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sábado, janeiro 20, 2024
  O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 20 de janeiro de 2024

            CONCLUSÃO DO SEGUNDO CONTO DE “UM CASO POLICIAL NO NATAL”

Voltamos hoje ao segundo conto do concurso “Um Caso Policial no Natal”, com a publicação da sua segunda parte e conclusão. Recordamos que na passada edição o seu principal personagem, João Marcelino, tinha sido confrontado com um incidente ocorrido com o seu amigo Xico Bala, funcionário de um importante hotel do Porto, que havia passado algumas horas com uma mulher casada num dos apartamentos daquela unidade hoteleira e esta agora acusa-o de ele ter roubado a sua carteira, ameaçando-o de apresentar queixa à gerência, o que pode determinar a perda do emprego. João Marcelino ficou muito preocupado com a situação do amigo, mas…

“(…)

Olhei para o relógio, bolas 23:50, a minha bonequinha já deve ter saído. Liguei. No meu melhor inglês aprendido com os turistas na Ribeira a quem pedíamos moedas para saltar da ponte D. Luís, fiquei ainda mais transtornado. Natasha chorava copiosamente. O chimpanzé Francis que cresceu com ela nos circos por esse mundo fora, desaparecera misteriosamente do Coliseu no final da sua atuação ainda na 1ª parte do espetáculo. Só deram por falta dele no final e quando estavam a proceder às arrumações e alimentação dos animais. Estava desolada e inconsolável. Entre soluços pedia desculpa por não poder estar comigo, mas iriam passar a noite em buscas na cidade. Francis, extremamente afável e simpático poderia ficar agressivo fora do seu ambiente. Caramba, primeiro o Xico, agora Natasha, que noite!”

 

“Um Caso Policial no Natal” – SEGUNDO CONTO

O FANTASMA DO HOTEL INFANTE SAGRES, de Bernie Leceiro

II – PARTE (conclusão)

Voltei para junto de Xico Bala, mas o meu pensamento estava na mansarda do Hotel Infante Sagres, em Francis e no conforto dos lençóis de cama do Hotel Aliados que eu estava a perder, veio-me à lembrança o clássico de Os Crimes da Rua Morgue de Edgar Allan Poe por muitos considerado como a primeira obra policial de sempre e cuja leitura eu sempre recomendava na FNAC a quem se queria iniciar na leitura deste género literário. Seria possível os dois acontecimentos dessa noite estarem relacionados?

Liguei novamente à Natasha, uma vez mais com o meu melhor English accent:

– My love, qual é o alimento preferido de Francis?

– Paw Paw, respondeu.

– What?!?

– Asimina Triloba, é uma fruta exótica, mas normalmente só come quando estamos em digressão no continente americano.

Desliguei, combinando encontro para mais logo na ajuda da busca por Francis e marco o número de Nanda, uma moça roliça com banca de fruta “estranha” no 1ºandar do Bolhão, de quem ganhei confiança e intimidade à custa da minha fama no mercado de “abichanado”. Num final de tarde partilhamos o exíguo espaço para troca de roupa existente no mercado, quando ela estava atrasada para ir ao dentista e eu para a FNAC… o resto não vale a pena contar… Nanda faltou à consulta e eu quase fui despedido por faltar mais uma vez sem avisar.

– Olá Nanda, é Carlinhos – no mercado sou assim conhecido, uma espécie de nome artístico para a personagem que encarno – sabes o que é a fruta Pau-Pau?

– Olá torrãozinho, em que está agora tu a pensar meu maluco?

– A minha irmã Vanessa acha que está grávida e tem esse desejo, acho que viu a story de uma influencer no Instagram… preciso dessa fruta agora … ela está doida … não deixa ninguém descansar – improvisei.

– Já sei o que é! acho que tenho na câmara frigorifica do mercado, é a “banana do homem pobre” tenho uma cliente “fozeira” que é doida por isso. Diz que lhe conserva a pele, é chanfrada, está toda encarquilhada com a cara a cair aos bocados! Encontramo-nos no mercado daqui a meia-hora. Mas, olha lá meu “conguito”, vai-te sair caro…

Abreviando, à hora marcada encontrei-me com a Nanda junto à porta da rua Fernandes Tomás, na companhia do Xico a quem apresentei como o namorado da minha irmã, não fosse ela ter ideias aquela hora da noite que me desviassem do pretendido, peguei na fruta, despachei Nanda com um beijo bem rápido e dirigimo-nos apressadamente para o Hotel Infante Sagres, sem antes passar no Coliseu a apanhar a chorosa Natasha. Se tudo batesse certo, rapidamente iriamos saciar a fome e descobrir a identidade do famoso fantasma.

