A pausa do torneio de decifração “Solução à Vista!” para férias dos
nossos “detetives”, até 5 de setembro, não implica qualquer alteração no prazo
de envio das propostas de solução da primeira prova (“Que 31 Policiário”), que
expira no dia 31 de julho. Depois, sim, vamos de Férias!
AGOSTO
É MÊS DE PAUSA PARA GOZO DE MERECIDAS FÉRIAS
Após alguma reflexão, que ocupou as nossas meninges nos últimos dias, decidimos ir ao encontro dos desejos expressos por alguns dos nossos mais assíduos seguidores e habituais participantes nas iniciativas que temos vindo a desenvolver ao longo dos últimos seis anos. Fomos sensíveis a argumentos como “gostava de não fazer nada durante o mês de agosto, que não seja expor-me ao sol, mergulhar, ler e descansar” ou “este será o primeiro mês de agosto pós-início da pandemia em que posso curtir a família a tempo inteiro, sem quaisquer compromissos exteriores”, pelo que vamos suspender a secção até 5 de setembro. Deixamos, entretanto, uma sugestão a todos: nestas férias de verão leiam livros policiais de autores portugueses, começando, por exemplo, por revisitar uma das obras de Dennis McShade e Ross Pynn, que dão nome aos prémios conquistados por Detetive Jeremias e Os Mosqueteiros no torneio “Quem é? Quem é?”, que encerramos hoje.
Dennis McShade
Detetive Jeremias conquistou a taça Dennis MacShade, pseudónimo
de Dinis Machado, nascido em Lisboa, conhecido fundamentalmente como autor do
romance “O Que Diz Molero”, publicado pela primeira vez em 1977, que alcançou
um sucesso estrondoso junto do público e da crítica, tendo sido traduzido para
espanhol, búlgaro, romeno, alemão e italiano.
Escritor, jornalista desportivo, crítico de cinema e
ainda autor de banda desenhada, antes do romance que lhe deu um lugar de grande
destaque na literatura portuguesa, Dinis Machado foi Dennis McShade, autor de
livros policiais, criador de Peter Maynard, um assassino profissional.
Em menos de um ano, entre 1967 e 1968, e sob o
disfarce deste quase homónimo americano, o autor de “O Que Diz Molero”,
publicou três livros de puro delírio policial e detetivesco para a coleção
Rififi, que escreveu quase secretamente e que provocaram grande celeuma na
altura.
Estes seus romances foram considerados subversivos
para a época, todos eles protagonizados por Peter Maynard – um tipo duro como
Mike Hammer de Psilane, dado a solilóquios como Philip Marlowe de Raymond Chandler,
bebedor de leite como Archie Goodwin de Rex Stout e grande leitor como o patrão
do dito Goodwin, Nero Wolfe – e estão a milhas da maioria dos que então se
escreviam em Portugal, constituindo-se como objetos altamente singulares.
“Mão Direita do Diabo”, o primeiro a ser editado,
apresentava-se como “uma porta aberta para o mundo secreto do crime organizado”,
mas na verdade o seu protagonista identifica-se como solitário, contratado para
um assassínio comum, enquanto se debate com uma úlcera que o obriga a andar
agarrado ao abdómen nas situações mais complicadas, oscilando entre o uísque e
o leite.
“Requiem para D. Quixote”, o segundo livro, é um hino
à “vitória do espírito sobre a matéria”, uma homenagem aos sonhadores e aos
impotentes na operacionalização dos seus sonhos, afirmando-se como um dos
melhores policiais negros de sempre na literatura portuguesa.
“Mulher e Arma com Guitarra Espanhola”, o terceiro
livro, encerra uma tese sobre o feminino, nos seus múltiplos e insondáveis
enigmas: mulher, o céu e o inferno, o alento e a debilidade, o afago e a
traição, que levou a censura a desconfiar da verdadeira identidade do seu autor,
tendo Dinis Machado “criado” um crítico americano que viria a “escrever” sobre
o “original”.
Após o último título desta trilogia, Dennis McShade silenciou para sempre Peter Maynard, sem nunca deixar de escrever histórias policiais. Esquecido numa gaveta, “Blackpot” foi publicado postumamente. São 58 páginas de uma narrativa algo apocalítica, em que após tantos mortos, tudo fica na mesma, e onde o autor nos deixa uma frase tremenda, enigmática, de Camus: “quando formos todos culpados então será a democracia”. Dinis Machado/Dennis MacShade deixou-nos em 2008.
Ross Pynn
Os Mosqueteiros venceram a Taça Ross Pynn, pseudónimo de (José Augusto) Roussado
Pinto, jornalista e autor multifacetado, que durante muitos anos dirigiu o Jornal
do Incrível e o Jornal da Sexologia (apesar da sua filha, Zaida Roussado Pinto,
figurar como diretora na ficha técnica), tendo igualmente publicado diversas
obras literárias e trabalhado em outras publicações, como o Diário Ilustrado,
utilizando dezenas de outros pseudónimos, como Steve Hil ou Edgar Cayil.
