O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 20 de novembro de 2019
DETETIVE JEREMIAS ISOLA-SE NA
LIDERANÇA A MEIO DO TORNEIO
Cumpridas que estão metade das provas, Detetive
Jeremias volta a isolar-se na frente da classificação do Torneio “Solução à
Vista!”, ao obter a pontuação máxima na decifração do enigma de Búfalos
Associados, que têm sido os seus principais opositores na disputa pela
liderança.
TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA!”
Solução da Prova nº. 5
“… E Também não é uma Cebola”, de
Búfalos Associados
No dia seguinte houve nova reunião em casa do inspetor Garrett para
apresentação das soluções dos desafios lógicos da véspera. Os resultados foram
brilhantes.
Começando pelo problema dos 31 fósforos, o inspetor apresentou a
seguinte dedução:
-“É evidente que o jogador que inicia o jogo pode garantidamente ganhar
se deixar sempre para o adversário quatro ou um múltiplo de quatro fósforos.
Assim na sua primeira jogada retira 3 fósforos deixando 28 para o adversário
jogar, portanto um múltiplo de 4. E vai repetir sempre o processo, de modo a
deixar sempre um múltiplo de 4 na mesa. Se o adversário tirar 1 fósforo ele
retira 3, se tirar 2 ele retira 2, se tirar 3 ele retira 1. Assim, o número de
fósforos em cima da mesa vai sendo sucessivamente de 28, 24, 20, 16, 12, 8 e 4.
Quando ficam apenas 4, o segundo jogador não pode evitar perder o jogo,
qualquer que seja a jogada que faça.
A seguir, ao ceder a primeira jogada ao inspetor, o Eugénio, na ânsia de
não perder, teve a esperteza saloia de mudar o número inicial de fósforos para
32, começando logo aí o processo dos múltiplos de 4. Só que isso acabou por
revelar o truque dos múltiplos de 4 que assim foi descoberto.
Quanto ao desafio da ilha do Pacífico, dos verdadeiros, dos mentirosos e
dos assim assim, a resposta é surpreendentemente fácil. Desde logo o primeiro a
responder, que diz ser FALK, não pode ser VERK porque se o fosse teria de falar
verdade e então não seria FALK. Mas também não pode ser FALK, porque se o fosse
estaria a ser verdadeiro o que não lhe seria permitido como FALK. Então é de
certeza ALTERN, e está a mentir.
O segundo, que diz ser ALTERN, está certamente a mentir porque o ALTERN
daquele grupo é o anterior. Logo é FALK e mente, claro. Por exclusão de partes
o terceiro só pode ser VERK. Nem precisou de falar.
Vejamos agora o segundo grupo de três. Quem poderá ser o VERK deste
grupo? O quarto e o quinto não podem ser, porque se o fossem estariam a mentir,
o que não é próprio dos VERK. Então só o sexto é que pode ser o VERK. E sendo
ele o que fala sempre verdade, é porque, como ele diz, o quarto é mesmo o
ALTERN do grupo, o qual, dessa vez, teria falado verdade mas como ALTERN.
Portanto o quinto que falou é que é o FALK, e mentiu, claro, quando disse ser
ALTERN.
Estes temas foram inspirados nas páginas DESAFIOS que, tal como as do
POLICIÁRIO, desapareceram inexplicavelmente das edições do jornal PÚBLICO dos
domingos.
E mais uma vez se prova que a lógica não é nem uma batata, nem uma
cebola... É lógica. E pode ser para todos.”
Foi a vez dos manos Cesário e Eugénio apresentarem a sua lista de
falsidades contidas na notícia do jornal. E foram seis:
01.- A viagem de circum-navegação, iniciada sob o comando de Fernão de
Magalhães, foi ao serviço e com o patrocínio do Rei de Espanha, Carlos I (mais
tarde Carlos V) e não ao serviço de Portugal e do Rei D. Manuel I, sendo
portanto abusivo dizer-se que honrou mais Portugal do que a Espanha.
02.- Tanto a partida como a chegada não tiveram nada a ver com Lisboa,
mas sim com Sevilha, ou melhor, com o porto de Sanlúcar de Barrameda, na foz do
rio Guadalquivir.
