o desafio dos enigmas
Publicamos na
íntegra o conto nº. 13 do concurso “Um Caso Policial em Gaia”. Os leitores que
desejem participar na escolha dos melhores contos, podem enviar a pontuação (5
a 10 pontos) atribuída a “Janela Indiscreta”, de Hayes, até dia 20 de abril de
2021.
CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM GAIA”
Conto nº. 13
“Janela Indiscreta”, de Hayes
Antes de mais, devo informar o leitor. O que aqui se relata não é um
verdadeiro caso policial em Gaia, mas sim um caso quase policial. Isto, porque
foi por uma unha negra que a situação não foi denunciada e a polícia chamada a
intervir.
Esta é também uma descrição de acontecimentos passados há vários anos e é
apenas aquilo que recordo dos factos no momento em que escrevo. Tenho uma
memória boa para detalhes sem interesse, mas péssima para aspetos gerais e
datas. No entanto, sei que tudo se passou em 2004, ano em que o europeu de
futebol arrebatou o país.
E a história começa aqui.
Um trabalho académico levou-me por acaso a Gaia, durante duas semanas.
Teria de fazer uma recolha de dados, que se previa diária, no hospital de São
João no Porto. Uns amigos, de uns amigos, disponibilizaram-me alojamento
gratuito em Gaia. Era uma oferta irrecusável, que aceitei de imediato. Julgava
eu que ia ter as tardes livres para vaguear por esta margem esquerda do Douro,
zona para mim completamente desconhecida. Os chamados destinos turísticos nunca
me entusiasmaram, por isso, com exceção da praia da Granja e da capela do
Senhor do Monte − locais para mim misteriosos −, constavam da minha lista os
sítios indicados por amigos conhecedores: “onde se come a melhor…”, “uns
azulejos únicos”, “um pôr do sol magnífico”...
À chegada, a rua onde fiquei instalada pareceu-me sombria, apesar da
luminosidade do dia. Era uma ruazinha sem qualquer movimento, estreita e
comprida, percorrida por um muro granítico num dos lados e por casas baixas do
outro. Oficinas velhas e armazéns desativados alternavam com casas de
habitação, algumas recuperadas. Os prédios estavam alinhados, com um ar
bem-comportado, talvez por causa da simetria das portas e janelas com bandeira,
ou devido à cor repetida das fachadas e dos caixilhos, que me fazia lembrar o
tom rubi do vinho do Porto e o verde das garrafas do vinho de mesa. Cores que
estavam em sintonia com as bandeiras portuguesas dependuradas por todo lado,
num assomo de patriotismo nunca mais visto. A rua desembocava num largo,
ironicamente minúsculo. A minha casa ficava mesmo no final, diante de uma
pequena mercearia, um posto de venda de tudo, como vim a descobrir. Quem me
cedeu a casa, depois do inevitável caloroso acolhimento nortenho, entregou-me a
chave e deixou-me duas recomendações, uma delas acompanhada de uma sonora
gargalhada trocista: evitar andar sozinha na rua a desoras, por causa dos
dealers, e evitar pedir uma bica nos cafés.
Tudo estava bem encaminhado e tranquilo. Nessa altura eu antevia algum
trabalho, mas com espaço para usufruir de tempo livre.
No dia seguinte, tudo se precipitou. Os dados que era suposto recolher
foram-me entregues numa volumosa pasta A4. A primeira fase do trabalho afinal tinha
sido fotocopiada, passando eu à etapa seguinte de seleção e introdução de
dados, para posterior tratamento estatístico. Poderia ter regressado à minha
cidade, mas nem sei porquê decidi aproveitar a vantajosa tranquilidade de estar
sozinha. O dia a dia decorria sem qualquer rotina, condicionado pela
resistência ao cansaço. Tanto ficava a teclar pela noite fora e tentava dormir
um pouco durante o dia, como me levantava com o nascer do sol. Obrigava-me a
fazer pausas regulares, porque sei que é fácil uma pessoa embrenhar-se no que
está a fazer, saltar refeições e esquecer o descanso, o que normalmente leva a
erros fatais que obrigam a refazer etapas de trabalho. Estas interrupções eram
passadas numa janela de sacada, com uma vista privilegiada sobre o pequeno
largo e o posto de venda. Este, mais parecia uma antiga mercearia − onde tudo
se vende, desde bilhas de gás a agulhas e linhas para costura − funcionava como
catedral de consumo para os raros clientes de passagem e para os moradores das
três ruazinhas que confluíam no largo.
Ao fim de uma semana consegui descobrir um padrão nos frequentadores da
loja/café/taberna. O dono, com o seu bigode farfalhudo, chegava pontualmente às
seis da manhã, recebia a carrinha do padeiro. De seguida, com dotes de equilibrista,
alinhavava contra a fachada do prédio, um expositor com frutas e legumes e
montava a esplanada, três mesinhas antiquadas e alguns bancos de ferro
desdobráveis. Então, apareciam os primeiros fregueses para uma bica rápida.
