MUDANÇAS NA LIDERANÇA DO TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Antes de desvendarmos a solução de autor do enigma que constituiu a prova nº 2 do torneio “Solução à Vista!” e a sua classificação atual, quando estão cumpridos todos os processos a ela relativos, publicamos a conclusão do enigma de Rigor Mortis, que constitui a prova nº 3.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 3
“A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis
II – Parte (conclusão)
Só por volta das cinco e meia da manhã é que os agentes da Polícia
puderam trazer até à VarEstra a mulher e o irmão de Túlio Lavandas. O corpo já
tinha sido levado para a morgue, onde seria autopsiado, mas João Velhote
continuava lá, aproveitando a oportunidade para longos interrogatórios ao Luís
Miguel e ao subchefe da segurança da VarEstra.
Pelo primeiro ficou a conhecer a excelente situação financeira da
VarEstra, mas também pormenores sobre a tumultuosa relação conjugal do seu
presidente executivo. Interrogou o subchefe da segurança da empresa sobre o
circuito de vídeo vigilância. Era muito sofisticado, mas, como qualquer sistema
do género, tinha deficiências resultantes da configuração do próprio edifício –
colunas, esquinas apertadas e escadas interiores estreitas eram sempre um
problema complicado. As múltiplas entradas nos armazéns, nas traseiras do
edifício, eram outro problema difícil de resolver. O andar da administração da
empresa, último piso do edifício, não tinha qualquer câmara. Nada que João
Velhote não tivesse visto em muitos outros locais.
Velhote dirigiu-lhes as primeiras perguntas:
– A senhora é, suponho, a esposa do doutor Túlio Lavandas. Ao que julgo
saber, teria sobejas razões para estar desencantada com o seu marido… Por que
não se divorciou?
Márcia Lavandas, fisicamente frágil, mas atraente e elegante, mostrava-se
muito cansada e angustiada. As rugas vincavam-lhe a testa, os lábios estavam
apertados, os cantos da boca puxados para baixo.
– Muita gente sabe que o tentei várias vezes, mas o Túlio nunca se
mostrou disposto a tal. – A sua voz, ainda que bem modulada, era rouca e as palavras
pareciam sair com dificuldade.
– Esteve aqui esta noite, não foi?
– Sim… Pouco depois da meia-noite. Ao jantar, numa festa de aniversário
de um amigo, soube pelo Luís Miguel, que também lá estava, que o Túlio estava a
trabalhar na empresa e resolvi vir para o tentar convencer, se possível
definitivamente, a aceitar o divórcio. Quando entrei no gabinete… – a voz
embargou-se – encontrei-o ali… – apontou para a secretária – morto… Fiquei sem
saber o que fazer… Acabei por me ir logo embora… E ir a pé para casa…
– E você é o único irmão do Túlio Lavandas, não é? – A pergunta foi
dirigida a Silvino Lavandas, alto, musculado e seco de carnes, com as vestes
algo desalinhadas. – Dez anos mais novo, amigo da farra e jogador inveterado,
certo? Também aqui esteve esta noite, não foi? A que propósito?
– Sim… – Silvino hesitou um par de segundos antes de responder. – Vim de
facto aqui à VarEstra, para falar mais uma vez ao Túlio e para o convencer a
dar-me a minha parte da herança dos nossos pais. Preciso desse dinheiro…
– Entrei pouco depois da meia-noite e meia. E encontrei aqui o Túlio morto, sobre a secretária, com um tiro na cabeça. Obviamente, dei meia-volta e tornei a sair. Fui até um bar e por lá fiquei um par de horas, até voltar para casa. Não fui eu que matou o Túlio! – A última frase foi pronunciada num jato, eivado de raiva, ainda que se pudesse notar um leve tom de satisfação.
O DESAFIO AO LEITOR
Caro leitor, qual é a sua ideia? Será que João Velhote está enganado e que se tratou de facto de um suicídio? Se foi um assassinato, quem foi o assassino? Alinhe as suas deduções e descreva o que poderá ter ocorrido na noite da morte de Túlio Lavandas. A proposta de solução deve ser enviada através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com, impreterivelmente até 10 de novembro, acompanhada da pontuação atribuída ao enigma que constitui a prova nº. 2 (“Mataram o Mau-Diabo”, de Detetive Ynpru Sedent), cuja “solução oficial” se publica de seguida.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Solução da Prova nº. 2
“Mataram o Mau-Diabo”, de Detetive Ynpru Sedent
Resposta certa:
Alínea d) Outro antigo companheiro de quem o narrador não fala, não
convidado, por o Silva da Selva ser, naquele tempo, o melhor da turma, em vez
de dele, claro.
