TORNEIO DE INICIAÇÃO A. RAPOSO APROXIMA-SE DO FIM
O nosso saudoso confrade A. Raposo foi ao velho baú de memórias do detetive Tempicos e construiu com essas recordações um problema policiário que hoje desafiamos os leitores a decifrarem, ao constituí-lo na prova nº 6 do nosso Torneio de Iniciação. Com esta prova fechamos o segundo terço da competição, pelo que qualquer passo em falso pode comprometer de vez as aspirações dos detetives que seguem nos lugares dianteiros das tabelas classificativas dos respetivos grupos de iniciados e “veteranos”. Os tempos que se aproximam são decisivos, impondo-se por isso redobrada atenção a todos os pormenores enunciados pelo autor… para evitar surpresas indesejadas!
TORNEIO DE INICIAÇÃO A.
RAPOSO
Prova nº. 6
“O Baú de Tempicos”, de Raposo & Lena
Tempicos tem guardado no sótão um velho baú. Dentro,
para além de muitas teias de aranha, há velharias e recordações. Taças que
ganhou em concursos, algumas – verdade se diga – cheias de manchas, pois a
humidade, esse impecável inimigo, vai deixando marcas.
Além de bugigangas de valor sentimental, tem o célebre
caderno de capa preta onde foi apontando “ideias” para a possível futura
construção de problemas policiários. Ideias que muitas vezes lhe dão pistas
para desenvolver um ou outro conto-problema.
Mais uma vez, e aproveitando uma tarde de chuva, subiu
ao sótão e foi consultar as memórias. Abriu o baú e olhou o espólio, retirou o
caderno de capa preta e começou a folheá-lo.
Abriu numa das primeiras páginas e leu:
“… Gertrudes fechou a janela. O cheiro a peixe frito
vindo da rua já inundara a sua sala e até parecia ter-se pegado ao corpo. Era
noite de domingo e apeteceu-lhe ir cedinho para a cama. No dia seguinte, teria
que ir ao ginecologista. Na véspera, sonhara que estava grávida de uma menina.
Até lhe dera nome: entre Carlota e Joaquina, o seu coração iria escolher.
Corria o último domingo do mês. Dali a dois meses, lá
iria ela ao norte, passar a noite numa festa popular a que raramente faltava,
pois era o dia do seu aniversário, que sempre confraternizara com vinho tinto e
alho-porro. A gravidez confirmou-se, acabando por nascer uma menina, único
rebento de mãe solteira.
Gostava de ouvir os relatos da bola. Benfiquista
ferrenha, não entendia como é que o novo treinador tinha nome de piropo de
mulher…”
Voltou a abrir o caderno mais à frente e leu:
“… A história principal deste dia foi a queda do
pequeno avião onde viajavam para o Porto os dois políticos. Joaquina
enamorara-se de Carlos há meses. Ele prometia, mas demorava a decidir-se pelo
casamento. E o pior é que Carlos não era nada fiel a Joaquina.
Ao vislumbrar um rabo de saias, novas discussões.
Joaquina estava embeiçada pelo seu ‘escurinho de olhos verdes’, apesar de tudo.
O amor é cego – dizem. Talvez fosse também o facto de Carlos ter uma desenvolta
estampa física. Talvez porque tivesse trazido de África o feitiço que
entontecia as raparigas. Ninguém nunca conseguiu descobrir a razão de se gostar
de alguém. Pelo menos até hoje. Que eu saiba!”
Tempicos voltou a ler já perto do fim do caderno:
“Assassinato do Dr. Veloso.
Naquele dia, aconteceram várias desgraças.
Carlos fora encontrado por Joaquina nos braços fortes
e carnudos da ucraniana. O seu “escurinho” com quem mantinha um prolongado
namoro de dez anos e nunca mais se decidia a casar. Mais uma vez tinha-lhe
pregado a partida. Chorosa e amargurada, telefonou à sua mãe, contando-lhe os
factos. Gertrudes andava muito adoentada e estava internada. Essas notícias
pioravam a situação. Por este anda, estava a ver que não iria ver a filha
casada.
Foi nesse dia também que Veloso apareceu morto.
O corpo do médico tinha uma faca espetada nas costas e
jazia estendido na alcatifa da sala. Ao lado, um lenço de seda, com um
monograma bordado com a letra C. Presumia-se que o lenço teria servido para
apagar as impressões digitais na faca.
Na casa do conhecido médico, viva Carlos, que Veloso
tinha trazido de Angola em 73.
Fora por este encontrado abandonado, no mato, com 13
anos, órfão de pais.
Veloso educou-o, criou-o e pensava perfilhá-lo. Com
ele vivia Joaquina, sua sobrinha, filha da Gertrudes. Veloso, para além destes,
não tinha mais familiares. Tão-pouco testamento.
Os restantes habitantes da casa eram os criados.
Nascidos em distantes paragens, ainda dominavam mal a
língua, pois todos tinham vindo há poucos meses. Isto é válido para o
brasileiro “mineiro” Moisés, que fazia de motorista.
Para além dele, havia a Sofia, uma criada ucraniana
bem musculada. Cheng, uma minúscula chinesinha, que fazia de cozinheira. Chú,
um altivo jardineiro vietnamita.
