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sábado, dezembro 17, 2022
  O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 20 de dezembro de 2022

FELIZ NATAL E UM NOVO ANO MELHOR NUM MUNDO EM PAZ

Na última edição deste velhinho ano de 2022, deixamos no “sapatinho” dos nossos seguidores a solução de autor do enigma que constitui a prova nº 4 do torneio de decifração “Solução à Vista!”, acompanhada da sua classificação atual. Do mesmo modo, damos conhecimento da pontuação média atribuída ao enigma “A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis, que permite a atualização da classificação do concurso de produção “Mãos à Escrita!” quando estão integralmente cumpridos os procedimentos regulamentares até à 3ª. Prova.

Por último, deixamos também no “sapatinho” de todos os leitores e membros da equipa do jornal AUDIÊNCIA GP os nossos votos de um excelente Natal e de que o Ano que agora termina leve de vez a guerra de consequências devastadoras que ensombra o mundo desde o seu segundo mês, trazendo de volta a esperança num futuro mais solidário, mais digno, mais livre e… em paz.

TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”

Solução da Prova nº. 4

“Fado do Ladrão Enamorado”, de Bernie Leceiro

“Nunca fui grande ladrão / Nunca dei golpe perfeito / Acho que foi a paixão / Que me aguçou o jeito”, assim canta Rui Veloso a letra de Carlos Tê no seu “Fado do Ladrão Enamorado”, o que poderia ser o epilogo perfeito para o depoimento do autor do roubo à ourivesaria da rua da Paz, mais não é do que parte da música que deu o mote e o enredo para a escrita deste enigma policiário fazendo a ligação a um personagem enigmático cantada por outro autor que muito admiro.

Há músicas que conquistam a nossa empatia pela mensagem que transmitem, outras conquistam-nos pela beleza do seu instrumental, há ainda aquelas com as quais nos identificamos por falarem de determinado estado de espírito ou ponto de vista que partilhamos. No entanto, existem outras músicas, com que simpatizamos, não por nenhum dos motivos nomeados atrás, mas porque gostamos, sem saber bem porquê, dos personagens por elas trazidos e pela simbiose que eles criam com o instrumental que lhes serve de base.

No mundo da ficção, sempre nutri uma especial empatia por aqueles criminosos e larápios que nos eram apresentados de uma forma quase poética pelos seus criadores. Como se a forma quase lírica com que eles nos eram apresentados nos fizesse gostar deles, mesmo que não aprovássemos o que eles faziam. Jeremias, o fora-da-lei de Jorge Palma, é um desses personagens. O produtor de bombas caseiras que as considerava eloquentes e que, ao contrário da maioria dos criminosos, não se sentia vítima da sociedade. Aquele que se vestia de negro, que gostava do quente da aguardente e da forma como os homens se engasgavam quando pronunciavam o seu nome. Jeremias ganha a nossa simpatia no imediato. Não pelo que representa, mas, uma vez mais, pela forma original como foi criado e pela criatividade com que nos foi apresentado. Eu gosto destes foras da lei, aqueles que só existem nos filmes e nas músicas.

Do álbum O Lado errado da Noite de 1985, Jorge Palma canta assim (a negrito, as evidências do problema):

