UMA NOVA SOLUÇÃO E MAIS ALTERAÇÕES NA
CLASSIFICAÇÃO
A edição de hoje é preenchida com a solução do enigma da prova nº 3 do torneio “Solução à Vista!” e a classificação geral resultante das pontuações obtidas pelos concorrentes, dando ainda nota da pontuação atribuída ao enigma da prova nº 2 no âmbito do concurso “Mãos à Escrita!”.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Solução da Prova nº. 3
“A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis
O inspetor João Velhote tinha muito poucas dúvidas sobre o caso. Provar
as suas conclusões, todavia, iria ser complicado.
Suicídio não tinha sido, manifestamente. Não só Túlio Lavandas não tinha
qualquer razão para se matar, como aquele recente e violento hematoma no queixo
e face direita não podia ficar sem explicação. Era razoável supor que tivesse
sido provocado por alguma pancada forte dada pelo assassino, com o propósito de
o dominar para depois o colocar na posição adequada para o matar simulando um
suicídio. Sendo Túlio um homem bastante forte, não conseguiria fazer isso se
ele estivesse plenamente consciente, evidentemente.
As imagens do circuito de vídeo vigilância eram perfeitamente claras e
mostravam apenas três pessoas e o segurança de serviço nessa noite, até à
chegada do subchefe da segurança, à 01h32, e da Polícia, minutos depois: Márcia
e Silvino tinham entrado no edifício às horas indicadas, 00h15 e 00h35,
atravessando o hall da receção em direção a um dos elevadores. Menos de dez
minutos depois, tinham voltado a sair do mesmo elevador e abandonado o
edifício, em passo rápido. Luís Miguel Sanches tinha entrado à 1h05 e só saíra
às 3h45, quando João Velhote o mandara para casa.
Silvino Lavandas não seria o assassino… Se a Márcia, que entrara
primeiro, já tinha visto o Túlio morto, Silvino estaria evidentemente a dizer a
verdade ao afirmar que o encontrara já morto…
A Márcia, pelo contrário, tinha tido a oportunidade para matar o Túlio…
Mas a sua compleição manifestamente frágil muito dificilmente lhe teria
permitido dominar o Túlio antes de o matar. Dar-lhe um soco nos queixos com
força suficiente para o fazer desmaiar não era sequer imaginável. Dar-lhe uma
pancada com algum objeto com o mesmo propósito era também muito pouco provável.
Teria que estar à sua vista, e o Túlio era fisicamente forte e suficientemente
ágil para evitar, ou impedir, algum golpe desse género. Portanto, a conclusão
era de que também não tinha sido a Márcia a matar o Túlio.
Forçoso era concluir que outro alguém tinha sido o assassino, tendo
cometido o crime antes da entrada da Márcia no gabinete do marido. Mas não
muito antes, a fazer fé no diagnóstico do médico-legista de que a morte teria
ocorrido entre a meia-noite e a uma hora da madrugada.
Quem? Dos suspeitos conhecidos só restava o Luís Miguel Sanches,
conhecidamente despeitado com o Túlio e com ambições justificadas de ascender à
presidência executiva…
Recriando mentalmente a sequência dos eventos, João Velhote mordiscou o
lábio superior, expondo os incisivos inferiores por baixo do bigode grisalho,
como era seu hábito. Segundo a Márcia, ela e o Luís Miguel tinham-se encontrado
ao princípio dessa noite no jantar de aniversário de um amigo comum, quando a
informara de que o Túlio estava a trabalhar na empresa nessa noite. O Luís
Miguel conhecia os problemas do casal, e terá sugerido que a Márcia fosse à
VarEstra para nova conversa com o marido sobre o divórcio… Talvez
incentivando-a a ter uma conversa definitiva sobre o assunto…
