QUEM É O ESCRITOR POLICIAL QUE SE SEGUE A… AGATHA CHRISTIE?
Ficamos hoje a conhecer o nome da escritora policial que se “escondia” no enunciado da primeira prova do torneio “Quem é? Quem é?”, a que se segue um segundo autor que desafiamos os nossos concorrentes a “descobrirem” no texto da prova nº 2 que abaixo transcrevemos. Publicamos igualmente a classificação atual desta iniciativa, que mobiliza até ao momento 48 (quarenta e oito) leitores do AUDIÊNCIA GP, na sua esmagadora maioria seguidores do blogue Local do Crime (localdocrime.blogspot.com), 7 (sete) dos quais participam pela primeira vez nos nossos passatempos. E fechamos esta edição com uma chamada de atenção, em nota de rodapé, sobre as competições que nos acompanharão na segunda metade de 2022 e nos primeiros três meses de 2023, que têm por desafio a produção e decifração de enigmas policiários, modalidades maiores do chamado desporto intelectual, razão de existência desta secção nascida a 1 de junho de 2016 que tem por objetivo ajudar a manter em permanente atividade as nossas células cinzentas.
TORNEIO QUEM É? QUEM É?
Prova nº. 2
Filho
de um casal de atores fracassados, ambos vitimados por tuberculose, este
extraordinário escritor norte-americano, nascido em Boston em 19 de janeiro de
1809, é hoje considerado por muitos como o percursor do romance policial de
enigma.
Órfão
aos dois anos de idade, foi adotado por um rico comerciante, de seu nome John
Allan, com quem viajou para pela Escócia e Inglaterra, tendo recebido uma
esmerada educação clássica.
Frequentou
a Universidade de Virgínia, onde estudou grego, latim, francês, espanhol e
italiano, mas abandonou o estudo por causa do jogo. Ingressa depois no West
Point, mas é expulso por falta às aulas. Dedica-se então à literatura, numa
vida nómada e inconstante.
Foi
poeta e crítico literário de reconhecido mérito e escreveu contos (fantásticos,
misteriosos e macabros) cuja modernidade e arquitetura ficcional marcaram até
hoje numerosos escritores e sobretudo dois géneros de que foi pioneiro: a
ficção científica e a literatura policial.
Na
ficção destacou-se sobretudo pela criatividade e engenho das suas narrativas, sendo
o primeiro escritor a utilizar métodos científicos para construir o enredo dos
seus contos, que serviram de inspiração a A. Conan Doyle e H.G. Wells.
A sua
influência sobre a literatura moderna tornar-se-ia indelével, ficando todos a
dever-lhe alguma coisa, dos românticos aos surrealistas, assim como da ficção
científica ao policial, passando pelo fantástico.
Embora
fosse sobretudo um poeta, com poemas que se distinguiram por uma construção
literária perfeita, as contingências económicas com que se debateu levaram-no a
investir na prosa, mais lucrativa.
Um dos
traços distintivos deste escritor é que morreu aos 40 anos, alcoolizado e na
miséria, depois de ter vivido picos de abundância e de penúria e de ter
produzido uma obra literária genial.
Quem é ele, quem é?
As propostas de solução a este enigma devem ser enviadas no prazo máximo de 15 (quinze) dias para o orientador da secção, através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com.
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TORNEIO QUEM É? QUEM É?
Solução da Prova nº. 1
Nasceu Agatha May Clarissa Miller. Criou a perspicaz investigadora Miss
Marple e o popular inspetor belga Hercule Poirot. Foi autora da peça “A
Ratoeira” – o maior êxito teatral dos palcos de Londres de todos os tempos.
Escreveu os best-sellers policiais “O Misterioso Mr. Quin” e “Morte no Nilo”
(para além de mais cerca de trezentas outras obras, entre romances de mistério,
poesia, peças para rádio e teatro, contos, uma autobiografia e seis livros
publicados sob o pseudónimo de Mary Westmacott). O seu talento e o seu papel
nas artes e nas letras foram oficialmente reconhecidos em 1956, ano em que foi
distinguida com o título de Commander of the Britsh Empire. Em 1971, a Rainha
Isabel II consagrou-a com o título de Dame of the Britsh Empire. E em 2000 a
31st Bouchercon World Convention galardoou-a com dois prémios: “A Melhor
Escritora Policial do Século XX e (autora d’) “A Melhor Série Policial do
Século XX” (livros protagonizados por Hercule Poirot).