Não nos dando os depoimentos dos suspeitos dados suficientes para os
acusar, o malogrado Silva da Selva foi atingido pelo não convidado, com um tiro
feito com silenciador quando a vítima lhe estendera a mão para o cumprimentar.
Nota do orientador da secção: são quatro as hipóteses de autor do crime colocadas pelo Detetive Ynpru Sedent, deixando de fora uma das personagens nomeadas (Mi) e apontando como suspeito um outro antigo companheiro da vítima não incluído nas personagens nomeadas. Este facto devia ter alertado os nossos “detetives”, mas a verdade é que ele foi desvalorizado pela esmagadora maioria, apesar de os depoimentos recolhidos pelo Chefe Gazua e seus parceiros de investigação não apresentarem indícios suficientemente fortes de autoria de crime das pessoas ouvidas. Esta situação não escapou, porém, ao “faro detetivesco” de uma minoria de concorrentes (13), que, assim, conquistam pontos preciosos. Mas nem tudo está perdido para os restantes, que se dividiram pelas outras três hipóteses de resposta. Ainda estamos no início. Há muitas provas pela frente…
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (2ª. PROVA)
1ºs. Búfalos Associados (10+13) e Detetive
Jeremias (12+11): 23 pontos;
3º. Inspetor Gigas (10+12): 22 pontos;
4º. Paulo (13+8): 21 pontos;
5ºs. Dona Sopas, Holmes, Inspetor Moscardo,
Inspetor Mucaba, Ma(r)ta Hari, Moura Encantada, Oluap Snitram, Os Mosqueteiros e Zé
de Mafamude (10+10): 20 pontos;
14ºs. Da Vinci: (11+8) e Pena Cova (9+10): 19 pontos;
16ºs. Abrótea, Agata Cristas, Amiga Rola, Arc
Anjo, Beira-Rio, Bernie Leceiro, Bota Abaixo, Broa de Avintes, Charadista, Detetive
Bruno, Dragão de Santo Ovídio, Elisa Bethy, Faina do Mar, Haka Crimes,
Inspetor Guimarães, Inspetor Madeira, Inspetor Mostarda, Mancha
Negra, Mário
Gomes, Martelo, Menino Lucas, Mosca, Mosca Morta, Mula Velha, O Madeirense, Pedro Miguel,
Pim-Pim Leite, Príncipe da Madalena, Solidário, Talismã, Tó Fadista e Visconde das
Devesas (10+8):
18 pontos;
48ºs. Anónimo, Chico da Afurada e Mascarilha (9+8): 17 pontos;
51ºs. Carlota Joaquina, Pequeno Simão,
Santinho da Ladeira e Zurrapa Verde (8+8): 16 pontos;
55ºs. Detetive Vasofe, Necas e Vitinho (7+8): 15 pontos.
CONCURSO “MÃOS À ESCRITA!”
PONTUAÇÃO - 1ª. PROVA
O
concurso “Mãos à Escrita!” tem já um enigma pontuado: “Que
31 Policiário”, de Aliby, que constituiu a 1ª Prova do torneio
“Solução à Vista!”, recolheu uma média de 6,00 pontos.
PROVA Nº. 3 – ESCLARECIMENTO
Como aqui na Internet, nos blogues e sites, não há limitação de espaço, e como também temos conhecimento dos emails da totalidade dos concorrentes em prova, publicaremos o enigma de Rigor Mortis na íntegra, aqui no Local do Crime e no Clube de Detectives, ao mesmo tempo que o enviaremos por email (para todos!). Por outro lado, alargaremos o prazo de envio das propostas de solução ao enigma até 10 de novembro, de forma a que os eventuais concorrentes que venham a integrar o pelotão a partir desta prova 3, disponham de pelo menos 20 dias para o fazerem.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 3
“A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis
Noite sem Lua, escura, quente, húmida, desagradável.
