FELIZ NATAL E UM NOVO ANO MELHOR NUM
MUNDO EM PAZ
Na
última edição deste velhinho ano de 2022, deixamos no “sapatinho” dos nossos
seguidores a solução de autor do enigma que constitui a prova nº 4 do torneio
de decifração “Solução à Vista!”, acompanhada da sua classificação atual. Do
mesmo modo, damos conhecimento da pontuação média atribuída ao enigma “A Noite da Morte de Túlio
Lavandas”, de Rigor Mortis, que permite
a atualização da classificação do concurso de produção “Mãos à Escrita!” quando
estão integralmente cumpridos os procedimentos regulamentares até à 3ª. Prova.
Por último, deixamos também no “sapatinho” de todos os leitores e membros da equipa do jornal AUDIÊNCIA GP os nossos votos de um excelente Natal e de que o Ano que agora termina leve de vez a guerra de consequências devastadoras que ensombra o mundo desde o seu segundo mês, trazendo de volta a esperança num futuro mais solidário, mais digno, mais livre e… em paz.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Solução da Prova nº. 4
“Fado do Ladrão Enamorado”, de Bernie Leceiro
“Nunca fui grande ladrão / Nunca dei golpe
perfeito / Acho que foi a paixão / Que me aguçou o jeito”, assim canta Rui
Veloso a letra de Carlos Tê no seu “Fado do Ladrão Enamorado”, o que poderia
ser o epilogo perfeito para o depoimento do autor do roubo à ourivesaria da rua
da Paz, mais não é do que parte da música que deu o mote e o enredo para a
escrita deste enigma policiário fazendo a ligação a um personagem enigmático
cantada por outro autor que muito admiro.
Há músicas que conquistam a nossa empatia pela
mensagem que transmitem, outras conquistam-nos pela beleza do seu instrumental,
há ainda aquelas com as quais nos identificamos por falarem de determinado
estado de espírito ou ponto de vista que partilhamos. No entanto, existem
outras músicas, com que simpatizamos, não por nenhum dos motivos nomeados
atrás, mas porque gostamos, sem saber bem porquê, dos personagens por elas
trazidos e pela simbiose que eles criam com o instrumental que lhes serve de
base.
No mundo da ficção, sempre nutri uma especial
empatia por aqueles criminosos e larápios que nos eram apresentados de uma
forma quase poética pelos seus criadores. Como se a forma quase lírica com que
eles nos eram apresentados nos fizesse gostar deles, mesmo que não aprovássemos
o que eles faziam. Jeremias, o fora-da-lei de Jorge Palma, é um desses
personagens. O produtor de bombas caseiras que as considerava eloquentes e que,
ao contrário da maioria dos criminosos, não se sentia vítima da sociedade.
Aquele que se vestia de negro, que gostava do quente da aguardente e da forma
como os homens se engasgavam quando pronunciavam o seu nome. Jeremias ganha a
nossa simpatia no imediato. Não pelo que representa, mas, uma vez mais, pela
forma original como foi criado e pela criatividade com que nos foi apresentado.
Eu gosto destes foras da lei, aqueles que só existem nos filmes e nas músicas.