Descemos as ruas Passos Manuel e Dr. Magalhães Lemos, atravessamos a aquela hora deserta Avenida dos Aliados e percorrendo apressados a rua Elísio de Melo chegamos ao nosso destino. Com o coração aos saltos subimos os 12 lanços da escada de serviço do hotel. Na minha retaguarda seguiam Xico e Natasha assustadíssimos e eu sem saber muito bem o que nos aguardaria e como reagiríamos. Aliciado pelo intenso aroma da fruta Paw Paw, que eu, entretanto descascara e partira num tupperware que Xico fora apanhar na cozinha, do fundo do escuro corredor surge o fantasma, nada mais nada menos que Francis. Com um velho abajur a enfeitar a cabeça, a mala da dama debaixo do braço e a beiça pintada de um vermelho Chanel, oriundo de algum batom abandonado no interior da mala, que enfeitava um imenso sorriso como a dar-nos as boas-vindas.

O malandro tinha entrado no pátio interior pelo acesso de serviço do lado da rua do Almada, subiu por um tubo de queda do alçado tardoz do hotel e entrou por uma estreita janela sempre aberta de uma velha casa de banho fora de serviço ao fundo do corredor e onde se tinha refugiado.

 Natasha estava radiante, Francis deliciado com a sua fruta favorita e Xico Bala eternamente agradecido, salvara o emprego e poderia manter os seus esquemas amorosos.

04:40, a noite estava salva e o Natal de 2014 também. Este que foi o último ano em que o famoso circo de Natal do Coliseu teve a atuação de animais em pista. A tradição mantém-se desde 1941, ano da inauguração do Coliseu, o Circo que é uma das principais e mais concorridas atrações de Natal da cidade do Porto.

AVALIAÇÃO-PONTUAÇÃO

Os nossos leitores têm a partir de agora 30 (trinta) dias para proceder à avaliação deste segundo conto a concurso e ao envio da pontuação atribuída, entre 5 a 10 pontos (em função da qualidade e originalidade), através do email salvadorsantos949@gmail.com. Recorda-se que o conto vencedor do concurso será o que conseguir alcançar a média de pontuação mais elevada após a publicação de todos os trabalhos, sendo possível (e muito desejada!) a participação dos autores no “lote de jurados”, estando, porém, impedidos de pontuar os seus originais (escritos em nome próprio ou sob a forma de pseudónimo), de maneira a não “fazerem juízo em causa própria”.

 
quarta-feira, janeiro 10, 2024
  NOTÍCIAS DO BLOGUE “A PÁGINA DOS ENIGMAS”

Iniciou-se hoje o Torneio Memória, com a publicação do seu primeiro problema.

Ei-lo:

Torneio Memória

Problema nº 1

CRIME NO PARQUE

Certo dia recebi ordem para ir a um Parque esclarecer um caso para o qual já se haviam tomado algumas providências.

Chegado lá, notei que o recinto era uma autêntica ilha, ligada com a cidade apenas por uma pequena ponte por onde, forçosamente, todos tinham que passar. O polícia de serviço àquela área, informou-me:

— Estava sobre a ponte quando ouvi um tiro. Dei ordem ao guarda do Parque para não deixar entrar ou sair ninguém, e vim observar o que se passara.

Entretanto, aproximámo-nos do local do crime e verifiquei, então, que dentro dum barco, encostado ao cais, jazia um homem atingido com um tiro em pleno peito. A vítima passeara com uma das três pessoas suspeitas — tantas eram as que se encontravam dentro do Parque.

Pude tirar, em seguida, os seguintes apontamentos:

FREITAS — Combinara com a vítima vir esperá-la, a fim de tratarem de certos negócios (não quis

dizer de que espécie eram ...), e passeava pelo Parque quando soou o tiro.

RAUL — Estava à pesca num sítio ali perto e, como os outros, viera ver o que se passara.

MOTA — Fora passear, no barco, com o amigo e, quando pretendia atracar, encostando a popa ao

cais, ouviu o tiro e voltou-se, vendo ainda um vulto a fugir por entre as árvores do Parque.