Márcia seguia pelo passeio, embrenhada nos seus pensamentos. Estava
farta, e furiosa, das constantes infidelidades do marido, ainda por cima
agravadas pelas suas bravatas junto dos amigos, e pela sua sistemática recusa
em conceder o divórcio. Nessa noite estava decidida a pôr um ponto final em
tudo aquilo. Poderia ser um passo extremo, mas estava desesperada e decidida a
tudo. Enquanto entrava no moderno prédio de 6 andares, todo ele ocupado pela
empresa de que Túlio era coproprietário e presidente executivo, acariciou a
pequena pistola que levava no bolso do casaco leve, cor-de-rosa, e olhou de
relance para o relógio por cima do balcão da receção – era meia-noite e um
quarto. Fez um aceno de cabeça ao segurança, que a saudou atenciosamente. Não
era comum Márcia ir à sede da empresa do marido, mas já o tinha feito algumas
vezes, mesmo à noite, quando Túlio ali ficava a trabalhar no seu escritório no
último andar.
Silvino abriu mais um botão da sua camisa, incomodado com o calor que se
fazia sentir naquela noite. A agitação que o dominava tornava-o ainda mais
sensível à temperatura. As ameaças que o agiota a quem devia uma enorme maquia
lhe tinha feito nessa tarde tinham-no posto a suar durante horas. Ia exigir, de
uma vez por todas, que o irmão lhe desse a sua parte da herança dos pais, mais
do que suficiente para pagar as suas dívidas. Sabia que não seria fácil, até
porque Túlio, bem conhecedor do seu carácter volátil e gastador, nunca se tinha
mostrado disposto a isso. E os dez anos a menos do Silvino tinham sido sempre
suficientes para que o Túlio levasse a sua avante. Mas naquele dia isso tinha
que acabar. O agiota ameaçara dar cabo dele se não pagasse e Silvino estava
disposto a tudo para levar o irmão a dar-lhe o dinheiro. A arma que levava no
bolso das calças seria o seu argumento final, se necessário. Ao passar pelo
balcão da receção da empresa do irmão cumprimentou pelo nome o segurança que lá
estava, que conhecia bem das muitas vezes que lá fora para tentar convencer o irmão.
O relógio mostrava meia-noite e trinta e cinco.
Luís Miguel Sanches entrou pela porta do edifício sede da empresa de que
era sócio e coproprietário com o Túlio Lavandas. Cumprimentou secamente o
segurança, que o saudou efusivamente. Ainda que a sua quota fosse pouco menor
que a do Túlio, este tinha sempre reservado para si mesmo o papel determinante
na empresa, de presidente e diretor-executivo, remetendo-o ostensivamente às
funções de responsável pela logística e segurança. Estava mais do que farto das
sucessivas, sistemáticas e deliberadas desconsiderações de que era alvo pelo
Túlio, quando, ao fim e ao cabo, a empresa nem teria começado se não fosse o
dinheiro que lá tinha posto e a sua determinação no seu sucesso. Mas a partir
daquele dia tudo iria mudar e ele tomaria o lugar do Túlio. O relógio por cima
do balcão da receção mostrava uma hora e cinco minutos.
***********************
O inspetor João Velhote estava de mau humor. Não tinha ficado nada
satisfeito ao ser chamado pela central, por causa da morte de um empresário
muito conhecido, já bem depois da uma da manhã. À entrada do edifício sede da
VarEstra, Importações e Exportações, estava o subchefe da segurança da empresa,
que o conduziu imediatamente ao último andar, ao gabinete do presidente da
VarEstra. Para além de dois agentes da Polícia, na sala estavam ainda o
médico-legista e outro homem, de compleição atlética.
O morto era Túlio Lavandas, sócio maioritário e presidente executivo da
empresa. Estava sentado no cadeirão junto à sua secretária, com o tronco
deitado sobre o seu tampo, numa poça de sangue. Junto à sua mão direita estava
uma pistola de pequeno calibre. Na fronte direita, virada para cima, era
visível o orifício causado pela bala, a pele em redor queimada pela pólvora, evidência
de um disparo à queima-roupa. Junto ao queixo, do lado direito da face, exibia
um forte hematoma azulado.
O médico-legista, já no local bem antes do inspetor, informou-o de que a
morte teria ocorrido entre a meia-noite e a uma hora da madrugada.
– Reparou neste hematoma, no queixo e face direita, certo? –
perguntou-lhe João Velhote – Poderá ter sido resultante do embate da cabeça no
tampo da secretária após o disparo?
– Decerto que não. Esse embate nunca poderia ter provocado um hematoma
tão severo. Diria que alguém o socou com violência, ou lhe bateu com algum
objeto no lado direito do queixo. Pelo aspeto, neste mesmo dia.