03.- Na partida saiu de facto uma armada de cinco navios e centenas de
mareantes, mas após as tremendas dificuldades ocorridas durante vários anos na
viagem, chegou a Espanha apenas um, de seu nome Victória, com dezoito
tripulantes num estado deplorável de doença e mal-nutrição.
04.- Fernão de Magalhães não concluiu a viagem não voltando pois à
Europa. Foi morto a meio da empresa, em combate, perto das atuais Filipinas e
substituído por um tripulante chamado Juan Sebastián Elcano que comandou a
partir daí.
05.- A chegada à Europa foi no dia 6 de Setembro de 1522 e não a 6 de
Outubro de 1582.
06.- O principal objetivo da viagem não terá sido provar que a terra era
redonda, coisa que já era conhecida na Europa e foi mesmo a razão da viagem.
Copérnico já o confirmara no princípio do século ao trabalhar na tese
heliocêntrica, a qual só viria a ser tornada pública em 1543 aquando da sua
morte. A viagem de circum-navegação iniciada por Magalhães veio no entanto
confirmar na prática o que já era sabido antes. Mas o principal objectivo era
assaltar as riquezas das Índias orientais, especiarias e outras, mas atingidas
navegando para ocidente para evitar encontros com os barcos portugueses. Um dos
feitos de Magalhães terá sido procurar e encontrar, navegando para Sul, o
estreito que hoje tem o seu nome e que permite passar do Atlântico Sul para o
Pacífico sem chegar aos mares gelados da Antártida.”
Aí o inspetor Garrett interrompeu para dizer aos jovens que afinal não
tinham investigado todos os pontos naquela frase. Havia mais uma falsidade e
muito importante, o que passava o número delas de seis para SETE. E concluiu:
“07.- A data indicada, a de 6 de Outubro de 1582, também nunca seria
possível pela simples razão de que essa data nunca existiu. Este é um truque
que já foi usado para apanhar os incautos em problemas policiais. Quando o Papa
Gregório XIII decretou a abolição do calendário Juliano, para acerto de datas,
o mundo passou do dia 5 de Outubro de 1582 do calendário Juliano para o dia 15
de Outubro do Gregoriano, tendo sido omitidos da História qualquer coisa como
os dez dias intermédios. Felizmente, a viagem de Magalhães tinha já ocorrido
cerca de sessenta anos antes. E aconteceu mesmo, apesar dos muitos problemas.”
Pontuações/Classificação
(após a 5ª. Prova)
A esmagadora maioria dos concorrentes não teve dificuldades em resolver
os jogos dos fósforos ou os desafios da ilha do Pacífico. Porém, algumas das
falsidades contidas na notícia da viagem de circum-navegação escaparam à
perspicácia de mais de metade dos nossos detetives. E poucos referiram que a data
6 de Outubro de 1582 nunca existiu... E assim vai a classificação:
1º. Detetive Jeremias (49+13):
62 pontos;
2º. Búfalos Associados (49+12): 61 pontos;
3º. Inspetor Moscardo (42+11): 53 pontos;
4ºs. Ego (41+10) e Tempicos & Tempicas (41+10): 51 pontos;
6º. Rigor Mortis (40+10): 50 pontos;
7º. Zé de Mafamude (39+10): 49 pontos;
8ºs. Donanfer II (38+10), Inspetor Mucaba (38+10) e Ma(r)ta Hari (38+10):
48 pontos;
11ºs. Bernie Leceiro (36+10) e Carlota Joaquina (36+10): 46
pontos;
13ºs. Holmes (35+9) e Mancha Negra (35+9): 44 pontos;
15ºs. Bota Abaixo (33+10), Charadista (33+10), Martelo (34+9),
Mascarilha (33+10), Mosca (33+10) e Pena Cova (34+9): 43 pontos;
21ºs. Chico da Afurada (34+8), Detetive Bruno (33+9), Detetive
Vasoff (33+9), Faina do Mar (34+8), Haka Crimes (33+9), Inspetor Madeira
(32+10), Príncipe da Madalena (34+8), Necas (33+9) e Talismã (34+8): 42 pontos;
30ºs. Dragão de Santo Ovídio (32+9), Inspetor Guimarães (33+8),
Inspetor Mostarda (32+9) e Tó Fadista (32+9): 41 pontos;
34ºs. Abrótea (35+5), Amiga Rola (32+8), Arc. Anjo (33+7), Beira
Rio (32+8) e Broa de Avintes (33+7): 40 pontos;
39ºs. Agata Cristas (30+9), Pequeno Simão (31+8), Solidário (31+8)
e Vitinho (30+9): 39 pontos;
43º. Santinho da Ladeira (31+7): 38 pontos;
44º. O Madeirense (20+10): 30 pontos;
45ºs. Moura Encantada (18+10) e Oluap Snitram (18+10): 28 pontos;
47º. Airam Semog (26+0): 26 pontos.