Eram trabalhadores da construção civil, que vinham numa carrinha de caixa
aberta, ou usavam as duas rodas como transporte próprio. Depois, era a vez das
mulheres com ar atarefado, que despachavam as compras ou tomavam café em menos
de um fósforo. As reformadas chegavam mais tarde, a partir das nove e meia.
Tomavam o pequeno almoço e escolhiam cuidadosamente as batatas, com vagares de
quem nada tem para fazer.
Os reformados homens surgiam uma hora mais tarde. Espalhavam-se pelas
mesas, e pela gaiola que guardava as garrafas de gás, e disputavam a posse do
Jornal de Notícias e dos jornais desportivos. Este grupo regressava à tarde
para jogar às cartas ou ao dominó. As discussões e as zangas eram inevitáveis,
mas despediam-se amigos até ao dia seguinte.
Durante a tarde, o ritmo da clientela abrandava até finalizar com alguns
homens da vizinhança, para um último fino antes de regressarem ao doce lar.
Dentro de este inesperado corrupio, chamou-me à atenção um grupo que se
reunia com ar conspirativo, sempre pouco depois das seis da tarde. Passei
também a fixar a minha pausa para esta altura. Eram meia dúzia de miúdos com um
aspeto rufia, mas ao mesmo tempo eram bem-comportados em demasia. Deslocavam-se
em silêncio, com discrição, sem as confusões frequentes em crianças. Só o mais
alto entrava no estabelecimento, para sair logo de seguida com uma caixa
pequena de cartão. Longe de olhares indiscretos, juntavam-se em círculo com as
cabeças bem encostadas sobre a caixa de cartão. Durante cerca meia hora
seguia-se um estranho ritual do que me parecia uma distribuição de qualquer
coisa, com registo individual em cadernos ou folhas soltas. Todo este clima
misterioso obrigou-me a aproveitar a máquina fotográfica, destinada dos meus
tempos livres em Gaia, para testemunhar as atividades do grupo. Eram afinal
cinco rapazes e uma rapariga, que não teriam mais de dez anos. Dois deles, os
mais pequenos, eram gémeos iguaizinhos que vestiam sempre a camisola do
Maniche, a rapariga era lingrinhas e usava o cabelo bem esticado num rabo de
cavalo no cocuruto da cabeça. Havia ainda um ruivo sardento com óculos de aros
pretos e, por fim, o miúdo mais alto, que eu julgava ser o mais velho. Este, à
chegada, transportava um saco plástico com qualquer coisa que pelo tamanho
parecia um volumoso maço de notas. O saco desaparecia no interior da loja e em
seu lugar vinha a caixa de cartão e seguia-se o concílio acima descrito. No
final, o rapaz alto devolvia a caixa à procedência. Chegavam juntos e partiam
separados, levando cada um o respetivo avio.
Não tive qualquer dúvida. Os miúdos estavam a ser usados para passar
droga, e da pesada, pelo menos a julgar pela quantidade de notas que
entregavam. Esta situação repugnante teria de ser denunciada ou resolvida.
Pensei falar com o dono da loja, mas receei que estivesse metido na negociata,
apesar do ar inofensivo e da simpatia com que me entregava a bica matinal.
Uma tarde, embrenhada nesta indecisão e sem saber o que fazer, observava
uma vez mais a cena da distribuição do produto, quando estalou uma confusão no
grupo. Peguei no telemóvel, desci a correr as escadas e atravessei a rua. Foi o
tempo para ver a discussão passar a briga, enquanto o alto enfiava um gancho no
ruivo caixa de óculos e a miúda tentava, em vão, acalmar os ânimos. No chão
espalhava-se a papelada e o conteúdo da caixa de cartão: cromos da Caderneta
UEFA - EURO 2004.
Tudo ficou esclarecido. O saco plástico do dinheiro era afinal um lote de
cromos repetidos, para ser entregue ao madrugador padeiro que se encarregaria
de os levar para outras lojas da concorrência. A caixa de cartão tinha um
perigoso produto a ser traficado − os cromos deixados no posto de venda por diversos clientes. A
reunião de grupo secreta não passava de uma sessão para ordenar os cromos e
distribuir os números em falta, tudo devidamente anotado em folhas de registo
de cada proprietário. Os elementos do perigoso gang chegavam juntos, porque
frequentavam um centro de férias próximo, de onde saíam às seis com os cromos,
próprios e de colegas, acondicionados num saco plástico. Partiam separados porque
moravam por ali perto, em ruas distintas. Entravam mudos e saíam calados,
porque o Bigodes, o dono da loja, não queria confusões e a cada edição das
cadernetas Panini ameaçava com o fim do negócio. O Girafa enfiou um murro no
Cenoura, porque este o acusara de ter amarrotado o cromo do Cristiano Ronaldo.
Afinal tudo acabou bem. Não foi preciso pôr fim a um negócio de droga e
os óculos do Cenoura ganharam mais um pedaço de adesivo para fixar as maleitas.