Convencida a Márcia a fazê-lo, Luís Miguel saiu antes dela do jantar de aniversário e dirigiu-se rapidamente até às vizinhanças do edifício sede da VarEstra. Utilizando os seus conhecimentos das insuficiências do circuito de vídeo vigilância da empresa – algo que nem o Silvino nem a Márcia tinham razões para conhecer – entrou a pé pela zona de armazéns, nas traseiras do edifício, que conhecia bem e de que tinha as chaves, fruto das suas funções na empresa, e subiu as escadas interiores até ao último piso, usando os ângulos-mortos das câmaras. Entrando no gabinete do Túlio, cumprimentou-o e aproximou-se dele o suficiente para, de surpresa, lhe desferir um forte soco. Era apenas preciso que o Túlio ficasse entontecido e incapaz de reagir por um par de minutos. Tempo suficiente para o sentar na cadeira e lhe deitar o torso sobre o tampo da secretária, colocar a mão dele a segurar a pistola de pequeno calibre que trazia, encostá-la à fronte direita e disparar o tiro fatal. Depois de olhar em redor, certificando-se de que tudo estava na ordem devida, Luís Miguel terá ido para o seu gabinete, onde aguardou a chegada da Márcia… Assim que ela saiu, fez o caminho inverso pelas escadas e saiu pelo mesmo sítio por onde tinha entrado, usando sempre os ângulos-mortos do sistema de vídeo vigilância. E pela uma da madrugada entrou calmamente pela receção da empresa, para proceder à descoberta do corpo de Túlio Lavandas, morto…
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (3ª. PROVA)
1º. Búfalos Associados (23+11): 34 pontos;
2ºs. Detetive Jeremias (23+10) e Paulo (21+12):
33 pontos;
4º. Da Vinci: (19+13): 32 pontos;
5ºs. Dona Sopas (20+10), Inspetor Gigas
(22+8), Inspetor
Moscardo (20+10), Inspetor Mucaba (20+10), Moura Encantada (20+10),
Oluap Snitram (20+10)
e Zé de Mafamude (20+10): 30 pontos;
12ºs. Holmes (20+9), Pena Cova (19+10): 29 pontos;
14ºs. Abrótea (18+10), Agata Cristas (18+10), Elisa Bethy
(18+10), Haka Crimes (18+10), Inspetor Guimarães (18+10), Inspetor
Mostarda (18+10), Mancha Negra (18+10), Mário Gomes (18+10), Ma(r)ta Hari (20+8), Mosca
(18+10), O
Madeirense (18+10), Pim-Pim Leite (18+10) e Visconde das Devesas (18+10): 28
pontos;
27ºs. Anónimo (17+10), Arc Anjo (18+9) e Mascarilha (17+10): 27
pontos;
30ºs. Amiga Rola, Beira-Rio, Bernie Leceiro, Bota
Abaixo, Broa
de Avintes, Charadista, Detetive Bruno, Dragão de Santo Ovídio, Faina do
Mar, Inspetor
Madeira, Martelo, Mosca Morta, Mula Velha, Príncipe da Madalena, Solidário, Talismã e Tó
Fadista (18+8):
26 pontos;
47ºs. Chico da Afurada (17+8) e Santinho da Ladeira (16+9): 25 pontos;
49ºs. Carlota Joaquina, Pequeno Simão e Zurrapa Verde
(16+8): 24 pontos;
52ºs. Detetive Vasofe, Necas e Vitinho (15+8): 23
pontos;
55º. Os Mosqueteiros (20+‒): 20 pontos;
56ºs. Menino Lucas e Pedro Miguel (18+‒): 18 pontos.
CONCURSO “MÃOS À ESCRITA!”
PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (ATÉ À 2ª. PROVA)
1º. “Mataram
o Mau-Diabo”,
de Detetive Ynpru Sedent: 6,30 pontos;
2º. “Que 31 Policiário”, de Aliby: 6,00 pontos.
UM
CRIME SAÍDO DO CANCIONEIRO POPULAR PÓS-25 DE ABRIL
O enigma que hoje se publica apoia-se no cancioneiro popular português pós Abril de 1974 e nas histórias vividas no Porto que se seguiu à Revolução dos Cravos, quando ainda ninguém sonhava sequer que o coração de D. Pedro IV pudesse alguma vez sair da Sé para rumar para o planalto brasileiro. Os protagonistas desta história, que parece mesmo uma prenda de aniversário ao orientador da secção, que comemora por estes dias 73 (setenta e três!) primaveras, são um misto de realidade e ficção, fruto da vivência e imaginação do seu autor, Bernie Leceiro, que esclarece: “Estávamos em plenos anos 80, tempos áureos da música pop rock portuguesa. Nomes como Rui Veloso, Táxi, Jorge Palma, Luís Portugal ou UHF davam voz a personagens e situações do quotidiano emergente. Eram tempos de afirmação de uma geração que recuperava de 40 anos de ditadura, levando a excessos em que raras vezes não terminavam no aljube da Praça da Batalha.”
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 4
“Fado do Ladrão Enamorado”, de Bernie Leceiro
Por muitos ignorado, o cancioneiro português
encerra verdadeiras pérolas da criminologia nacional. É o caso da estória que
vos vou contar e para a qual vos desafio a descobrir a identidade do autor do
roubo da ourivesaria da rua da Paz.
Estávamos em plenos anos 80, tempos áureos da
música pop rock portuguesa. Nomes como Rui Veloso, Táxi, Jorge Palma, Luís
Portugal ou UHF davam voz a personagens e situações do quotidiano emergente.
Eram tempos de afirmação de uma geração que recuperava de 40 anos de ditadura,
levando a excessos em que raras vezes não terminavam no aljube da Praça da
Batalha.