CONCURSO “MÃOS
À ESCRITA!”
As avaliações feitas pelos solucionistas em prova e pelo orientador da
secção ao enigma “O Caso do
Capitão Venâncio” do confrade A. Raposo, resultaram na seguinte
pontuação média final: 8,20 pontos. Desta forma, quando ainda são apenas
conhecidas as pontuações atribuídas a quatro dos nove enigmas a concurso, a
tabela classificativa está assim ordenada:
1º. “Whisky Fatal”, de Rigor Mortis: 8,40 pontos;
2º. “O
Caso do Capitão Venâncio”, de A. Raposo: 8,20.
3. “O Estranho Caso da Falsa
Mobilidade”, de Bigode: 7,60 pontos;
4º. “Abílio Vai à Bola”, de Daniel Gomes: 6,20 pontos.
O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 5 de novembro de 2019
UM NOVO CONCURSO
DE CONTOS POLICIAIS EM MARCHA
Com os nossos torneios de decifração e de produção de enigmas policiais
em velocidade de cruzeiro, preparamo-nos agora para dar inicio a um novo
concurso de contos. “Um Caso Policial em Gaia” continuará a ser o mote da
segunda edição deste concurso, que terá como única
obrigação temática o local da ação dos trabalhos, que deverão ocorrer neste
concelho do norte do país situado a sul da cidade do Porto. E para que os
potenciais concorrentes possam começar desde já a produzir os seus originais,
podemos também adiantar que o concurso está aberto a todos, sem quaisquer
condicionalismos de idade ou nacionalidade, que se queiram aventurar na escrita
de ficção policial, podendo apresentar mais do que um original desde que o
façam com pseudónimos diferentes.
Acrescentamos ainda que os
trabalhos deverão ser escritos em língua portuguesa e ter obrigatoriamente o
mínimo de duas páginas de formato A4 e o máximo de quatro, escritas a 1,5
espaços, na fonte Times New Roman e com o corpo de letra 12. Por último, duas
informações fundamentais: 1) os originais a concurso podem ser enviados a
partir de 1 de janeiro do próximo ano, através do email do orientador da secção
(salvadorpereirasantos@hotmail.com); 2) a avaliação será feita pelos
próprios leitores do AUDIÊNCIA GP, que pontuarão cada conto logo após a sua
publicação, numa escala de 5 a 10 pontos, em função da qualidade e originalidade.
Em próximas edições explicaremos melhor este processo. Para já, o que importa é
ir deitando mãos à escrita...
Entretanto, prosseguem os nossos torneios em
curso, com a publicação do enigma que constitui a prova nº. 6 de “Solução à
Vista!”, de um dos mais destacados policiaristas nacionais:
TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 6
“Crime Leaks”, de Daniel Falcão
Gustavo Santos está sentado, numa solarenga manhã de domingo, na
esplanada do Café-Restaurante Sítio do Costume. Continua a rodar a colher
dentro da chávena defronte de si, enquanto observa com alguma curiosidade a
primeira página do jornal Matutino, pousado sobre a mesa.
Nos últimos dias, as notícias daquele teor têm surgido a conta-gotas. Dia
após dia iam sendo libertados fragmentos de relatórios criminais. “Crime
Leaks”, assim era apelidada pelos meios noticiosos estas fugas de informação.