Eu levei o Ronaldo para casa, com a promessa de o devolver no dia
seguinte, devidamente passado a ferro a vapor, com um truque que eu cá sei.
Posto isto, e a quem possa interessar, só posso acrescentar que nesse ano
terminei a parte escrita do meu trabalho final, mas ainda hoje continuo sem
conhecer nada de Gaia e arredores.
QUAL SERÁ O CONTO VENCEDOR? A DECISÃO É
DOS LEITORES
Concluímos nesta edição o último conto do concurso “Um Caso Policial em Gaia”, que tem por protagonista uma jovem deslocada no norte do país, por um período de duas semanas, para a realização de um trabalho académico no hospital de São João, no Porto. Por deferência de uns amigos, ela ficou alojada em Gaia, numa casa com uma vista privilegiada sobre um pequeno largo e uma antiga mercearia. As pausas no seu trabalho de casa eram passadas numa janela de sacada, onde foi apreciando o corrupio de clientes que frequentavam aquela loja. Os primeiros fregueses para um cimbalino rápido eram habitualmente trabalhadores da construção civil, que vinham numa carrinha de caixa aberta, ou usavam as duas rodas como transporte próprio. Depois, era a vez das mulheres com ar atarefado, que despachavam as compras ou tomavam café em menos de um fósforo. As reformadas chegavam mais tarde, a partir das nove e meia. Os reformados homens surgiam uma hora mais tarde. Espalhavam-se pelas mesas, e pela gaiola que guardava as garrafas de gás, e disputavam a posse do Jornal de Notícias e dos jornais desportivos. Este grupo regressava à tarde para jogar às cartas ou ao dominó. As discussões e as zangas eram inevitáveis, mas despediam-se amigos até ao dia seguinte. Mas havia muito mais, como se pode ler de seguida:
CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM
GAIA”
Conto nº. 13
“Janela Indiscreta”, de Hayes
II – Parte (conclusão)
Dentro de este inesperado corrupio, chamou-me à atenção um grupo que se
reunia com ar conspirativo, sempre pouco depois das seis da tarde. Passei
também a fixar a minha pausa para esta altura. Eram meia dúzia de miúdos com um
aspeto rufia, mas ao mesmo tempo eram bem-comportados em demasia. Deslocavam-se
em silêncio, com discrição, sem as confusões frequentes em crianças. Só o mais
alto entrava no estabelecimento, para sair logo de seguida com uma caixa
pequena de cartão. Longe de olhares indiscretos, juntavam-se em círculo com as
cabeças bem encostadas sobre a caixa de cartão. Durante cerca meia hora
seguia-se um estranho ritual do que me parecia uma distribuição de qualquer
coisa, com registo individual em cadernos ou folhas soltas. Todo este clima
misterioso obrigou-me a aproveitar a máquina fotográfica, destinada dos meus
tempos livres em Gaia, para testemunhar as atividades do grupo. Eram afinal
cinco rapazes e uma rapariga, que não teriam mais de dez anos. Dois deles, os
mais pequenos, eram gémeos iguaizinhos que vestiam sempre a camisola do
Maniche, a rapariga era lingrinhas e usava o cabelo bem esticado num rabo de
cavalo no cocuruto da cabeça. Havia ainda um ruivo sardento com óculos de aros
pretos e, por fim, o miúdo mais alto, que eu julgava ser o mais velho. Este, à
chegada, transportava um saco plástico com qualquer coisa que pelo tamanho
parecia um volumoso maço de notas. O saco desaparecia no interior da loja e em
seu lugar vinha a caixa de cartão e seguia-se o concílio acima descrito. No
final, o rapaz alto devolvia a caixa à procedência. Chegavam juntos e partiam
separados, levando cada um o respetivo avio.
Não tive qualquer dúvida. Os miúdos estavam a ser usados para passar
droga, e da pesada, pelo menos a julgar pela quantidade de notas que entregavam.
Esta situação repugnante teria de ser denunciada ou resolvida. Pensei falar com
o dono da loja, mas receei que estivesse metido na negociata, apesar do ar
inofensivo e da simpatia com que me entregava a bica matinal.
Uma tarde, embrenhada nesta indecisão e sem saber o que fazer, observava
uma vez mais a cena da distribuição do produto, quando estalou uma confusão no
grupo. Peguei no telemóvel, desci a correr as escadas e atravessei a rua. Foi o
tempo para ver a discussão passar a briga, enquanto o alto enfiava um gancho no
ruivo caixa de óculos e a miúda tentava, em vão, acalmar os ânimos. No chão
espalhava-se a papelada e o conteúdo da caixa de cartão: cromos da Caderneta
UEFA - EURO 2004.