João Velhote refletiu, mordiscando o lábio superior e expondo os
incisivos inferiores por baixo do bigode grisalho: “Nem pensar em suicídio…
Empresário de relevo, fisicamente forte e bem parecido, orgulhoso de si
próprio, rico, reconhecidamente bem-sucedido junto do elemento feminino, não
teria razões para se matar…”
– Quem esteve aqui esta noite? – perguntou ao subchefe da segurança.
– O doutor Lavandas foi visitado esta noite pela esposa, D. Márcia
Lavandas, e pelo irmão, Silvino Lavandas. A senhora entrou às 00h15 e o irmão
às 00h35, como anotado pelo segurança de serviço na porta e conforme já tive
oportunidade de verificar nas imagens do circuito de vídeo vigilância. Qualquer
deles esteve na empresa menos de dez minutos. Aqui o doutor Luís Miguel
Sanches, vice-presidente da VarEstra e diretor do departamento de Logística e
Segurança, chegou à 01h05. Foi ele que encontrou o corpo do doutor Lavandas e
me chamou, bem como telefonou à Polícia.
– Humpff… – resmungou João Velhote. E virando-se para o outro homem
presente, Luís Miguel Sanches:
– Diga lá de sua justiça…
– Como disse o senhor Marques, subchefe da Segurança da empresa, cheguei
aqui por volta da uma hora da madrugada. Precisava de falar urgentemente com o
doutor Lavandas, e como sabia que ele estava aqui a trabalhar num processo de
exportação de fruta para os Estados Unidos, que nos tem estado a dar muitos
problemas, vim até cá. Quando entrei no gabinete encontrei-o como pode ver, já
morto. Não toquei em nada e chamei imediatamente o senhor Marques. E telefonei
para a Polícia, claro, informando-vos do facto.
– Humpff… – resmungou novamente João Velhote.
Só por volta das cinco e meia da manhã é que os agentes da Polícia
puderam trazer até à VarEstra a mulher e o irmão de Túlio Lavandas. O corpo já
tinha sido levado para a morgue, onde seria autopsiado, mas João Velhote
continuava lá, aproveitando a oportunidade para longos interrogatórios ao Luís
Miguel e ao subchefe da segurança da VarEstra.
Pelo primeiro ficou a conhecer a excelente situação financeira da
VarEstra, mas também pormenores sobre a tumultuosa relação conjugal do seu
presidente executivo. Interrogou o subchefe da segurança da empresa sobre o
circuito de vídeo vigilância. Era muito sofisticado, mas, como qualquer sistema
do género, tinha deficiências resultantes da configuração do próprio edifício –
colunas, esquinas apertadas e escadas interiores estreitas eram sempre um
problema complicado. As múltiplas entradas nos armazéns, nas traseiras do
edifício, eram outro problema difícil de resolver. O andar da administração da
empresa, último piso do edifício, não tinha qualquer câmara. Nada que João
Velhote não tivesse visto em muitos outros locais.
Velhote dirigiu-lhes as primeiras perguntas:
– A senhora é, suponho, a esposa do doutor Túlio Lavandas. Ao que julgo
saber, teria sobejas razões para estar desencantada com o seu marido… Por que
não se divorciou?
Márcia Lavandas, fisicamente frágil, mas atraente e elegante, mostrava-se
muito cansada e angustiada. As rugas vincavam-lhe a testa, os lábios estavam
apertados, os cantos da boca puxados para baixo.
– Muita gente sabe que o tentei várias vezes, mas o Túlio nunca se mostrou
disposto a tal. – A sua voz, ainda que bem modulada, era rouca e as palavras
pareciam sair com dificuldade.
– Esteve aqui esta noite, não foi?
– Sim… Pouco depois da meia-noite. Ao jantar, numa festa de aniversário
de um amigo, soube pelo Luís Miguel, que também lá estava, que o Túlio estava a
trabalhar na empresa e resolvi vir para o tentar convencer, se possível
definitivamente, a aceitar o divórcio. Quando entrei no gabinete… – a voz
embargou-se – encontrei-o ali… – apontou para a secretária – morto… Fiquei sem
saber o que fazer… Acabei por me ir logo embora… E ir a pé para casa…
– E você é o único irmão do Túlio Lavandas, não é? – A pergunta foi
dirigida a Silvino Lavandas, alto, musculado e seco de carnes, com as vestes
algo desalinhadas. – Dez anos mais novo, amigo da farra e jogador inveterado,
certo? Também aqui esteve esta noite, não foi? A que propósito?