Numa típica manhã nublosa de fevereiro, a
cidade acorda com a notícia que a ourivesaria Paz da mesma artéria da invicta
cidade do Porto fora assaltada. A porta das traseiras foi arrombada e o cofre
aberto durante a noite, com recurso a explosivos. A fuga foi feita pelo mesmo
local por onde entraram, pelo quintal das traseiras com um acesso recôndito
através da viela da Carvalhosa.
À data Alves da Selva chamado ao local como
inspetor estagiário apurou junto do proprietário que do cofre “apenas” tinha
sido furtada uma valiosa gargantilha. Analisado minuciosamente o cenário do
assalto, prevalecia no ar o cheiro a dinamite misturado com o cheiro a madeira
de mogno dos faustosos expositores de joias. Atendendo aos ligeiros estragos
provocados na porta e à opção de entrada que apenas os moradores conheceriam,
conclui que o assalto terá sido levado a cabo por algum meliante da zona.
Chamou-lhe ainda a atenção um pequeno pedaço de tecido preso num prego na
parede, onde o Sr. Almerindo, proprietário da ourivesaria Paz e reconhecido
sovina que enriquecera à custa da desgraça dos outros, pendurava os penhores da
malta mais aflita. Uns fios de lã de cor preta, que cuidadosamente guardou num
saco plástico, conforme tinha visto num filme policial americano no cinema
Águia d’ Ouro, na expectativa que pertencessem ao vestuário do ladrão fugitivo.
Num famoso salão de jogos de Cedofeita, o Early
Done bilharista, cruzavam-se alguns dos principais suspeitos, Chico Fininho,
Toni o Ás dos flippers, o beto Dinis, Jeremias o fora da lei, Gastão o
psicadélico desesperado e o não menos famoso Nando o Mau da Fita, qualquer um
deles conhecido de Alves da Selva por pequenos delitos e confusões próprios de
uma época em que se recuperava a liberdade. Não tinha dúvidas que seria nesse palco de épicas batalhas de bilhar e flippers, entre
shots de aguardente ABC e minis Cristal que encontraria o ladrãozeco da joia.
Na manhã do domingo seguinte, Alves da Selva,
cumprindo a sua obrigação de devoto católico, foi à missa das 11:00 na igreja
da Lapa, após a qual comprava a regueifa para o almoço dominical em casa dos
pais aproveitando, como sempre, para lançar o seu charme e consolo a alguma
viúva mais carente à qual contava a bravura do povo tripeiro no apoio a D.
Pedro IV. Nesse domingo o seu olhar atento de lince predador não pode deixar de
reparar numa rapariga morena, sentada 2 bancos à frente do seu, de formas
redondas e muito atraente, vestida de modo modesto, que quando voltava da
comunhão o ofuscou com brilho do objeto, refletido pelas lâmpadas e velas que
ardiam nos antigos candelabros, no bico do seu provocante decote - uma bela
gargantilha em nada condizente com a condição modesta do seu vestuário. No
final da missa, Alves da Selva aguardou por ela no cimo das escadas da igreja e
uma vez mais a pretexto da vida heroica do rei liberal e a sua ligação à
cidade, elogiou a joia que a moça tão orgulhosamente trazia ao peito
dizendo-lhe que nesse dia até o coração de D. Pedro IV, envolto em formol na
sua urna de prata que repousa na igreja, bateu mais forte quando viu a
formosura da bela rapariga e a beleza da joia que ostentava, ao qual ela
respondeu: “- O meu coração já tem dono e isto é uma vulgar joia de imitação!”
Alves da Selva não tinha dúvidas, aquela era a
joia roubada. Fácil foi obter a informação sobre quem era o namorado. Pela
troca de 2 cigarros RITZ que restavam no maço de tabaco amarrotado no bolso do
seu casaco domingueiro, o sacristão da igreja cuspiu toda a informação que
precisava para descobrir o meliante. Para finalizar deixo aqui parte do seu
depoimento que face às evidências apresentadas fez questão de descontraidamente
cantar uns versos de Fernando Farinha:
“Quis brincar com o destino
Convencido que era forte
E ele pregou-me a partida
De ter de andar toda a vida
Ao desafio com a sorte;
Iludido, não sabia
Que a vida tem o seu perigo
E hoje triste, quem diria
Já não brinco com o destino
Ele é que brinca comigo”
O DESAFIO AO LEITOR
Caro leitor, quem foi o autor do roubo da ourivesaria da rua da Paz? A sua proposta de solução deve ser enviada através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com, até ao último dia deste mês de novembro, acompanhada da pontuação atribuída ao enigma que constitui a prova nº. 3 (“A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis). A pontuação a atribuir, entre 5 e 10 pontos, terá como objetivo definir a ordenação da tabela classificativa dos enigmas concorrentes ao concurso de enigmas “Mãos à Escrita!”, a decorrer paralelamente ao torneio “Solução à Vista!”.