Tudo ficou esclarecido. O saco plástico do dinheiro era afinal um lote de
cromos repetidos, para ser entregue ao madrugador padeiro que se encarregaria
de os levar para outras lojas da concorrência. A caixa de cartão tinha um
perigoso produto a ser traficado − os cromos deixados no posto de venda por diversos clientes. A
reunião de grupo secreta não passava de uma sessão para ordenar os cromos e
distribuir os números em falta, tudo devidamente anotado em folhas de registo
de cada proprietário. Os elementos do perigoso gang chegavam juntos, porque
frequentavam um centro de férias próximo, de onde saíam às seis com os cromos,
próprios e de colegas, acondicionados num saco plástico. Partiam separados
porque moravam por ali perto, em ruas distintas. Entravam mudos e saíam
calados, porque o Bigodes, o dono da loja, não queria confusões e a cada edição
das cadernetas Panini ameaçava com o fim do negócio. O Girafa enfiou um murro
no Cenoura, porque este o acusara de ter amarrotado o cromo do Cristiano
Ronaldo.
Afinal tudo acabou bem. Não foi preciso pôr fim a um negócio de droga e
os óculos do Cenoura ganharam mais um pedaço de adesivo para fixar as maleitas.
Eu levei o Ronaldo para casa, com a promessa de o devolver no dia
seguinte, devidamente passado a ferro a vapor, com um truque que eu cá sei.
Posto isto, e a quem possa interessar, só posso acrescentar que nesse ano terminei a parte escrita do meu trabalho final, mas ainda hoje continuo sem conhecer nada de Gaia e arredores.
CONVITE AO LEITOR
E pronto, caro leitor. Agora o passo seguinte é seu. Para tal, repetimos
o nosso convite à sua participação na escolha dos melhores contos. O processo é
simples. A partir de hoje, tem trinta (30) dias para fazer a avaliação, em
função da sua qualidade e originalidade, do décimo-terceiro conto do nosso
concurso, da autoria de Hayes, e enviar a respetiva pontuação, numa escala de 5
a 10 pontos, para o email do orientador da secção
(salvadorpereirasantos@hotmail.com).
Após esta última pontuação, atualizaremos a classificação do concurso, liderada por Rui Mendes quando era apenas
conhecido o veredito do Júri sobre os primeiros nove contos publicados. Entretanto,
enquanto aguardamos pelo escrutínio final dos nossos leitores-jurados, daremos
inicio ao Torneio de Iniciação A. Raposo, que nos acompanhará até final do ano
em curso.
O DERRADEIRO
CONTO DO NOSSO CONCURSO AÍ ESTÁ
Desvendamos nesta edição a primeira parte do último conto do concurso “Um Caso Policial em Gaia”, da autoria de uma das nossas mais brilhantes solucionistas e imaginativas produtoras policiárias que se esconde atrás de um pseudónimo que nos traz à memória uma escritora policial que sugerimos para leituras futuras, a inglesa Samantha Hayes, que escreve sobretudo thrillers psicológicos ambientados na vida familiar e focados em assuntos do quotidiano (“Até que Sejas Minha” é o seu livro de maior êxito até ao momento). Mas a Hayes que assina o conto derradeiro da nossa competição é outra, é nossa, é portuguesa, e apresenta-nos hoje a sua mais recente micro narrativa, que não deixará ninguém indiferente, sobretudo os nossos leitores-jurados. Ora, leiam:
CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM
GAIA”
Conto nº. 13
“Janela Indiscreta”, de Hayes
I – Parte
Antes de mais, devo informar o leitor. O que aqui se relata não é um
verdadeiro caso policial em Gaia, mas sim um caso quase policial. Isto, porque
foi por uma unha negra que a situação não foi denunciada e a polícia chamada a
intervir.
Esta é também uma descrição de acontecimentos passados há vários anos e é
apenas aquilo que recordo dos factos no momento em que escrevo. Tenho uma
memória boa para detalhes sem interesse, mas péssima para aspetos gerais e
datas. No entanto, sei que tudo se passou em 2004, ano em que o europeu de
futebol arrebatou o país.
E a história começa aqui.
Um trabalho académico levou-me por acaso a Gaia, durante duas semanas.
Teria de fazer uma recolha de dados, que se previa diária, no hospital de São
João no Porto. Uns amigos, de uns amigos, disponibilizaram-me alojamento
gratuito em Gaia. Era uma oferta irrecusável, que aceitei de imediato. Julgava
eu que ia ter as tardes livres para vaguear por esta margem esquerda do Douro,
zona para mim completamente desconhecida. Os chamados destinos turísticos nunca
me entusiasmaram, por isso, com exceção da praia da Granja e da capela do
Senhor do Monte − locais para mim misteriosos −, constavam da minha lista os
sítios indicados por amigos conhecedores: “onde se come a melhor…”, “uns
azulejos únicos”, “um pôr do sol magnifico”...