Mais um “leak” a juntar-se a vários outros, o que levava muitos a perguntarem
sobre qual seria o próximo, numa época em que tudo vinha a público, mesmo as
informações mais privadas.
Gustavo Santos abre o jornal e lê atentamente a mais recente fuga de
informação que aparece reproduzida na terceira página. O texto em causa divulga
informações, que deviam ser confidenciais, sobre o homicídio de Manuel José
Carvalho, ocorrido em finais de dezembro de 2018.
Pela leitura do texto publicado, ficava-se a saber que a vítima fora
encontrada no seu escritório pelo companheiro. Este afirmara que, assim que
deparou com o corpo, imediatamente ligara às autoridades. Os agentes destacados
para o local não tiveram dificuldade em concluir, pelas peças partidas, pelos
móveis deslocados e pelos papéis espalhados pelo chão, que ali ocorrera uma
violenta disputa. Disputa que teria terminado com a vítima a ser fortemente
golpeada na cabeça com o pisa-papéis, encontrado mesmo ao lado do corpo.
Alexandre Miguel Duarte, assim se chamava o companheiro da vítima,
declarara que naquela noite saíra com uns amigos comuns, mas que o Manuel
ficara em casa, pois tinha agendado receber uns clientes, situação que ocorria
com alguma frequência. Acrescentara ainda que, ao chegar a casa, pouco depois
da meia-noite, se apercebera que o companheiro ainda estaria no escritório,
pois a luz estava acesa. Decidira não interromper e subira para o quarto,
situado no primeiro andar, adormecendo mal se deitara na cama. Seriam umas
cinco horas da manhã quando acordou e reparou que o Manuel ainda não se
deitara. O que achou estranho. Desceu as escadas, bateu à porta do escritório
e, como a luz continuava acesa e não teve qualquer resposta, abriu a porta e entrou.
Foi nessa altura que deparou com o escritório todo desarrumado e com o corpo do
companheiro.
Segundo o relatório policial, a vítima tinha próximo da sua mão esquerda
uma magnífica espátula para abrir cartas, com cabo em madrepérola e lâmina em
tartaruga natural. Desta vez, a espátula teria servido para marcar o soalho com
o que parecia ser um número: 942. Qual seria o seu significado? Era algo que
ainda estava por esclarecer. Se é que significava alguma coisa.
O agente responsável chegou a questionar o companheiro da vítima, ainda
no local, sobre quem seria a pessoa ou pessoas com quem Manuel José Carvalho
tinha agendado reunir. Num primeiro instante, o inquirido manifestou
desconhecimento. Logo depois acrescentou que, nos últimos dias, havia alguns
assuntos que ocupavam muito do tempo do companheiro, envolvendo dois clientes:
Francisco João Sá e Isidro Diogo Baganha. Suspeitava que a reunião teria sido
marcada com algum deles, mas não sabia qual.
As últimas informações disponíveis sobre este caso referiam que o
companheiro da vítima, segundo as suas próprias declarações, saíra de casa
pouco depois das oito horas, tendo chegado ao local do encontro, a cerca de uma
dezena de quilómetros, cerca de meia hora depois, pois era muito cuidadoso na
condução.
Gustavo Santos leu e releu os elementos agora divulgados e começava a ter
uma ideia do que sucedera na noite do crime.
DESAFIO AO LEITOR
E o leitor também tem alguma teoria? Em caso afirmativo, desenvolva essa
teoria, sustentando-a com os factos disponíveis. E envie depois o respetivo
relatório para o organizador da secção, até ao próximo dia 30 de novembro,
através dos seguintes meios:
- por correio postal, para AUDIÊNCIA GP / O Desafio
dos Enigmas, rua do Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel –
Açores;
- por correio eletrónico, para
salvadorpereirasantos@hotmail.com.
E, já sabe, não se esqueça de identificar a solução enviada com o seu
nome (ou pseudónimo adotado), nem de remeter juntamente a pontuação atribuida
ao enigma “… E Também não é uma Cebola“, de Búfalos Associados, para efeitos de
classificação no concurso “Mãos à Escrita!”.