– Sim… – Silvino hesitou um par de segundos antes de responder. – Vim de
facto aqui à VarEstra, para falar mais uma vez ao Túlio e para o convencer a
dar-me a minha parte da herança dos nossos pais. Preciso desse dinheiro…
– Entrei pouco depois da meia-noite e meia. E encontrei aqui o Túlio morto, sobre a secretária, com um tiro na cabeça. Obviamente, dei meia-volta e tornei a sair. Fui até um bar e por lá fiquei um par de horas, até voltar para casa. Não fui eu que matou o Túlio! – A última frase foi pronunciada num jato, eivado de raiva, ainda que se pudesse notar um leve tom de satisfação.
O DESAFIO AO LEITOR
Caro leitor, qual é a sua ideia? Será que João Velhote está enganado e
que se tratou de facto de um suicídio? Se foi um assassinato, quem foi o
assassino? Alinhe as suas deduções e descreva o que poderá ter ocorrido na
noite da morte de Túlio Lavandas. A proposta de solução deve ser enviada
através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com,
impreterivelmente até 10 de novembro, acompanhada da pontuação atribuída
ao enigma que constitui a prova nº. 2 (“Mataram o Mau-Diabo”, de
Detetive Ynpru Sedent).
MAIS UMA INVESTIGAÇÃO DO INSPETOR JOÃO VELHOTE
Publicamos nesta edição o enigma que constitui a prova nº. 3 do torneio de decifração “Solução à Vista!”, da autoria de Rigor Mortis, que marca o regresso do inspetor João Velhote à investigação de mais um caso policial de grande complexidade. Face à extensão do seu enunciado, decidimos dividir o enigma em duas partes, publicando a sua conclusão da próxima edição. Como sempre, aconselhamos leituras atentas aos nossos “detetives”, desejando a todos boas deduções.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 3
“A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis
I – Parte
Noite sem Lua, escura, quente, húmida, desagradável.
Márcia seguia pelo passeio, embrenhada nos seus pensamentos. Estava
farta, e furiosa, das constantes infidelidades do marido, ainda por cima agravadas
pelas suas bravatas junto dos amigos, e pela sua sistemática recusa em conceder
o divórcio. Nessa noite estava decidida a pôr um ponto final em tudo aquilo.
Poderia ser um passo extremo, mas estava desesperada e decidida a tudo.
Enquanto entrava no moderno prédio de 6 andares, todo ele ocupado pela empresa
de que Túlio era coproprietário e presidente executivo, acariciou a pequena
pistola que levava no bolso do casaco leve, cor-de-rosa, e olhou de relance
para o relógio por cima do balcão da receção – era meia-noite e um quarto. Fez
um aceno de cabeça ao segurança, que a saudou atenciosamente. Não era comum
Márcia ir à sede da empresa do marido, mas já o tinha feito algumas vezes,
mesmo à noite, quando Túlio ali ficava a trabalhar no seu escritório no último
andar.
Silvino abriu mais um botão da sua camisa, incomodado com o calor que se
fazia sentir naquela noite. A agitação que o dominava tornava-o ainda mais
sensível à temperatura. As ameaças que o agiota a quem devia uma enorme maquia
lhe tinha feito nessa tarde tinham-no posto a suar durante horas. Ia exigir, de
uma vez por todas, que o irmão lhe desse a sua parte da herança dos pais, mais
do que suficiente para pagar as suas dívidas. Sabia que não seria fácil, até
porque Túlio, bem conhecedor do seu carácter volátil e gastador, nunca se tinha
mostrado disposto a isso. E os dez anos a menos do Silvino tinham sido sempre
suficientes para que o Túlio levasse a sua avante. Mas naquele dia isso tinha
que acabar. O agiota ameaçara dar cabo dele se não pagasse e Silvino estava
disposto a tudo para levar o irmão a dar-lhe o dinheiro. A arma que levava no
bolso das calças seria o seu argumento final, se necessário. Ao passar pelo
balcão da receção da empresa do irmão cumprimentou pelo nome o segurança que lá
estava, que conhecia bem das muitas vezes que lá fora para tentar convencer o
irmão. O relógio mostrava meia-noite e trinta e cinco.