A Rainha do Crime (ou a Duquesa da Morte, como ela preferia ser chamada) é… Agatha Christie!
PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (1ª. PROVA)
1º. Detetive Jeremias: 10 pontos;
2º. Abrótea: 9 pontos;
3º. Inspetor Moscardo: 8 pontos;
4º. Bernie Leceiro: 7 pontos;
5º. Búfalos Associados: 6 pontos;
6ºs. Agata Cristas, Amiga Rola, Arc Anjo, Beira-Rio, Bota
Abaixo, Broa
de Avintes, Charadista, Chico da Afurada, Detetive Bruno, Dragão de Santo
Ovídio, Faina do Mar, Haka Crimes, Holmes, Inspetor Guimarães, Inspetor Mostarda, Inspetor Mucaba, Madame
Eclética, Mancha Negra, Mário Gomes, Ma(r)ta Hari, Martelo,
Mascarilha, Menino
Lucas, Mosca, Moura Encantada, Mula Velha, Oluap Snitram, O Madeirense, Os
Mosqueteiros, Pena
Cova, Pequeno Simão, Príncipe da Madalena, Santinho da Ladeira, Solidário,
Talismã, Tó
Fadista, Zé
de Mafamude, Zurrapa Verde e Visconde das Devesas: 5 pontos;
45ºs. Carlota Joaquina, Inspetor Madeira, Necas e Vitinho: 0 pontos.
PRODUÇÃO E DECIFRAÇÃO POLICIÁRIA
Chamamos
a atenção dos habituais participantes e potenciais novos concorrentes dos
passatempos da nossa secção para a publicação, na próxima edição, do Regulamento
do Concurso de Produção de Enigmas Policiários “Mãos à Escrita!” (2022-2023), iniciativa que decorrerá mais uma vez em paralelo com o Torneio
de Decifração de Enigmas Policiários “Solução à Vista!”.
PAUSA DE “QUEM É? QUEM É?” PARA FALAR DE LITERATURA POLICIAL
Poucas
pessoas no mundo, que gostem de ler, podem gabar-se de nunca terem lido um
romance policial. Depois dividi-las-emos entre as que gostam, as que não gostam…
e as “que dizem” que não gostam. E entre as penúltimas, só poderemos avaliar o
seu juízo de valor depois de conhecermos a quantidade e a qualidade de livros
policiais que leram.
Infelizmente,
alguns dos melhores livros de sempre estão completamente esgotados, nenhuma
coleção recente os reeditou ainda e têm de ser procurados nos alfarrabistas com
a mesma avidez com que nos antiquários se buscam preciosidades tais como uma moeda
antiga, um quadro célebre de que se desconhece o valor ou uma peça rara que o
colecionador persegue há anos.
Quando
descobrirem esses livros terão a mesma alegria que nós experimentámos ao
encontrar finalmente em Portobello Road (a Feira da Vandoma/da Ladra londrina)
uma primeira edição do “Strand Magazine” com as histórias de Sherlock Holmes.
Mas como falar-vos de Sherlock Holmes e de Literatura Policial sem começar do princípio?
O NASCIMENTO DA LITERATURA POLICIAL
A
Literatura Policial nasceu verdadeiramente com o conto “Os Crimes da Rua da
Morgue”, escrito pelo norteamericano Edgar Allan Poe e publicado pela primeira
vez no “Graham’s Magazine” em 1841. Poe
definiu assim, desde o início, todo o esqueleto básico da literatura policial:
«Do mesmo modo que o homem forte se satisfaz com as suas aptidões físicas,
deleitando-se com os exercícios que põem em atividade os seus músculos, exulta
o leitor com essa atividade espiritual cuja função é destrinçar enredos. Acha
prazer até nas mais vulgares circunstâncias, desde que ponham em jogo o seu
talento. Adora os enigmas, os hieróglifos, exibindo nas soluções de todos eles
uma perspicácia que, para o homem vulgar, toma o aspeto de uma coisa
sobrenatural».
Edgar
Allan Poe é chamado, por isso, o verdadeiro pai da literatura policial. Deu-nos
um enigma de quarto fechado, que todos os escritores policiais tentaram um dia
apresentar nos seus romances ou contos. O chamado crime impossível! A vítima
assassinada num lugar inacessível, ou fechada por dentro. Criou o par ideal. O
investigador e o amigo que serve de biógrafo ou de cronista. Com o seu M. Dupin
e o seu amigo desconhecido.
Mais
tarde Sherlock Homes e Dr. Watson celebrizaram o processo sob a pena de Arthur
Conan Doyle, outrotanto fazendo Agatha Christie com o seu Hercule Poirot e o
Capitão Hastings.