Do álbum O Lado errado da Noite de 1985, Jorge
Palma canta assim (a negrito, as evidências do problema):
“Vou falar-vos dum curioso personagem: Jeremias,
o fora-da-lei
Descendente por linhas travessas do famigerado
Zé do Telhado
Jeremias dedicou-se desde tenra idade ao fabrico
da bomba caseira
Cuja eloquência sempre o deixou maravilhado
Para Jeremias nada se assemelha à magia da
dinamite
A não ser talvez o rugir apaixonado das mais
profundas entranhas da terra
Só quando as fachadas dos edifícios públicos
explodirem numa gargalhada
Será realmente pública a lei que as leis
encerram
Há quem veja em Jeremias apenas mais uma vítima
da sociedade
Muito embora ele tenha a esse respeito uma
opinião bem particular
É que enquanto o criminoso tem uma certa
tendência natural p´ra ser vitimado
Jeremias nunca encontrou razões p´ra se culpar
Porque nunca foi a ambição nem a vingança que o
levou a desprezar a lei
E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar
a constituição
Como um poeta ele desarranja o pesadelo p´ra
lá dos limites legais
Foragido por amor ao que é belo e por
vocação
Jeremias gosta do guarda roupa negro e
dos mitos do fora-da-lei
Gosta do calor da aguardente e de se
seguir remando contra a maré
Gosta da maneira como os homens respeitáveis se
engasgam quando falam dele
E da forma como as mulheres murmuram: o
fora-da-lei
Gosta de tesouros e mapas sobretudo daqueles que o tempo mais maltratou
Gosta de brincar com o destino e nem o próprio inferno o apavora
Não estando disposto a esperar que a humanidade
venha alguma vez a ser melhor
Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora”
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (4ª. PROVA)
1º. Búfalos Associados (34+13): 47 pontos;
2º. Detetive Jeremias (33+12): 45 pontos;
3ºs. Da Vinci (32+11) e Paulo (33+10): 43 pontos;
5ºs. Dona Sopas (30+10), Inspetor Gigas (30+10), Inspetor
Moscardo (30+10), Inspetor Mucaba (30+10), Moura Encantada (30+10) e Zé de
Mafamude (30-10): 40 pontos;
11º. Holmes (29+10): 39 pontos;
12ºs. Agata Cristas (28+10), Elisa Bethy (28+10), Inspetor Guimarães
(28+10), Mancha Negra (28+10), Mário Gomes (28+10), Ma(r)ta Hari (20+10), Mosca
(28+10), Oluap
Snitram (30+8)
e Pim-Pim Leite (28+10); 38 pontos;
21ºs. Arc Anjo (27+10), Mascarilha (27+10) e Pena Cova (29+8): 37
pontos;
24ºs. Abrótea (28+8), Beira-Rio (26+10), Bernie
Leceiro (26+10), Bota Abaixo (26+10), Detetive Bruno (26+10), Haka Crimes (28+8), Inspetor Madeira (26+10),
Inspetor Mostarda (28+8), Mosca Morta (26+10), Mula Velha (26+10), O Madeirense (28+8), Príncipe da Madalena
(26+10) e Visconde
das Devesas (28+8):
36 pontos;
37ºs. Anónimo (27+8) e Chico da Afurada (25+10): 35
pontos;
39ºs. Amiga Rola, Broa de Avintes (26+8), Charadista
(26+8), Dragão de Santo Ovídio (26+8), Faina do Mar (26+8), Martelo
(26+8), Pequeno
Simão (24+10),
Solidário (26+8), Talismã (26+8), Tó Fadista (26+8) e Zurrapa Verde
(24+10): 34 pontos;
50ºs. Necas (23+10) e Santinho da Ladeira
(25+8): 33
pontos;
52º. Carlota Joaquina (24+8): 32 pontos;
53ºs. Detetive Vasofe (23+8) e Vitinho (23+8):
31 pontos;
55º. Os Mosqueteiros (20+‒): 20 pontos;
56ºs. Menino Lucas (18+‒) e Pedro Miguel (18+‒): 18 pontos.
CONCURSO “MÃOS À ESCRITA!”
PONTUAÇÓES / CLASSIFICAÇÃO ATUAL (ATÉ À 3ª. PROVA)
1º. “A Noite da Morte de Túlio Lavandas”, de Rigor
Mortis: 7,40 pontos;
2º. “Mataram o Mau-Diabo”, de Detetive Ynpru Sedent: 6,30 pontos;