“Vou falar-vos dum curioso personagem: Jeremias, o fora-da-lei

Descendente por linhas travessas do famigerado Zé do Telhado

Jeremias dedicou-se desde tenra idade ao fabrico da bomba caseira

Cuja eloquência sempre o deixou maravilhado

Para Jeremias nada se assemelha à magia da dinamite

A não ser talvez o rugir apaixonado das mais profundas entranhas da terra

Só quando as fachadas dos edifícios públicos explodirem numa gargalhada

Será realmente pública a lei que as leis encerram

Há quem veja em Jeremias apenas mais uma vítima da sociedade

Muito embora ele tenha a esse respeito uma opinião bem particular

É que enquanto o criminoso tem uma certa tendência natural p´ra ser vitimado

Jeremias nunca encontrou razões p´ra se culpar

Porque nunca foi a ambição nem a vingança que o levou a desprezar a lei

E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a constituição

Como um poeta ele desarranja o pesadelo p´ra lá dos limites legais

Foragido por amor ao que é belo e por vocação

Jeremias gosta do guarda roupa negro e dos mitos do fora-da-lei

Gosta do calor da aguardente e de se seguir remando contra a maré

Gosta da maneira como os homens respeitáveis se engasgam quando falam dele

E da forma como as mulheres murmuram: o fora-da-lei

Gosta de tesouros e mapas sobretudo daqueles que o tempo mais maltratou

Gosta de brincar com o destino e nem o próprio inferno o apavora

Não estando disposto a esperar que a humanidade venha alguma vez a ser melhor

Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora”


TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”

PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (4ª. PROVA)

1º. Búfalos Associados (34+13): 47 pontos;

. Detetive Jeremias (33+12): 45 pontos;

3ºs. Da Vinci (32+11) e Paulo (33+10): 43 pontos;

5ºs. Dona Sopas (30+10), Inspetor Gigas (30+10), Inspetor Moscardo (30+10), Inspetor Mucaba (30+10), Moura Encantada (30+10) e Zé de Mafamude (30-10): 40 pontos;

11º. Holmes (29+10): 39 pontos;

12ºs. Agata Cristas (28+10), Elisa Bethy (28+10), Inspetor Guimarães (28+10), Mancha Negra (28+10), Mário Gomes (28+10), Ma(r)ta Hari (20+10), Mosca (28+10), Oluap Snitram (30+8) e Pim-Pim Leite (28+10); 38 pontos;

21ºs. Arc Anjo (27+10), Mascarilha (27+10) e Pena Cova (29+8): 37 pontos;

24ºs. Abrótea (28+8), Beira-Rio (26+10), Bernie Leceiro (26+10), Bota Abaixo (26+10), Detetive Bruno (26+10), Haka Crimes (28+8), Inspetor Madeira (26+10), Inspetor Mostarda (28+8), Mosca Morta (26+10), Mula Velha (26+10), O Madeirense (28+8), Príncipe da Madalena (26+10) e Visconde das Devesas (28+8): 36 pontos;

37ºs. Anónimo (27+8) e Chico da Afurada (25+10): 35 pontos;

39ºs. Amiga Rola, Broa de Avintes (26+8), Charadista (26+8), Dragão de Santo Ovídio (26+8), Faina do Mar (26+8), Martelo (26+8), Pequeno Simão (24+10), Solidário (26+8), Talismã (26+8), Tó Fadista (26+8) e Zurrapa Verde (24+10): 34 pontos;

50ºs. Necas (23+10) e Santinho da Ladeira (25+8): 33 pontos;

52º. Carlota Joaquina (24+8): 32 pontos;

53ºs. Detetive Vasofe (23+8) e Vitinho (23+8): 31 pontos;

55º. Os Mosqueteiros (20+‒): 20 pontos;

56ºs. Menino Lucas (18+‒) e Pedro Miguel (18+‒): 18 pontos.

CONCURSO “MÃOS À ESCRITA!”

PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (ATÉ À 3ª. PROVA)

            1º.A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor Mortis: 7,40 pontos;

2º.Mataram o Mau-Diabo, de Detetive Ynpru Sedent: 6,30 pontos;

            3º.Que 31 Policiário”, de Aliby: 6,00 pontos.