Havia, também, o guarda, que afirmou: «apenas ter ouvido o tiro e seguido, à risca, as instruções do polícia».

Com estes elementos arquitetei uma teoria, nada falha de lógica, que, depois, vi ser a verdade. Por

isso, pergunto:

1.º — Quem matou?

2.º — Porquê?

A solução deverá ser enviada até ao final do dia 31 de janeiro de 2024 para o endereço apaginadosenigmas@gmail.com.

  

 
terça-feira, janeiro 09, 2024
  NOTÍCIAS DO BLOGUE “A PÁGINA DOS ENIGMAS”

São já conhecidos a solução do problema “O Mistério da Casa de Penhores” e o nome vencedor do prémio em disputa, que registou a participação de 26 concorrentes.

Aqui fica a solução de autor, critério classificativo e pontuação atribuída aos concorrentes, bem como o nome do vencedor:

Solução do Problema

Há contradição entre as declarações e os factos.

Onde está a contradição?

Luís Gomes estava fortemente amordaçado, pelo que nunca poderia gritar, chamando pelo colega.

Só que, não há apenas uma contradição, mas duas. Se Luís Gomes não podia chamar por Carlos Ferreira, este não poderia ouvi-lo a fazer esse apelo, como diz que sucedeu.

Conclusão: mentem os dois e por isso são cúmplices. O roubo foi efetuado em cumplicidade por Luís Gomes e Carlos Ferreira.

Este era o elemento principal que serviria para tornar os dois elementos, Luís e Carlos, suspeitos. 

Há ainda o escadote, que deveria servir para chegar à parte mais alta dos móveis. Os assaltantes teriam que o usar para lá chegarem, pois todas as gavetas, incluindo as que estavam próximas do teto, foram abertas, no entanto, Luís Gomes nunca referiu que o mesmo saíra da arrecadação.

Uma possível sequência dos factos foi: 1 - os dois chegaram bastante cedo; 2 - destruíram as câmaras de filmar e os registos das mesmas; 3 - roubaram tudo o que estava em gavetas e vitrines, tendo usado o escadote e colocando-o posteriormente na arrecadação, 4 - um deles, ou os dois, foram colocar o resultado do assalto noutro local. 5 - regressaram e cortaram um tecido que serviria de mordaça, assim como as cordas que presumivelmente atariam as mãos de Luís; 6 - aguardaram que as 9 horas chegassem e Carlos telefonou ao patrão e à polícia.

Nota-se que houve a tentativa, feita pelos dois cúmplices, de darem alguma coerência à narrativa que apresentaram, assim como se contentaram com os materiais de menos valor, mas... não há crime perfeito.

Numa classificação em que apenas se pretende fazer uma distinção simplificada, sem seleção dos melhores, o pormenor do escadote e a sequência dos eventos não são imprescindíveis, mas tornar-se-iam relevantes se, acaso, se pretendessem selecionar as melhores.

Saliente-se que apenas um concorrente refere a possibilidade de o escadote poder ser utilizado.

Chama-se a atenção, que o Torneio Memória, prestes a iniciar-se, já terá essa seleção das melhores soluções, pelo que há que ter cuidado com todos os pormenores.

Critério Classificativo

Quais são os elementos imprescindíveis nesta solução?

A – Referir a causa de Luís não poder chamar Carlos.

B – Concluir que Luís mente.

C – Mencionar porque é que Carlos não podia ouvir Luís a chamá-lo.

D – Concluir sobre a cumplicidade.

1. Indica os quatro tópicos anteriores. (10 pontos)

2. Aponta o pormenor incriminatório, mas aplica-o a apenas a um dos empregados, sem indicar a cumplicidade. (9 pontos)

3. Indica os dois empregados como suspeitos do roubo, mas falha a justificação. (8 pontos)

4. Apresenta um dos empregados como culpado, Luís ou Carlos, mas sem justificação, ou com esta errada. (7 pontos)

5. Apresenta outra resposta. (6 pontos)

Classificações

10 pontos

Abrótea, Arjacasa (TPBRO), Bernie Leceiro, Bufalos Associados, Cris, Detective Jeremias, Eduardo Oliveira, Háspide, Insp. Moscardo, Inspectora Sardinha(TPBRO), Inspetor Boavida. Inspetora Marta, Mac Jr., Mali (TPBRO), Menino Nelito, O Gráfico (TPBRO), Pedro Ribeiro, Tiago Reis, Xá do Reino (19 concorrentes).