À chegada, a rua onde fiquei instalada pareceu-me sombria, apesar da
luminosidade do dia. Era uma ruazinha sem qualquer movimento, estreita e
comprida, percorrida por um muro granítico num dos lados e por casas baixas do
outro. Oficinas velhas e armazéns desativados alternavam com casas de
habitação, algumas recuperadas. Os prédios estavam alinhados, com um ar bem
comportado, talvez por causa da simetria das portas e janelas com bandeira, ou
devido à cor repetida das fachadas e dos caixilhos, que me fazia lembrar o tom
rubi do vinho do Porto e o verde das garrafas do vinho de mesa. Cores que
estavam em sintonia com as bandeiras portuguesas dependuradas por todo lado,
num assomo de patriotismo nunca mais visto. A rua desembocava num largo,
ironicamente minúsculo. A minha casa ficava mesmo no final, diante de uma
pequena mercearia, um posto de venda de tudo, como vim a descobrir. Quem me
cedeu a casa, depois do inevitável caloroso acolhimento nortenho, entregou-me a
chave e deixou-me duas recomendações, uma delas acompanhada de uma sonora
gargalhada trocista: evitar andar sozinha na rua a desoras, por causa dos
dealers, e evitar pedir uma bica nos cafés.
Tudo estava bem encaminhado e tranquilo. Nessa altura eu antevia algum
trabalho, mas com espaço para usufruir de tempo livre.
No dia seguinte, tudo se precipitou. Os dados que era suposto recolher
foram-me entregues numa volumosa pasta A4. A primeira fase do trabalho afinal
tinha sido fotocopiada, passando eu à etapa seguinte de seleção e introdução de
dados, para posterior tratamento estatístico. Poderia ter regressado à minha
cidade, mas nem sei porquê decidi aproveitar a vantajosa tranquilidade de estar
sozinha. O dia a dia decorria sem qualquer rotina, condicionado pela
resistência ao cansaço. Tanto ficava a teclar pela noite fora e tentava dormir
um pouco durante o dia, como me levantava com o nascer do sol. Obrigava-me a
fazer pausas regulares, porque sei que é fácil uma pessoa embrenhar-se no que
está a fazer, saltar refeições e esquecer o descanso, o que normalmente leva a
erros fatais que obrigam a refazer etapas de trabalho. Estas interrupções eram
passadas numa janela de sacada, com uma vista privilegiada sobre o pequeno
largo e o posto de venda. Este, mais parecia uma antiga mercearia − onde tudo
se vende, desde bilhas de gás a agulhas e linhas para costura − funcionava como
catedral de consumo para os raros clientes de passagem e para os moradores das
três ruazinhas que confluíam no largo.
Ao fim de uma semana consegui descobrir um padrão nos frequentadores da
loja/café/taberna. O dono, com o seu bigode farfalhudo, chegava pontualmente às
seis da manhã, recebia a carrinha do padeiro. De seguida, com dotes de
equilibrista, alinhavava contra a fachada do prédio, um expositor com frutas e
legumes e montava a esplanada, três mesinhas antiquadas e alguns bancos de
ferro desdobráveis. Então, apareciam os primeiros fregueses para uma bica
rápida. Eram trabalhadores da construção civil, que vinham numa carrinha de
caixa aberta, ou usavam as duas rodas como transporte próprio. Depois, era a
vez das mulheres com ar atarefado, que despachavam as compras ou tomavam café
em menos de um fósforo. As reformadas chegavam mais tarde, a partir das nove e
meia. Tomavam o pequeno almoço e escolhiam cuidadosamente as batatas, com
vagares de quem nada tem para fazer.
Os reformados homens surgiam uma hora mais tarde. Espalhavam-se pelas
mesas, e pela gaiola que guardava as garrafas de gás, e disputavam a posse do
Jornal de Notícias e dos jornais desportivos. Este grupo regressava à tarde
para jogar às cartas ou ao dominó. As discussões e as zangas eram inevitáveis,
mas despediam-se amigos até ao dia seguinte.
Durante a tarde, o ritmo da clientela abrandava até finalizar com alguns
homens da vizinhança, para um último fino antes de regressarem ao doce lar.
(continua na próxima edição)
Publicamos na
íntegra o conto nº. 12 do concurso “Um Caso Policial em Gaia”. Os leitores que
desejem participar na escolha dos melhores contos, podem enviar a pontuação (5
a 10 pontos) atribuída a “Aconteceu em Gaia”, de Abrótea, até dia 20 de março
de 2021.
CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM GAIA”
Conto nº. 12
“Aconteceu em Gaia...”, de Abrótea
Tinha tudo bem preparado, pelo menos assim eu
pensava, apenas faltava fazer a última viagem, depois... bem, depois livre como
um passarinho. Mas comecemos pelo princípio e não pelo final. Tinha “montes” de
clientes, e isso deu azo a acontecimentos que deixaram marcas, e um dia
aconteceu o que tinha de acontecer.
A partir de certas situações, passava e
passeava a última semana do mês pelo norte, mais propriamente em Vila Nova de
Gaia. O hotel espantoso, o quarto, esse, “maravilhástico”, vista para o Douro,
e aquela beleza dos rabelos, a subir e descer o rio entre as margens, as
encostas vinhateiras, que na altura da vindima se enchiam de gente
trabalhadeira. O pôr-do-sol, esse era sempre espetacular, ainda avistávamos as
pontes, sempre com aquele trânsito, para cá e para lá. Bem perto de onde me
alojava tínhamos as caves, a Mara, minha esposa, e o Baixinho o filhote nunca
as tinham visitado. Ainda pensava em duas ou três coisas, uma delas que
tropeçasse no cadeirão do varandim, mas isso sempre tinha gente na piscina, ou
até também a observar o rio majestoso, outra ideia fora a do convento Corpus
Christi...