Veloso era um conceituado médico e podia dizer-se que
estava bem de vida, se não fosse o pequeno e arreliador facto de estar morto!
Mas, como já dizia alguém ilustra, para se morrer só é necessário estar vivo.
Quanto a questões sentimentais, a coisa fiava mais
fino. Moisés arrastava a asa a Joaquina, mas sem o menor êxito.
Sofia queixava-se de ter perdido um dos seus lenços
que trouxera da terra. Mas isso fora já há mais de uma semana. Ainda não vira o
lenço que a polícia apreendera no local do crime, juntamente com a faca, para
análise na polícia, pelo que não se poderia pronunciar. A polícia estava
convicta que não haveria impressões digitais na arma, supostamente limpas pelo
lenço.
De acordo com as informações do caderno de Tempicos,
reconstitua os acontecimentos narrados, começando por indicar o dia, o mês e o
ano em que Gertrudes pensou ir ao médico.
Diga quem poderá ser o proprietário do lenço
desaparecido e porquê.
Quem reuniria mais motivos para matar o Dr. Veloso?
DESAFIO AO LEITOR
Respeitando as questões suscitadas pelo seu autor, o leitor tem agora 15 (quinze) dias para enviar para o orientador da secção uma proposta de solução ao problema acima publicado, através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com. Aconselha-se, mais uma vez, leituras muito atentas.
TORNEIO DE INICIAÇÃO A. RAPOSO
PONTUAÇÕES/CLASSIFICAÇÕES (após 4ª. Prova)
(entre parênteses assinala-se a soma das pontuações alcançadas nas três primeiras provas e a pontuação obtida na quarta prova)
Grupo de Iniciados
1º. Oluap Snitram (30+10): 40
pontos;
2ºs. Bota Abaixo (29+10), Chico da Afurada (29+10) e O Madeirense
(29+10):
39 pontos;
5ºs. Agata Cristas (29+9), Charadista (29+9),
Inspetor Mostarda (28+10), Martelo (29+9), Mascarilha (29+9) e
Visconde das Devesas (28+10): 38 pontos;
11ºs. Beira-Rio (28+9), Broa de Avintes (28+9),
Mosca (28+9), Príncipe
da Madalena (28+9)
e Santinho da Ladeira (27+10): 37 pontos;
17ºs. Detetive Bruno (28+8), Dragão de Santo Ovídio (26+10), Mancha
Negra (27+9),
Pequeno Simão (27+9)
e Solidário (29+7):
36 pontos;
21ºs. Faina do Mar (28+7), Moura Encantada (27+8) e Tó
Fadista (28+7):
35 pontos;
24ºs. Mula Velha: (25+9) e Zurrapa Verde (26+8): 34 pontos.
Grupo Especial
1º. Detetive Jeremias (26+8): 34 pontos;
2º. Inspetor Mucaba (23+10): 33 pontos;
3º. Zé de Mafamude (16+3): 19 pontos;
4º. Inspetor Moscardo (11+5): 16 pontos;
5ºs. Madame Eclética (9+3) e Ma(r)ta Hari (9+3):
12 pontos;
7ºs. Arc Anjo (6+3), Inspetor Guimarães (6+3), Pena
Cova (9+0) e Talismã (6+3): 9 pontos;
11º. Haka Crimes (8+0): 8 pontos;
12ºs. Amiga Rola (0+3), Carlota Joaquina (0+3), Holmes
(3+0), Inspetor Madeira (3+0) e Necas (3+0): 3 pontos;
17º. Vitinho (0+0): 0 pontos.
“DETETIVE” OLUAP SNITRAM LIDERA GRUPO DE INICIADOS
A solução de autor da prova nº 4 do Torneio de Iniciação A. Raposo é hoje desvendada, juntamente com os resultados obtidos pelos nossos “detetives” na prova nº 3. Face a estes resultados, as classificações dos “detetives” em competição registam algumas alterações significativas, com destaque para a liderança isolada de Oluap Snitram no Grupo de Iniciados e para o “salto” significativo na tabela classificativa do Grupo Especial de Zé de Mafamude, graças à apresentação de uma brilhante e original solução que o coloca agora no grupo de concorrentes favoritos à vitória final. Nos “iniciados” salienta-se ainda, pela positiva, que apenas 5 (cinco) pontos separam os últimos classificados da liderança. E nos “veteranos” destaca-se ainda, mas pela negativa, a circunstância de um trio de concorrentes não ter obtido até ao momento qualquer pontuação. Mas a verdade é que ainda há muita competição pela frente, sendo de prever mais mudanças pelo caminho.
TORNEIO DE INICIAÇÃO A. RAPOSO
Solução da Prova nº. 4
“Tempicos e os Irmãos Sherif”, de A. Raposo &
Lena
O preso na PJ era Hermann Sherif, o europeu, enquanto o muçulmano
atuava em Frankfurt. Descobre-se isso por duas vias.
Um verdadeiro muçulmano não bebe álcool nem come carne de porco e, por
isso, não iria pedir ao carcereiro uma sandes mista (queijo + fiambre) e a
cervejola. Note-se que, embora se faça fiambre com carne de peru, este só é
servido se for expressamente solicitado.