3º. “Que
31 Policiário”, de Aliby: 6,00 pontos.
O POLICIÁRIO PERDEU MAIS UM DOS SEUS NOMES ILUSTRES
Faleceu no passado dia 29 de novembro o nosso querido Amigo JOEL LIMA. Advogado
e escritor policial, romancista, contista, analista, historiador e ensaísta,
com cerca de vinte obras editadas (traduzidas e publicadas também nos Estados
Unidos, França e Suíça), de que se destacam “O Mercador de Cadáveres”, “Jack o
Estripador”, “As Vidas Paralelas de Sherlock Holmes” (dois volumes) e “O Porto
de Repórter X”. JOEL LIMA foi, aliás, um minucioso biógrafo de Repórter X,
tendo sido uma figura de destaque do Clube de Literatura Policial, que ajudou a
fundar com outros ilustres policiaristas já desaparecidos, como A. Raposo ou Sete
de Espadas. As nossas mais sentidas condolências aos Familiares e Amigos.
COM O NATAL À PORTA, VAMOS A UMA MERCEARIA DE BAIRRO
Numa altura em que as famílias portuguesas começam a pensar nas compras de Natal, designadamente nos géneros alimentícios que compõem a mesa da consoada, já que o dinheiro dá para pouco mais, a confrade Ma(r)ta Hari coloca à consideração dos “detetives” participantes no torneio “Solução à Vista!” um enigma que tem por local de ação uma mercearia de bairro. Ei-lo:
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 5
“Falta Dinheiro na Caixa!”, de Ma(r)ta Hari
O guarda Antonino caminhava calmamente pela avenida ao fim da tarde, de
mãos atrás das costas, olhar perdido no vazio, pensamentos à solta pelos tempos
da sua infância e juventude vividos no relvado central da vizinha Alameda, em
animados jogos de futebol normalmente interrompidos pela polícia após denúncia
dos comerciantes. “Senhor guarda! Senhor guarda!” – ouviu-se de repente.
Antonino julgou que aquele grito saíra dos seus pensamentos e quase desatou
numa corrida de fuga à polícia, julgando-se numa partida de futebol entre
amigos na sua há muito longínqua infância. Mas não, aquele gritado “Senhor
guarda! Senhor guarda” era dirigido a si próprio, o guarda Antonino.
Quem gritava era o senhor Arnaldo da velha mercearia da rua Abade Faria,
que gesticulava na sua direção, pedindo que se dirigisse até lá. Com ele estava
a menina Ana, uma simpática estudante de economia, que ocupava muitas vezes o
lugar de Arnaldo, sempre que este precisava de satisfazer algum compromisso
durante o horário normal de funcionamento da mercearia. Pelos vistos, o caso
era muito sério. Ao fazer as contas ao fim do dia, verificou-se que faltava
dinheiro na caixa registadora. E não era muito pouco para aquele negócio de
bairro. Segundo o Arnaldo, algo de anormal se terá passado nas últimas duas
horas, período durante o qual a mercearia ficou ao cuidado da menina Ana.
– Acho que fui enganada… Mas não sei como – confessou a rapariga, meio
nervosa e envergonhada, já com a voz embargada, porque o Arnaldo já tinha
insinuado que ela estaria ligada ao desaparecimento do dinheiro. Antonino
tentou sossegar a jovem, pedindo-lhe que contasse tudo o que lembrasse do que
se passou durante o tempo em que esteve responsável pelo atendimento dos
clientes. Ana puxou pela memória e relatou um caso de alguma confusão que lhe
parecia relevante para apuramento das razões da falta do dinheiro. Tinha muito
presente que estiveram por lá ao mesmo tempo a vizinha Maria do prédio de
gaveto, o menino João da praceta e a dona Berta do cabeleireiro.
Enquanto atendia a cabeleireira, uma pessoa muito exigente na qualidade e
preços dos produtos à venda, Ana nem deu pelos outros clientes. A D. Berta
andava de um lado para o outro, entre os tomates e os pimentos, sem saber o que
escolher para a salada do jantar, discorrendo longamente e com ênfase sobre as
diferenças dos dois produtos e seus valores na cadeia alimentar e na relação
qualidade/preço, tardando em tomar uma opção, como se esperasse que fosse a
empregada a tomar uma decisão que era só sua. A vizinha Maria já denotava
alguma impaciência com a espera, pelo que interrompeu o monólogo de D. Berta,
interpondo-se entre ambas junto ao balcão, com um pacote de bolachas.