Mas de repente surgiu a outra, e foi essa que
levei avante. Durante dois anos foi assim, de domingo a sexta-feira eram os
passeios, as festarias, conhecer as praias, bailaricos de bairro e tantas
outras coisas. Sabia que a Mara andava chateada, e com razão, nunca estava em
casa nem mesmo pelo Natal, Páscoa ou aniversários, isto porque eu falava “tenho
muito serviço”, “o chefe não me deixa entrar de férias”, “são clientes
especiais”, e afinal uma das clientes era bastante especial ou espacial. Levei
dois anos, cento e quatro semanas, dessas semanas tirava um dia para
investigar, ver e rever todos os locais prováveis e possíveis para colocar em
prática o meu plano, tinha que ser tudo planeado até ao mais ínfimo pormenor,
até que finalmente...
- Amor meu, prepara as maletas, vamos passear –
falei eu. Vamos tirar umas férias, poucos dias, mas vamos até ao Norte. Serão
duas a três semanas no máximo, mas é o que posso e tenho.
Para onde vamos meu bem? – perguntou Mara.
Vamos para perto do Porto, acho que nunca
provaste aquele vinho doce – disse com entusiamo. Vamos ver uma praia que deves
amar, chama-se praia da Granja, local preferido de uma escritora muita
acarinhada aqui. Vais também conhecer o zoo de Santo Inácio, não é nada
parecido com o nosso, mas é fantástico também, e sempre podemos ter umas
horitas para degustar uns belos petiscos e claro está fazer a visita às caves e
não só...
... leva umas roupas mais abafadas, porque
apesar de ser verão sempre lá é um pouco frio, sei que gostas, mas não te quero
constipada.
No dia seguinte, manhã cedo tínhamos a “loja” arrumada, viajámos para
onde combinado, e a Mara estava deslumbrada com a paisagem que ia encontrando
ao longo daquelas estradas montanhosas. A meio do caminho almoçámos e
descansámos um pouco. Antes do jantar já estávamos em Gaia. Mara estava
estupefacta, pois todos os funcionários me serviam e me cumprimentavam
respeitosamente. O quarto era o mesmo de sempre, com aquela vista
“maravilhástica”, e Mara ficou espantada com tamanha sumptuosidade. Enquanto
Mara se vestia a preceito, pronta para o jantar eu arrumava as coisas, e falei:
- aproveita bem esta estada e amanhã vamos visitar algumas coisas bonitas amor,
aproveita tudo isto enquanto podes.
Mara estava deslumbrante, entretanto depois do jantar aproveitámos a
noite para uns pezinhos de dança e alguns cocktails, apesar do cansaço da
viagem apenas fomos para o quarto já depois das três da madrugada. Manhã
chegada, Mara já estava no varandim, olhando a bela paisagem, nesse dia
esperava levar ela a visitar algumas praias, e quem sabe as caves, a escolha
dela foi uma visita para as praias e tasquinhas, era óbvio. Como não conhecia
nada dali, era a sua primeira escolha. Visitámos Aguda, Valadares, Francelos e
Miramar onde ela ficou encantada com a capela denominada Senhor da Pedra. Bem
podia ela rezar, pensei eu.
Assim se passou uma semana, e a outra quase no final, entre as saídas às
vezes encontrava a “outra”, nossos olhares se cruzavam, mas sem Mara notar nada
de estranho, e estava quase a dar-se o acontecimento... a maior noite no norte
de Portugal, e era para essa que eu tinha tudo preparado, antes disso levara
Mara a visitar as várias caves com os seus pipos velhos, a enorme garrafeira.
Provas de vinhos e outras coisas mais, sempre peixinho fresco normalmente
assado, apesar de algumas vezes almoçarmos no hotel.
Chegara a hora, tinha acontecido tudo o estava
planeado nas caves Ferreira, tinha tudo pensado, e era a noite “do barulho”
portanto pouca importância teria mais uma ou duas pessoas entre aquela
multidão, apenas havia uma coisa que mais ninguém sabia, duas entravam mas
apenas uma saía. E esse era o momento, convidei Mara para uma aventura, a qual
ela aceitou de imediato. Com um molho de chaves no bolso, para quem passava
julgaria que eram martelinhos das festas São Joaninas, na entrada das caves,
abri a porta, de seguida, levei Mara, para um dos corredores mais fundos onde
se situavam os toneis mais velhos. Abri essa porta, e disse para Mara – traz-me
umas quantas garrafas dessas porque o vinho do Porto é como a mulher, quanto
mais velho melhor.