 

 
quinta-feira, dezembro 15, 2022
  JOEL LIMA

                 O POLICIÁRIO PERDEU MAIS UM DOS SEUS NOMES ILUSTRES

Faleceu no passado dia 29 de novembro o nosso querido Amigo JOEL LIMA. Advogado e escritor policial, romancista, contista, analista, historiador e ensaísta, com cerca de vinte obras editadas (traduzidas e publicadas também nos Estados Unidos, França e Suíça), de que se destacam “O Mercador de Cadáveres”, “Jack o Estripador”, “As Vidas Paralelas de Sherlock Holmes” (dois volumes) e “O Porto de Repórter X”. JOEL LIMA foi, aliás, um minucioso biógrafo de Repórter X, tendo sido uma figura de destaque do Clube de Literatura Policial, que ajudou a fundar com outros ilustres policiaristas já desaparecidos, como A. Raposo ou Sete de Espadas. As nossas mais sentidas condolências aos Familiares e Amigos.

 
sábado, dezembro 03, 2022
  O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 5 de dezembro de 2022

            COM O NATAL À PORTA, VAMOS A UMA MERCEARIA DE BAIRRO

Numa altura em que as famílias portuguesas começam a pensar nas compras de Natal, designadamente nos géneros alimentícios que compõem a mesa da consoada, já que o dinheiro dá para pouco mais, a confrade Ma(r)ta Hari coloca à consideração dos “detetives” participantes no torneio “Solução à Vista!” um enigma que tem por local de ação uma mercearia de bairro. Ei-lo:

TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”

Prova nº. 5

“Falta Dinheiro na Caixa!”, de Ma(r)ta Hari

O guarda Antonino caminhava calmamente pela avenida ao fim da tarde, de mãos atrás das costas, olhar perdido no vazio, pensamentos à solta pelos tempos da sua infância e juventude vividos no relvado central da vizinha Alameda, em animados jogos de futebol normalmente interrompidos pela polícia após denúncia dos comerciantes. “Senhor guarda! Senhor guarda!” – ouviu-se de repente. Antonino julgou que aquele grito saíra dos seus pensamentos e quase desatou numa corrida de fuga à polícia, julgando-se numa partida de futebol entre amigos na sua há muito longínqua infância. Mas não, aquele gritado “Senhor guarda! Senhor guarda” era dirigido a si próprio, o guarda Antonino.

Quem gritava era o senhor Arnaldo da velha mercearia da rua Abade Faria, que gesticulava na sua direção, pedindo que se dirigisse até lá. Com ele estava a menina Ana, uma simpática estudante de economia, que ocupava muitas vezes o lugar de Arnaldo, sempre que este precisava de satisfazer algum compromisso durante o horário normal de funcionamento da mercearia. Pelos vistos, o caso era muito sério. Ao fazer as contas ao fim do dia, verificou-se que faltava dinheiro na caixa registadora. E não era muito pouco para aquele negócio de bairro. Segundo o Arnaldo, algo de anormal se terá passado nas últimas duas horas, período durante o qual a mercearia ficou ao cuidado da menina Ana.

– Acho que fui enganada… Mas não sei como – confessou a rapariga, meio nervosa e envergonhada, já com a voz embargada, porque o Arnaldo já tinha insinuado que ela estaria ligada ao desaparecimento do dinheiro. Antonino tentou sossegar a jovem, pedindo-lhe que contasse tudo o que lembrasse do que se passou durante o tempo em que esteve responsável pelo atendimento dos clientes. Ana puxou pela memória e relatou um caso de alguma confusão que lhe parecia relevante para apuramento das razões da falta do dinheiro. Tinha muito presente que estiveram por lá ao mesmo tempo a vizinha Maria do prédio de gaveto, o menino João da praceta e a dona Berta do cabeleireiro.

Enquanto atendia a cabeleireira, uma pessoa muito exigente na qualidade e preços dos produtos à venda, Ana nem deu pelos outros clientes. A D. Berta andava de um lado para o outro, entre os tomates e os pimentos, sem saber o que escolher para a salada do jantar, discorrendo longamente e com ênfase sobre as diferenças dos dois produtos e seus valores na cadeia alimentar e na relação qualidade/preço, tardando em tomar uma opção, como se esperasse que fosse a empregada a tomar uma decisão que era só sua. A vizinha Maria já denotava alguma impaciência com a espera, pelo que interrompeu o monólogo de D. Berta, interpondo-se entre ambas junto ao balcão, com um pacote de bolachas.