9 pontos

Bertita; Guilherme; Núbis (3 concorrente).

8 pontos

Clóvis, Poluidora, Rosa Marques (3 concorrentes).

7 pontos

Doula (1 concorrente).

Os concorrentes com a indicação TPBRO são membros da Tertúlia Policiária Blogue Repórter de Ocasião.

Total de concorrentes: 26. 

Saliente-se a dispersão de classificações, apesar da simplicidade do problema.

Vencedor (por sorteio)

Bernie Leceiro

 
sexta-feira, janeiro 05, 2024
  CONCURSO DE CONTOS “UM CASO POLICIAL NO NATAL”

Caros Seguidores,

Não havendo aqui, no LOCAL DO CRIME, qualquer limitação de espaço, como acontece nas páginas do jornal AUDIÊNCIA GRANDE PORTO, publicamos na íntegra o segundo conto do Concurso “Um Caso Policial no Natal”:

“Um Caso Policial no Natal” – SEGUNDO CONTO

O FANTASMA DO HOTEL INFANTE SAGRES, de Bernie Leceiro

Começo por me apresentar, João Marcelino, filho de pai angolano e mãe portuguesa, um mestiço nascido e criado na cidade do Porto, conhecido no mundo do futebol amador como o Jean Pierre Papin da Corujeira. Joguei em clubes da cidade como o São Vítor, Marechal Gomes da Costa, Ramaldense e mais recentemente no Pasteleira. Cheguei a estar à experiência no FC Porto … como roupeiro. Fui despedido ao fim de 3 semanas devido à minha dislexia e a ter impresso mal o nome do meu ídolo Varela precisamente no dia de clássico com o Benfica, uma vergonha a entrada em campo e nome Barela estampado nas costas. O meu hobby sempre foi a literatura policial e trabalho em part-time na FNAC de Santa Catarina. Este Natal, para ganhar algum dinheiro adicional, aproveitando os novos movimentos contra a Homofobia, Transfobia, Bifobia e segregação racial, socorrendo-me de uma écharpe cor-de-rosa da minha mãe e uns jeans justos da minha meia-irmã Vanessa, concorri ao lugar de Pai Natal no mercado do Bolhão. Nada melhor para a Associação de Comerciantes que contratar um negro-gay. Não me posso queixar, o salário não é mau, mesmo considerando que tenho de ouvir os maiores impropérios por parte das simpáticas peixeiras e de quando em vez levar nos costados com um ou outro carapau. Tudo pelo espírito natalício: “– Aí faneca, comia-te pelo rabo!”

Mas a estória que vos conto é mais interessante. Há algumas semanas, andava enrabichado por uma artista circense Russa que atuava no Circo de Natal do Coliseu como acrobata aérea e domadora de animais. A noite estava fria e aguardava pacientemente no conforto do café Guarany, observando os painéis de Graça Morais, mesmo por baixo do Hotel Aliados onde a minha princesinha estava alojada e eu ansiava daí a algumas horas dar umas tantas cambalhotas e quiçá ser domado por essa fantástica artista do país dos Czares. Tocou o telemóvel. Era o Xico Bala, meu amigo de escola primária e companheiro de equipa ao longo dos anos nesses campos pelados da cidade do Porto, atualmente trabalha como concierge no Hotel Infante Sagres. Estava nervosíssimo, sussurrando que uma hóspede tinha sido atacada pelo “famoso” fantasma do fundador do Hotel Infante de Sagres que há anos habita a mansarda do edifício e se tornou uma lenda na cidade do Porto à custa da necessidade de a cidade criar mitos e lendas que atraiam turistas. Xico precisava urgentemente da minha ajuda para resolver o assunto e do modo mais discreto possível.

Combinamos encontro no Maus-Hábitos, mesmo em frente ao Coliseu, para não me afastar demasiado do meu alvo principal e não perder a oportunidade de intercambio cultural com o meu cubinho de gelo moscovita.

– Jean Pierre, não imaginas o que me aconteceu… conheci uma hóspede lá do hotel, uma cinquentona enxuta cheia de guito, casada com um empresário de Valpaços. Com a desculpa das estreias da temporada de ballet no Rivoli, vem ao Porto e aproveita para se divertir depois das peças … até já aconteceu antes. Pois bem, desta vez veio com a filha ver a companhia de bailado da Olga Roriz, enquanto a miúda foi para o quarto, levei-a para o sótão do hotel onde fazemos depósito das roupas abandonadas pelos hóspedes, moveis velhos e colchões. Tudo corria como o previsto. Estávamos no único arrumo com janela do lado da praça Filipa de Lencastre, a que tem vista até ao cimo da rua da Picaria quando ouvimos uma pancada seca no compartimento ao lado e passos pesados a afastarem-se no corredor.