Poe
escreveu também os primeiros contos de terror e de suspense. Fez nascer o
detetive particular inteligente e dedutivo em competição com o polícia oficial.
Imitaram-no dezenas ou centenas de outros autores com sucesso. Entre os mais
célebres destacamos Ellery Queen, Philo Vance, Philip Marlowe, Sam Spade,
Hercule Poirot ou Miss Marple, detetives criados respetivamente por Ellery
Queen (pseudónimo dos primos Frederick e Manfred Lee), S.S. Van Dine, Raymond
Chandler, Dashiell Hammett e Agatha Christie.
A
literatura policial foi acompanhando a vida real, buscando os seus temas nos
noticiários criminais embora com algumas pinceladas de ficção dos seus
criadores. Também aí Edgar Allan Poe foi inovador. O conto que escreveu sob o
título “O Mistério de Marie Roget” foi baseado na notícia de um crime insolúvel
que lhe deu o tema para a história que veio a ser considerada como o desfecho
mais lógico para o crime cometido.
O
nevoeiro londrino, os crimes nunca descobertos de Jack, o Estripador,
inspiraram os ambientes melodramáticos de Sherlock Holmes, um detetive
pretensioso, mas terrivelmente dedutivo a quem todos procuravam no nº 221-B de
Baker Street. Morada famosa que continua a receber cartas de leitores ingénuos
que acreditam na sua existência real.
O
êxito de Sherlock Holmes fez nascer em França o seu opositor não menos famoso,
Arsène Lupin, o ladrão de luva branca imaginado por Maurice Leblanc e que vem
mais tarde a servir de figurino-padrão para o “Santo”, ou seja, Simon Templair,
de Leslie Charteris. Em França nascera também o Monsieur Lecoq, de Émile
Gaborian.
À literatura
policial, que já tinha detetives e gatunos célebres, juntou-se um padre, o
padre Brown, de Gilbert Keith Chesterton, uma figura admirável pela sua
definição humana e característica.
Entretanto,
tinham decorrido desde o nascimento oficial de Monsieur Dupin, de Edgar Allan
Poe, em 1841, até ao aparecimento do Padre Brown, em 1911, 70 anos.
Depois
é um longo desfilar de escritores e figuras famosas. As mulheres, principalmente,
vêm disputar os lugares cimeiros, trazendo pela mão figuras de destaque: Agatha
Christie surge não só com o Hercule Poirot, como com uma velha solteirona e
bisbilhoteira que faz as delícias dos leitores com as duas deduções no meio da
malha de tricot – Miss Marple. Dorothy Sayers traz à cena um lord investigador:
Lord Peter Winsey.
Edgar
Wallace oferece-nos Mr. Reeder, baixinho e perspicaz; Earl Derr Biggers
introduz Charlie Chan, um chinês que cita Confúcio no meio das investigações;
Margery Alling, Albert Campion; Ellery Queen um detetive de lunetas com o mesmo
nome, que desafia o leitor; Dashiell Hammett um detetive particular à sua
própria imagem, Sam Spade; John Dickson Carr, o Dr. Gideon Fell; Georges
Simenon revolta-se contra o segundo plano em que colocado polícia profissional
e recorta, com uma humanidade extraordinária, um polícia a sério – o Inspetor
Maigret – um homem casado, que se constipa e faz do cachimbo o seu emblema e
que progride na Polícia, chegando a Comissário e obtendo uma reforma pacata.
Nero
Wolfe é seu contemporâneo, mas é a antítese de Maigret. É investigador privado,
adora cerveja e orquídeas, pesa umas boas arrobas e não sai de casa. O seu
braço direito é Archie Goodwin cujas tiradas humorísticas valem os livros de
Rex Stout, o seu autor. Entretanto, a América, fértil em escritores do género,
oferece-nos o advogado Perry Mason de Erle Stanley Gardner e o bissexual e
serial killer Tom Ripley de Patrícia Highsmith.
A
corrente moderna da violência faz nascer a lei de Talião de “olho por olho e
dente por dente” de Mickey Spillane, com o seu Mike Hammer, ou o Lew Archer de
Ross Macdonald.
Oito destes escritores (suas obras e suas personagens) serão recordados nas próximas edições da nossa secção, no “Torneio Quem é? Quem é?”, onde homenagearemos também três grandes escritores policiais portugueses: Dick Haskins, Dennis McShade e Ross Pynn.