Descrito como uma das figuras mais lendárias do jornalismo e da literatura
popular em Portugal, Roussado Pinto foi também um dos responsáveis pela
expansão da Banda Desenhada no nosso país, sendo uma figura importante de
publicações como O Mosquito e Mundo de Aventuras, e tendo dirigido também
Flecha, Titã e Jornal do Cuto. Mas foi como Ross Pynn e com a personagem Joe
Stassio, um italo-americano veterano da guerra da Coreia, que ele mais se
afirmou.
Nos anos 1970 foram republicadas pela editora Portugal Press as suas
várias obras, algumas já com reedições na década anterior, logo após terem sido
publicadas originalmente, numa coleção intitulada “Obras de Ross Pynn”, de onde
sobressaem os três primeiros volumes (com os títulos “O Nome Dela é Claire”, “O
Caso da Mulher Cega” e “O Caso da Mulher Nua”), romances de choque, em clima de
espionagem, intensos e tenebrosos, que foram grande sucesso de vendas.
Destacamos estes títulos da sua vasta obra policial, de ação e espionagem
porque eles evidenciaram um Ross Pynn ainda mais humano, chocante e violento. Sobretudo
o terceiro, que acabaria por provocar a ira da polícia política do Estado Novo,
ao ponto de a censura proibir a venda da sua primeira edição, na década de
1960, com o pretexto de o seu protagonista, um homem sem profissão, ser contra
a guerra, estando o país nessa altura a braços com a guerra colonial.
Foram estes romances de grande originalidade e criatividade, entre muitos
outros, que o consagraram como um dos maiores romancistas policiais de todos os
tempos, garantindo-lhe uma espécie de passaporte para a imortalidade. Mas esse
fenómeno de transfiguração não “matou” a sua identidade. Roussado Pinto ficou
para a posteridade não só como “pai” do Ross Pynn. Cabe-nos, por isso, honrar o
seu nome e a obra incomensurável que nos legou também como jornalista e editor,
dando primazia, nesta função, às revistas para os mais jovens e à banda
desenhada.
José Augusto Roussado Pinto deixou-nos em 1986, após um terceiro colapso cardíaco (o primeiro ocorrera em 1975 e o segundo em 1982), a que não será estranho o grande apego à sua multifacetada atividade profissional, que o levava a cumprir jornadas de trabalho de muitas horas.
VOLTAMOS NO DIA 5 DE SETEMBRO
O torneio de decifração “Solução à Vista!” regressa no dia 5 de setembro,
com a publicação da sua segunda prova, da autoria de Detetive Ynpru Sedent, mais
um nome que surge pela primeira vez na história dos nossos passatempos. Até lá,
desejamos umas excelentes férias a todos os nossos leitores, nomeadamente aos
que nos acompanham assídua e ativamente edição-após-edição.
EIS O PRIMEIRO ENIGMA DO TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Arranca
hoje o torneio de decifração “Solução à Vista!”, composto por doze provas com
assinatura de Alybi, Detetive Ynpru Sedente, Rigor Mortis, Bernie Leceiro, Ma(r)ta
Hari, Porthos, Subchefe Ferrolho, Athos, Detetive Jeremias, Daniel Falcão,
Búfalos Associados e Inspetor Boavida, publicados por esta ordem, no início de
cada mês. Estes enigmas, à exceção do último, da autoria de Inspetor Boavida,
integram por sua vez o concurso de produção “Mãos à Escrita!”, sendo avaliados
por todos decifradores e pelo orientador da secção. Para o efeito, estes dispõem
de 5 a 10 pontos para atribuir a cada enigma, após a publicação da respetiva “solução
de autor”.
O
enigma que hoje se publica e que constitui a prova nº 1 do torneio “Solução à
Vista!” será, por isso, avaliado pelos seus decifradores até final do mês de
agosto, devendo a respetiva pontuação ser enviada com a proposta de solução da
prova nº 2. A pontuação a atribuir ao enigma que constituí a prova nº 2 será
enviada com a proposta de solução da prova nº 3, procedendo-se deste modo até à
pontuação do enigma da prova nº 9. E o enigma vencedor do concurso “Mãos à
Escrita!” será o que atingir a melhor pontuação média atribuída pelos
decifradores e o orientador da secção, razão pela qual o enigma da prova 12, de
sua autoria, é apresentado extraconcurso.