Continuou, num tom mais baixo com medo de que alguém o ouvisse, mesmo abafado pelo som da música alternativa que ecoava na sala: – Assustados viemos à porta e de imediato a gaja deu pela falta da sua carteira Tods – acho que custa uma pipa de massa – oferta do morcão do marido, no meio da roupa que fôramos descartando entre a porta de acesso ao sótão e os arrumos onde nos encontrávamos.

– E o telemóvel, não ligaste para saber onde estava a mala? – perguntei.

– O telemóvel estava com ela porque a tarada gosta de se filmar enquanto enfeita a cabeça do marido, para depois mostrar às amigas de Trás-os-Montes. Estou assustadíssimo pois mais ninguém tinha a chave do sótão e só me vem à lembrança a estória do fantasma do comendador. Que cagaço apanhei! Por outro lado, ela acha que é uma tramoia minha e insiste que se a carteira não aparecer até à hora do pequeno-almoço, vai apresentar queixa à gerência do hotel e como é óbvio vou ser despedido pois é expressamente proibido pela administração qualquer envolvimento entre o pessoal e os hóspedes. E logo agora nesta altura do ano. E o que vai ser da minha relação com a minha namorada Nelinha se a estória se souber. Nunca mais arranjo emprego em lado nenhum. Por favor, amigo não abras essa matraca – lamentou-se Xico Bala.

Olhei para o relógio, bolas 23:50, a minha bonequinha já deve ter saído. Liguei. No meu melhor inglês aprendido com os turistas na Ribeira a quem pedíamos moedas para saltar da ponte D. Luís, fiquei ainda mais transtornado. Natasha chorava copiosamente. O chimpanzé Francis que cresceu com ela nos circos por esse mundo fora, desaparecera misteriosamente do Coliseu no final da sua atuação ainda na 1ª parte do espetáculo. Só deram por falta dele no final e quando estavam a proceder às arrumações e alimentação dos animais. Estava desolada e inconsolável. Entre soluços pedia desculpa por não poder estar comigo, mas iriam passar a noite em buscas na cidade. Francis, extremamente afável e simpático poderia ficar agressivo fora do seu ambiente. Caramba, primeiro o Xico, agora Natasha, que noite!

Voltei para junto de Xico Bala, mas o meu pensamento estava na mansarda do Hotel Infante Sagres, em Francis e no conforto dos lençóis de cama do Hotel Aliados que eu estava a perder, veio-me à lembrança o clássico de Os Crimes da Rua Morgue de Edgar Allan Poe por muitos considerado como a primeira obra policial de sempre e cuja leitura eu sempre recomendava na FNAC a quem se queria iniciar na leitura deste género literário. Seria possível os dois acontecimentos dessa noite estarem relacionados?

Liguei novamente à Natasha, uma vez mais com o meu melhor English accent:

– My love, qual é o alimento preferido de Francis?

– Paw Paw, respondeu.

– What?!?

– Asimina Triloba, é uma fruta exótica, mas normalmente só come quando estamos em digressão no continente americano.

Desliguei, combinando encontro para mais logo na ajuda da busca por Francis e marco o número de Nanda, uma moça roliça com banca de fruta “estranha” no 1ºandar do Bolhão, de quem ganhei confiança e intimidade à custa da minha fama no mercado de “abichanado”. Num final de tarde partilhamos o exíguo espaço para troca de roupa existente no mercado, quando ela estava atrasada para ir ao dentista e eu para a FNAC… o resto não vale a pena contar… Nanda faltou à consulta e eu quase fui despedido por faltar mais uma vez sem avisar.

– Olá Nanda, é Carlinhos – no mercado sou assim conhecido, uma espécie de nome artístico para a personagem que encarno – sabes o que é a fruta Pau-Pau?

– Olá torrãozinho, em que está agora tu a pensar meu maluco?

– A minha irmã Vanessa acha que está grávida e tem esse desejo, acho que viu a story de uma influencer no Instagram… preciso dessa fruta agora … ela está doida … não deixa ninguém descansar – improvisei.