Assim que Mara entrou fechei a porta, o seu
grito ficou abafado pela pesada porta toda feita em madeira de carvalho. Após a
saída fechei a outra porta e ia trauteando a velha canção “vou beijar, vou
dançar, vou curtir toda a noite...”...
Dois anos mais se passaram, estava solitário,
a “outra” fora apanhada pela Judiciária, um golpe em que eu sem querer estava
envolvido, o Baixinho estava com a avó, o que era bom para ele, e o meu
trabalho continuava, sabem, é que sou especialista em todas as fechaduras e em
todo o tipo de cofres...
Até que um dia, talvez fosse uma coincidência,
recebo um convite para o mesmo hotel, mesmo quarto, com tudo pago. Uma
amabilidade da gerência que tinha sido toda mudada, eu fui classificado como
cliente VIP. A assinatura estava ilegível. Como não tinha nada para fazer
aceitei.
No dia seguinte eis-me a caminho de Gaia,
depois do check-in dirigi-me ao meu velho quarto que tantas recordações me
trazia, diga-se de passagem, boas e más. Depois de tomar um banho dirigi-me ao
restaurante, passando primeiro pelo bar. Enquanto tomava uma bebida, quem sabe
para esquecer, um diligente funcionário chegou-se perto.
- Senhor, tem uma oferta para jantar num
quarto perto do seu, uma senhora simpática oferece-o.
- Tudo bem, mais vale comer bem acompanhado do
que estar sozinho, qual o número do quarto?
- 236, senhor – que digo? – oferta aceite,
diga-lhe por favor. Não liguei ao número do quarto, nem liguei para a data em
que estávamos, nem sequer ooutro pensamento me passou pela cabeça, mas acontecera nessa
data...
Ao subir a porta do quarto encontrava-se
aberta, este na penumbra, cortinas fechadas, a senhora ou senhorita com o rosto
tapado, não deixava ver as suas feições, apenas mostravam uns olhos verdes que
me faziam lembrar uns outros verdes olhos. Em cima da mesa, os acepipes, uma
garrafa que desconhecia, pois esta vinha sem rótulo, uns copos e pouco mais.
Calmamente a senhora ou senhorita começou a falar sobre coisas, a sua voz soava
estranha, não sei bem porquê também estranhei aquela voz.
Vamos fazer um brinde? – perguntou-me. E abriu
a garrafa. Um cheiro intenso a amêndoas amargas saiu daquela botelha. Então
perguntou-me seu percebia de venenos.
- Não, respondi eu, desconheço tudo sobre
isso. Mas porque pergunta?
- Simples curiosidade, eu gosto de saber sobre
coisas assim, e como sou a sócia gerente deste hotel queria saber mais, também
lhe posso dizer, meu caro senhor, que dentro de momentos sentirá uma morte
atroz, sentiu este odor meu anjo? Sentiu sim estou a ver o seu rosto, e com a
sua morte não se perderá nada.
Mara – gritei eu – mas como? Agora antes de a
morte chegar via as coincidências, o número do quarto, a data, 23 de junho, mas
como ela estava viva?
- Antes de entrar dentro daquela porta que
você fechou, meu bem, descalcei os sapatos, no dia seguinte alguém os viu e
abriu a mesma, porque a data que você também olhou meu mal-amado estava certa
“abrir daqui a vinte anos”, só não viu que seria aberta no dia seguinte, e já
agora meu benzinho, antes de você partir para outro lado...
A mulher se quer como a sardinha, meu bem
pequena e gordinha... pode entrar inspetor – foi a última coisa que ouvi.
Veredito do inspetor Rick: ingestão de amêndoa
amarga, mas esta caseira, produzida pelo pai do próprio inspetor.
ACONTECEU EM GAIA... NA VÉSPERA DO DIA
DE SÃO JOÃO
Concluímos hoje a publicação do penúltimo conto do concurso “Um Caso Policial em Gaia”, do confrade setubalense Ricardo Azevedo, mais conhecido nas lides literárias e policiárias por Abrótea (ou A.B.Rótea), autor do livro policial “As Aventuras do Inspetor Rick”, editado em 2019 com a chancela da Chiado Books. No final da primeira parte do conto a concurso, o protagonista levou a sua mulher, Marta, a uma das mais importantes caves de vinho do Porto. Era o dia da noite mais longa de todas as noites nas cidades das duas margens da Foz do Douro. O início dos festejos de São João não tardava e ele tinha tudo planeado ao mais ínfimo pormenor. A “outra” sabia de tudo, mas a sua mulher não! E será que correu tudo como ele tinha idealizado?