As bolachas, que custavam 5,60 euros, foram pagas com uma nota de 100 euros. Apesar de estranhar que a cliente quisesse pagar um valor tão baixo com uma nota tão alta, Ana deu o troco e a vizinha Maria foi-se embora, com 94,40 euros em notas e moedas. O caso não escapou à crítica de D. Berta, que começou a perorar sobre a falta de sensatez de algumas pessoas, que não percebem quanto as suas atitudes irrefletidas são prejudiciais à boa prática e regular funcionamento das micro e pequenas empresas. E mais uma vez, foi interrompida. O menino João pegou em meia dúzia de bombons e pô-los em cima do balcão. A conta deu um total de 2,50 euros e o rapaz deu uma nota de 50 euros.

– Desculpe, mas não tem uma nota mais pequena? – perguntou Ana, já quase sem trocos na caixa registadora, enquanto D. Berta acenava com a cabeça em sinal de reprovação, enquanto resmungava entre dentes “que falta de discernimento”.

– Não – respondeu João, distraído com o seu telemóvel, sem dar grande atenção, tanto à pergunta da empregada como à reação de D. Berta.

Ana sorriu diplomaticamente, apesar da antipatia de João, e fez o troco: 47,50 euros. Este largou o telemóvel, aceitou o dinheiro, guardou-o no bolso e, surpreso, olhou para Ana e disse:

– Desculpe, estava distraído… Claro que tenho notas mais pequenas!

Abriu a carteira e tirou 50 euros em notas pequenas, que pôs em cima do balcão para que Ana as pudesse ver.

– Aliás, até lhe faço uma coisa – disse, apontando para o dinheiro que pusera em cima do balcão. – Consegue trocar-me estas notas todas por uma nota de 50 euros?

– Penso que sim – respondeu Ana, que abriu a caixa, retirou uma nota de 50 euros, e estendeu-a a João, que a aceitou.

– Desculpe ter olhado, mas reparei que tem uma nota de 100 euros aí dentro… Importa-se de ma dar?

João colocou a nota de 50 euros que acabara de receber sobre os outros 50 euros em notas pequenas e Ana, fazendo a soma de cabeça, deu-lhe a nota de 100 euros.

– Pronto, assim a Ana fica com mais notas… E desculpe.

– Não faz mal – respondeu Ana, sorridente, e recolheu os 100 euros em notas que estavam em cima do balcão. “Quem me dera que todos os clientes fossem capazes de pedir desculpa quando são mal-educados”, pensou.

João pegou nos bombons e na nota de 100 euros, despediu-se e saiu da loja.

Indignada por não ter sido ainda atendida, D. Berta saiu logo atrás dele, vociferando palavras irreproduzíveis nestas páginas.

Algum tempo depois, o senhor Arnaldo chegou para tratar da caixa. E depois de feitas as contas, confrontou a empregada: faltava dinheiro! Foi então que ele viu em passeio o guarda Antonino, reclamando logo a sua ajuda na resolução daquele caso. E, na verdade, ouvido o relato da jovem Ana, ficou tudo esclarecido.

O DESAFIO AO LEITOR

Face ao relato de Ana, pede-se que o leitor nos diga quanto dinheiro falta na caixa e quem é o responsável pelo seu desaparecimento. A proposta de solução deve ser enviada para através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com, até 31 de dezembro, acompanhada da pontuação atribuída ao enigma que constitui a prova nº. 4. (“Fado do Ladrão Enamorado”, de Bernie Leceiro). Recordamos que as pontuações a atribuir, entre 5 e 10 pontos, têm como objetivo definir a ordenação da tabela classificativa final dos enigmas concorrentes ao concurso “Mãos à Escrita!”.

 

 
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