Um verdadeiro muçulmano, quando faz as suas orações diárias, também
sabe orientar-se e dirigir a sua cabeça para Meca, lugar sagrado dos
muçulmanos, que fica a oriente de Lisboa. Ora no texto diz-se que, naquele fim
de tarde, quando o preso se ergueu após a oração, a sua cara ficou com os
quadradinhos desenhados pelo sol que entrava pela janela gradeada. Isto indica
que ele estava voltado mais para os lados do poente do que do oriente, ao
contrário do que um bom e verdadeiro muçulmano faria. Vê-se que o Hermann não
estava habituado a orientar-se para fazer as orações prescritas pela religião
muçulmana.
Mas por que motivo, nos assaltos, os Sherif se preocupavam em não
deixar qualquer dedada ou resíduo orgânico e, simultaneamente, pareciam não se
importar de abandonar um alicate ou uma chave de parafusos com as impressões
digitais do irmão encarcerado? Bom, dentro do esquema de um dos gémeos se fazer
prender para fornecer um álibi ao outro, a descoberta do ADN, em qualquer
resíduo orgânico atribuível ao ladrão, levaria à acusação do mano em liberdade.
É fácil ver porquê. Eles, como gémeos monozigóticos, têm o mesmo ADN, que é um
aspeto potencialmente vantajoso para os dois, enquanto delinquentes, por poder
conduzir a alguma indecisão. Contudo, no presente esquema, isso nada ajudaria,
visto ser evidente que, face à descoberta do ADN do larápio, só ao mano em
liberdade podia ser imputada a autoria do assalto. No que respeita às
impressões digitais o problema é diferente. Os gémeos monozigóticos têm
impressões digitais muito semelhantes, mas distinguíveis entre si. Deste modo,
o truque das ferramentas marcadas, que eles com certeza trocaram previamente,
tinha em vista baralhar por completo as polícias, que se viam a braços com uma
prova apontada a um indivíduo que, afinal, se encontrava à sua guarda!
Convenhamos que os manos Sherif devem ter querido, acima de tudo,
troçar da polícia em geral, uma vez que acrescentaram riscos desnecessários aos
bem preparados assaltos que levaram a cabo.
Esqueceram-se de que, para além dos inevitáveis erros, lhes podia aparecer pela frente um arguto e matreiro Tempicos, na circunstância representante de uma plêiade de policiaristas, sempre disposto a descobrir as mais pequenas falhas.
TORNEIO DE INICIAÇÃO A. RAPOSO
PONTUAÇÕES/CLASSIFICAÇÕES (após 3ª. Prova)
(entre parênteses assinala-se a soma das pontuações alcançadas nas duas primeiras provas e a pontuação obtida na terceira prova)
Grupo de Iniciados
1º. Oluap Snitram (20+10): 30
pontos;
2ºs. Agata Cristas (20+9), Bota Abaixo (19+10), Charadista (20+9),
Chico da Afurada (19+10), Martelo (19+10), Mascarilha (20+9), O Madeirense (19+10) e Solidário (19+10): 29
pontos;
10ºs. Beira-Rio (19+9), Broa de Avintes (19+9, Detetive
Bruno (20+8), Faina
do Mar (19+9),
Inspetor Mostarda (18+10), Mosca (20+8), Príncipe da Madalena (19+9), Tó
Fadista (20+8)
e Visconde das Devesas (18+10): 28 pontos;
19ºs. Mancha Negra (19+8),
Moura Encantada (19+8), Pequeno Simão (19+8), Santinho da Ladeira (19+8): 27
pontos;
23ºs. Dragão de Santo Ovídio (18+8) e Zurrapa
Verde (17+9): 26 pontos;
25º. Mula Velha: (16+9): 25 pontos.
Grupo Especial
1º. Detetive Jeremias (18+8): 26 pontos;
2º. Inspetor Mucaba (18+5): 23 pontos;
3º. Zé de Mafamude (6+10): 16 pontos;
4º. Inspetor Moscardo (8+3): 11 pontos;
5ºs. Madame Eclética (6+3), Ma(r)ta Hari (6+3) e
Pena Cova (6+3): 9 pontos;
8º. Haka Crimes (8+0): 8 pontos;
9ºs. Arc Anjo (3+3), Inspetor Guimarães (3+3) e
Talismã (3+3): 6 pontos;
12ºs. Holmes (3+0), Inspetor Madeira (0+3) e Necas
(0+3): 3 pontos;
15ºs. Amiga Rola (0+0), Carlota Joaquina (0+0 e Vitinho (0+0): 0 pontos.
O DESAFIO DOS ENIGMAS NO CIBERESPAÇO
Relembramos os leitores que podem acompanhar a todo o momento o Torneio de Iniciação A. Raposo na Internet, através do blogue Local do Crime (localdocrime.blogspot.com) e do site Clube de Detectives (clubededetectives.pt), onde são publicados regularmente todos os problemas e respetivas soluções “oficiais”, bem como as pontuações obtidas pelos concorrentes em cada prova.