Mas voltemos ao enigma que contitui a prova nº 1 do torneio “Solução à Vista!”, que hoje se publica. Trata-se de um género pouco ao gosto dos decifradores mais experientes, mas de fácil agrado dos que se querem aventurar pela primeira vez na prática desta modalidade, por não exigir grandes conhecimentos de técnica policial nem qualquer esforço de raciocínio lógico ou grande desenvolvimento da capacidade de dedução, bastando para a sua resolução um profundo interesse pela leitura de literatura policial ou uma aturada pesquisa com o auxílio dos motores de busca da internet, onde normalmente encontramos resposta às nossas dúvidas com alguns simples cliques.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 1
“Que 31 Policiário”, de Alybi
Está a sair do cais — soube-se mais tarde — o barco da morte, onde a mulher dos olhos cinzentos, alta morena e fatal jogou a última cartada, e disse: ninguém é eterno, e ordenou: sepultem-me bem fundo! E eis que lhe respeitaram a vontade, tão rica, tão bela e… morta. Tragédia em 3 actos. Cai o pano. Ele recebeu o dinheiro fatal, por ironia salteador e cavalheiro da fortuna indesejável, distraído, tropeça no cadáver inesperado, antes de uma visita macabra, dos mercadores de heranças e o inevitável choque de ambições. A mulher fantasma, marcada a fogo, no reino da perversidade. Carago! Foi trágico o último encontro. Knock-out. Quem sabe a verdade? As três beldades? O impostor? O tio prodigioso? — Perfídia que mata! Viagem sem regresso, um enigma para loucos, ou talvez, o mistério do iate desaparecido, certamente um desafio à polícia. Como assim? O diabo que resolva. São 31! Quais são eles?
DESAFIO AO LEITOR
Que 31 Policiário! Identifique-os e envie a sua solução para o orientador da secção, através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com, até ao último dia deste mês de julho.
NOTAS FINAIS SOBRE O TORNEIO “QUEM É? QUEM
É?”
Iniciámos o ano de 2022 com o torneio “Quem é? Quem é?”, com o qual nos
propúnhamos recordar e homenagear os mais importantes nomes da literatura
policial, entre os quais figuram naturalmente vários escritores portugueses que
deixaram marca neste género literário, elegendo entre eles oito notáveis
autores estrangeiros. Como nota final desta iniciativa, recordamos hoje o escritor
Dick Haskins, que deu nome ao prémio do vencedor, e na próxima edição recordaremos
Dennis McShade e Ross Pynn, nomes dos autores que figuram nos prémios dos 2º e
3º classificados.
Dick Haskins
Bernie Leceiro foi o grande vencedor do torneio “Quem é? Quem é?”,
distinguido com a Taça Dick Haskins, pseudónimo de António de Andrade
Albuquerque, escritor natural de Lisboa que foi traduzido em mais de 30 países,
desde o final da década de 1950, sendo identificado ainda hoje como um dos mais
internacionais dos autores da literatura portuguesa.
Dick Haskins escreveu o primeiro livro aos 25 anos, “O
Sono da Morte”, que chegaria às livrarias em 1958, abandonando então o curso de
medicina. Ao todo, este notável escritor de policiais publicou 24 livros, o
último dos quais o romance “A Metáfora do Medo”, em 2016.
A maioria dos seus livros foi publicada pela coleção
policial Enigma, mas também pelas coleções Vampiro e Xis, além da DêaGá,
editora que ele próprio fundou em 1964 e manteve até 1975, onde publicou
coleções policiais, de espionagem, ficção científica, romance e história.
Entre as suas obras, destacam-se “O Isqueiro de Oiro”,
que constituiu um sucesso de leitores em todas as suas inúmeras reedições, “O
Espaço Vazio”, que o escritor elegeu como seu preferido, ou “O Papa que Nunca
Existiu”, no qual fala de um pontífice sem vaidades nem preconceitos.
A partir de 1961, a sua obra começou a ser traduzida,
tendo chegado rapidamente a mais de três dezenas de países, com destaque para a
Alemanha, onde chegou a estar entre os autores policiais preferidos, ou em
Espanha, Suíça e Áustria, onde alcançou igualmente grande sucesso.
Dick Haskins foi também publicado em países de língua
inglesa, como o Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e África
do Sul, em países nórdicos – Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia – e ainda em
França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.
Na América Latina, os livros de Dick Haskins chegaram
ao México, à Colômbia, à Argentina, ao Uruguai e ao Brasil, entre outros
países, por onde também passaram com grande sucesso um filme e uma série
televisiva de produção luso-franco-alemã com base na sua obra.
O seu romance “O Caso Barbot” foi transposto para o
cinema com o título “Fim de Semana com a Morte”, com interpretação de Peter van
Eyck, Letícia Roman e António Vilar; e alguns dos seus contos serviram de base
a uma série de 12 episódios realizada pela RTP na década de 1970.
António de Andrade Albuquerque/Dick Haskins deixou-nos em 2018. Dois anos antes, disse, numa entrevista, esperar que os seus livros lhe sobrevivam: “Acho que o que conta é o que está feito, que, bom ou mau, foi escrito com honestidade” (…) “mas tenho livros que ninguém esquece”.