As bolachas, que custavam 5,60 euros, foram pagas com uma nota de 100
euros. Apesar de estranhar que a cliente quisesse pagar um valor tão baixo com
uma nota tão alta, Ana deu o troco e a vizinha Maria foi-se embora, com 94,40
euros em notas e moedas. O caso não escapou à crítica de D. Berta, que começou
a perorar sobre a falta de sensatez de algumas pessoas, que não percebem quanto
as suas atitudes irrefletidas são prejudiciais à boa prática e regular
funcionamento das micro e pequenas empresas. E mais uma vez, foi interrompida.
O menino João pegou em meia dúzia de bombons e pô-los em cima do balcão. A
conta deu um total de 2,50 euros e o rapaz deu uma nota de 50 euros.
– Desculpe, mas não tem uma nota mais pequena? – perguntou Ana, já quase
sem trocos na caixa registadora, enquanto D. Berta acenava com a cabeça em
sinal de reprovação, enquanto resmungava entre dentes “que falta de
discernimento”.
– Não – respondeu João, distraído com o seu telemóvel, sem dar grande
atenção, tanto à pergunta da empregada como à reação de D. Berta.
Ana sorriu diplomaticamente, apesar da antipatia de João, e fez o troco:
47,50 euros. Este largou o telemóvel, aceitou o dinheiro, guardou-o no bolso e,
surpreso, olhou para Ana e disse:
– Desculpe, estava distraído… Claro que tenho notas mais pequenas!
Abriu a carteira e tirou 50 euros em notas pequenas, que pôs em cima do
balcão para que Ana as pudesse ver.
– Aliás, até lhe faço uma coisa – disse, apontando para o dinheiro que
pusera em cima do balcão. – Consegue trocar-me estas notas todas por uma nota
de 50 euros?
– Penso que sim – respondeu Ana, que abriu a caixa, retirou uma nota de
50 euros, e estendeu-a a João, que a aceitou.
– Desculpe ter olhado, mas reparei que tem uma nota de 100 euros aí
dentro… Importa-se de ma dar?
João colocou a nota de 50 euros que acabara de receber sobre os outros 50
euros em notas pequenas e Ana, fazendo a soma de cabeça, deu-lhe a nota de 100
euros.
– Pronto, assim a Ana fica com mais notas… E desculpe.
– Não faz mal – respondeu Ana, sorridente, e recolheu os 100 euros em
notas que estavam em cima do balcão. “Quem me dera que todos os clientes fossem
capazes de pedir desculpa quando são mal-educados”, pensou.
João pegou nos bombons e na nota de 100 euros, despediu-se e saiu da
loja.
Indignada por não ter sido ainda atendida, D. Berta saiu logo atrás dele,
vociferando palavras irreproduzíveis nestas páginas.
Algum tempo depois, o senhor Arnaldo chegou para tratar da caixa. E depois de feitas as contas, confrontou a empregada: faltava dinheiro! Foi então que ele viu em passeio o guarda Antonino, reclamando logo a sua ajuda na resolução daquele caso. E, na verdade, ouvido o relato da jovem Ana, ficou tudo esclarecido.
O DESAFIO AO LEITOR
Face ao relato de Ana, pede-se que o leitor nos diga quanto dinheiro
falta na caixa e quem é o responsável pelo seu desaparecimento. A proposta de
solução deve ser enviada para através do email salvadorpereirasantos@hotmail.com,
até 31 de dezembro, acompanhada da pontuação atribuída ao enigma que constitui
a prova nº. 4. (“Fado do Ladrão Enamorado”, de Bernie Leceiro).
Recordamos que as pontuações a atribuir, entre 5 e 10 pontos, têm como objetivo
definir a ordenação da tabela classificativa final dos enigmas concorrentes ao
concurso “Mãos à Escrita!”.