Luís Miguel Sanches entrou pela porta do edifício sede da empresa de que
era sócio e coproprietário com o Túlio Lavandas. Cumprimentou secamente o
segurança, que o saudou efusivamente. Ainda que a sua quota fosse pouco menor
que a do Túlio, este tinha sempre reservado para si mesmo o papel determinante
na empresa, de presidente e diretor-executivo, remetendo-o ostensivamente às
funções de responsável pela logística e segurança. Estava mais do que farto das
sucessivas, sistemáticas e deliberadas desconsiderações de que era alvo pelo
Túlio, quando, ao fim e ao cabo, a empresa nem teria começado se não fosse o
dinheiro que lá tinha posto e a sua determinação no seu sucesso. Mas a partir
daquele dia tudo iria mudar e ele tomaria o lugar do Túlio. O relógio por cima
do balcão da receção mostrava uma hora e cinco minutos.
***********************
O inspetor João Velhote estava de mau humor. Não tinha ficado nada
satisfeito ao ser chamado pela central, por causa da morte de um empresário
muito conhecido, já bem depois da uma da manhã. À entrada do edifício sede da
VarEstra, Importações e Exportações, estava o subchefe da segurança da empresa,
que o conduziu imediatamente ao último andar, ao gabinete do presidente da
VarEstra. Para além de dois agentes da Polícia, na sala estavam ainda o
médico-legista e outro homem, de compleição atlética.
O morto era Túlio Lavandas, sócio maioritário e presidente executivo da
empresa. Estava sentado no cadeirão junto à sua secretária, com o tronco
deitado sobre o seu tampo, numa poça de sangue. Junto à sua mão direita estava
uma pistola de pequeno calibre. Na fronte direita, virada para cima, era visível
o orifício causado pela bala, a pele em redor queimada pela pólvora, evidência
de um disparo à queima-roupa. Junto ao queixo, do lado direito da face, exibia
um forte hematoma azulado.
O médico-legista, já no local bem antes do inspetor, informou-o de que a
morte teria ocorrido entre a meia-noite e a uma hora da madrugada.
– Reparou neste hematoma, no queixo e face direita, certo? –
perguntou-lhe João Velhote – Poderá ter sido resultante do embate da cabeça no
tampo da secretária após o disparo?
– Decerto que não. Esse embate nunca poderia ter provocado um hematoma
tão severo. Diria que alguém o socou com violência, ou lhe bateu com algum
objeto no lado direito do queixo. Pelo aspeto, neste mesmo dia.
João Velhote refletiu, mordiscando o lábio superior e expondo os
incisivos inferiores por baixo do bigode grisalho: “Nem pensar em suicídio…
Empresário de relevo, fisicamente forte e bem parecido, orgulhoso de si
próprio, rico, reconhecidamente bem-sucedido junto do elemento feminino, não
teria razões para se matar…”
– Quem esteve aqui esta noite? – perguntou ao subchefe da segurança.
– O doutor Lavandas foi visitado esta noite pela esposa, D. Márcia
Lavandas, e pelo irmão, Silvino Lavandas. A senhora entrou às 00h15 e o irmão
às 00h35, como anotado pelo segurança de serviço na porta e conforme já tive
oportunidade de verificar nas imagens do circuito de vídeo vigilância. Qualquer
deles esteve na empresa menos de dez minutos. Aqui o doutor Luís Miguel
Sanches, vice-presidente da VarEstra e diretor do departamento de Logística e
Segurança, chegou à 01h05. Foi ele que encontrou o corpo do doutor Lavandas e
me chamou, bem como telefonou à Polícia.
– Humpff… – resmungou João Velhote. E virando-se para o outro homem
presente, Luís Miguel Sanches:
– Diga lá de sua justiça…
– Como disse o senhor Marques, subchefe da Segurança da empresa, cheguei
aqui por volta da uma hora da madrugada. Precisava de falar urgentemente com o
doutor Lavandas, e como sabia que ele estava aqui a trabalhar num processo de
exportação de fruta para os Estados Unidos, que nos tem estado a dar muitos
problemas, vim até cá. Quando entrei no gabinete encontrei-o como pode ver, já
morto. Não toquei em nada e chamei imediatamente o senhor Marques. E telefonei
para a Polícia, claro, informando-vos do facto.
– Humpff… – resmungou novamente João Velhote.
(continua na próxima edição)