CONCURSO “UM CASO POLICIAL
EM GAIA”
Conto nº. 12
“Aconteceu em Gaia...”,
de Abrótea
II – Parte (conclusão)
Chegara a hora, tinha
acontecido tudo o estava planeado nas caves Ferreira, tinha tudo pensado, e era
a noite “do barulho” portanto pouca importância teria mais uma ou duas pessoas
entre aquela multidão, apenas havia uma coisa que mais ninguém sabia, duas
entravam mas apenas uma saía. E esse era o momento, convidei Mara para uma
aventura, a qual ela aceitou de imediato. Com um molho de chaves no bolso, para
quem passava julgaria que eram martelinhos das festas São Joaninas, na entrada
das caves, abri a porta, de seguida, levei Mara, para um dos corredores mais
fundos onde se situavam os toneis mais velhos. Abri essa porta, e disse para
Mara – traz-me umas quantas garrafas dessas porque o vinho do Porto é como a
mulher, quanto mais velho melhor.
Assim que Mara entrou fechei a
porta, o seu grito ficou abafado pela pesada porta toda feita em madeira de
carvalho. Após a saída fechei a outra porta e ia trauteando a velha canção “vou
beijar, vou dançar, vou curtir toda a noite...”...
Dois anos mais se passaram,
estava solitário, a “outra” fora apanhada pela Judiciária, um golpe em que eu
sem querer estava envolvido, o Baixinho estava com a avó, o que era bom para ele,
e o meu trabalho continuava, sabem, é que sou especialista em todas as
fechaduras e em todo o tipo de cofres...
Até que um dia, talvez fosse
uma coincidência, recebo um convite para o mesmo hotel, mesmo quarto, com tudo
pago. Uma amabilidade da gerência que tinha sido toda mudada, eu fui
classificado como cliente VIP. A assinatura estava ilegível. Como não tinha
nada para fazer aceitei.
No dia seguinte eis-me a
caminho de Gaia, depois do check-in dirigi-me ao meu velho quarto que tantas
recordações me trazia, diga-se de passagem, boas e más. Depois de tomar um
banho dirigi-me ao restaurante, passando primeiro pelo bar. Enquanto tomava uma
bebida, quem sabe para esquecer, um diligente funcionário chegou-se perto.
- Senhor, tem uma oferta para
jantar num quarto perto do seu, uma senhora simpática oferece-o.
- Tudo bem, mais vale comer bem
acompanhado do que estar sozinho, qual o número do quarto?
- 236, senhor – que digo? –
oferta aceite, diga-lhe por favor. Não liguei ao número do quarto, nem liguei
para a data em que estávamos, nem sequer ooutro pensamento me passou pela cabeça, mas acontecera nessa
data...
Ao subir a porta do quarto
encontrava-se aberta, este na penumbra, cortinas fechadas, a senhora ou
senhorita com o rosto tapado, não deixava ver as suas feições, apenas mostravam
uns olhos verdes que me faziam lembrar uns outros verdes olhos. Em cima da
mesa, os acepipes, uma garrafa que desconhecia, pois esta vinha sem rótulo, uns
copos e pouco mais. Calmamente a senhora ou senhorita começou a falar sobre
coisas, a sua voz soava estranha, não sei bem porquê também estranhei aquela
voz.
Vamos fazer um brinde? –
perguntou-me. E abriu a garrafa. Um cheiro intenso a amêndoas amargas saiu
daquela botelha. Então perguntou-me seu percebia de venenos.
- Não, respondi eu, desconheço
tudo sobre isso. Mas porque pergunta?
- Simples curiosidade, eu gosto
de saber sobre coisas assim, e como sou a sócia gerente deste hotel queria
saber mais, também lhe posso dizer, meu caro senhor, que dentro de momentos
sentirá uma morte atroz, sentiu este odor meu anjo? Sentiu sim estou a ver o
seu rosto, e com a sua morte não se perderá nada.
Mara – gritei eu – mas como?
Agora antes de a morte chegar via as coincidências, o número do quarto, a data,
23 de junho, mas como ela estava viva?
- Antes de entrar dentro
daquela porta que você fechou, meu bem, descalcei os sapatos, no dia seguinte
alguém os viu e abriu a mesma, porque a data que você também olhou meu
mal-amado estava certa “abrir daqui a vinte anos”, só não viu que seria aberta
no dia seguinte, e já agora meu benzinho, antes de você partir para outro
lado...
A mulher se quer como a sardinha, meu bem pequena e gordinha... pode entrar inspetor – foi a última coisa que ouvi. Veredito do inspetor Rick: ingestão de amêndoa amarga, mas esta caseira, produzida pelo pai do próprio inspetor.
CONVITE AO LEITOR
E pronto, caro leitor. Agora
o passo seguinte é seu. Para tal, repetimos o nosso convite à sua participação
na escolha dos melhores contos. O processo é simples. A partir de hoje, tem
trinta (30) dias para fazer a avaliação, em função da sua qualidade e
originalidade, do décimo-segundo conto do nosso concurso, da autoria de
Abrótea, e enviar a respetiva pontuação, numa escala de 5 a 10 pontos, para o
email do orientador da secção (salvadorpereirasantos@hotmail.com).
A competição termina na próxima edição com a publicação do décimo-terceiro conto, desta vez com assinatura de Hayes, repetindo-se o processo de avaliação crítica dos nossos leitores durante o mesmo espaço temporal de 30 dias. A sua colaboração é imprescindível, caro leitor!