabalhou.
Gazua desarticulou ligeiramente uma repentina letargia e concentrou-se
solidamente no assunto.
Entretanto o subchefe perguntou:
- A senhora recorda-se de mais alguma coisa?
- Disse também com despropósito que iria ver o Fialho, que não conheço e
não faz parte do nosso círculo de amigos.
Uma dúvida genérica perturbou a ambiência da esquadra.
Dona Maria continuou a relatar o caso.
- Porém, senhor agente, preciso que ele assine os papéis do divórcio e
não sei onde o encontrar.
Gazua, compreensivo, disse com assentimento:
- Esteja tranquila minha senhora. Vamos agir dentro do que a nossa área
de atividade permitir, a fim de recolher a assinatura do seu ─ ainda ─
consorte, para que consiga alterar o seu estado civil.
Caros confrades:
a) - A Maria terá razão quando diz que no dia indicado pelo seu marido
ele não foi trabalhar?
b) - Qual será a identificação do Fialho?
c) - Assinalem as eventuais incongruências que detetem no enunciado do
problema.
DESAFIO
AO LEITOR
Caro leitor, responda às três alíneas, através de um relatório
justificativo das suas deduções, a enviar até ao próximo dia 30 de agosto, utilizando
um dos seguintes meios:
- por correio postal, para AUDIÊNCIA GP / O Desafio
dos Enigmas, rua do Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel –
Açores;
- por correio eletrónico, para salvadorpereirasantos@hotmail.com.
E, já sabe, não se esqueça de identificar a solução enviada com o seu
nome (ou pseudónimo). Recordamos entretanto que, juntamente com a solução deste
enigma, deve enviar a pontuação atribuída ao problema da segunda prova do
torneio, da autoria de Rigor Mortis.