– Já sei o que é! acho que tenho na câmara frigorifica do mercado, é a “banana do homem pobre” tenho uma cliente “fozeira” que é doida por isso. Diz que lhe conserva a pele, é chanfrada, está toda encarquilhada com a cara a cair aos bocados! Encontramo-nos no mercado daqui a meia-hora. Mas, olha lá meu “conguito”, vai-te sair caro…

Abreviando, à hora marcada encontrei-me com a Nanda junto à porta da rua Fernandes Tomás, na companhia do Xico a quem apresentei como o namorado da minha irmã, não fosse ela ter ideias aquela hora da noite que me desviassem do pretendido, peguei na fruta, despachei Nanda com um beijo bem rápido e dirigimo-nos apressadamente para o Hotel Infante Sagres, sem antes passar no Coliseu a apanhar a chorosa Natasha. Se tudo batesse certo, rapidamente iriamos saciar a fome e descobrir a identidade do famoso fantasma.

Descemos as ruas Passos Manuel e Dr. Magalhães Lemos, atravessamos a aquela hora deserta Avenida dos Aliados e percorrendo apressados a rua Elísio de Melo chegamos ao nosso destino. Com o coração aos saltos subimos os 12 lanços da escada de serviço do hotel. Na minha retaguarda seguiam Xico e Natasha assustadíssimos e eu sem saber muito bem o que nos aguardaria e como reagiríamos. Aliciado pelo intenso aroma da fruta Paw Paw, que eu, entretanto descascara e partira num tupperware que Xico fora apanhar na cozinha, do fundo do escuro corredor surge o fantasma, nada mais nada menos que Francis. Com um velho abajur a enfeitar a cabeça, a mala da dama debaixo do braço e a beiça pintada de um vermelho Chanel, oriundo de algum batom abandonado no interior da mala, que enfeitava um imenso sorriso como a dar-nos as boas-vindas.

O malandro tinha entrado no pátio interior pelo acesso de serviço do lado da rua do Almada, subiu por um tubo de queda do alçado tardoz do hotel e entrou por uma estreita janela sempre aberta de uma velha casa de banho fora de serviço ao fundo do corredor e onde se tinha refugiado.

 Natasha estava radiante, Francis deliciado com a sua fruta favorita e Xico Bala eternamente agradecido, salvara o emprego e poderia manter os seus esquemas amorosos.

04:40, a noite estava salva e o Natal de 2014 também. Este que foi o último ano em que o famoso circo de Natal do Coliseu teve a atuação de animais em pista. A tradição mantém-se desde 1941, ano da inauguração do Coliseu, o Circo que é uma das principais e mais concorridas atrações de Natal da cidade do Porto.

 
  O DESAFIO DOS ENIGMAS - edição de 5 de janeiro de 2024

    SEGUNDO CONTO DO CONCURSO “UM CASO POLICIAL NO NATAL”

O segundo original do nosso concurso de contos “Um Caso Policial no Natal”, de que se publica hoje a sua primeira parte, tem por protagonista João Marcelino, rei do futebol amador portuense, conhecido como Jean Pierre Papin da Corujeira, que nos leva até ao coração da baixa da cidade Invicta, ao mítico Coliseu do Porto e ao emblemático Hotel Infante de Sagres, onde trabalha o seu amigo Xico Bala e “habita” um estranho fantasma. E, como estamos na época natalícia, vamos encontrá-lo no Mercado do Bolhão, vestido de Pai Natal, para ganhar uns trocos…

“Um Caso Policial no Natal” – SEGUNDO CONTO

O FANTASMA DO HOTEL INFANTE SAGRES, de Bernie Leceiro

I – PARTE

Começo por me apresentar, João Marcelino, filho de pai angolano e mãe portuguesa, um mestiço nascido e criado na cidade do Porto, conhecido no mundo do futebol amador como o Jean Pierre Papin da Corujeira. Joguei em clubes da cidade como o São Vítor, Marechal Gomes da Costa, Ramaldense e mais recentemente no Pasteleira. Cheguei a estar à experiência no FC Porto … como roupeiro. Fui despedido ao fim de 3 semanas devido à minha dislexia e a ter impresso mal o nome do meu ídolo Varela precisamente no dia de clássico com o Benfica, uma vergonha a entrada em campo e nome Barela estampado nas costas. O meu hobby sempre foi a literatura policial e trabalho em part-time na FNAC de Santa Catarina. Este Natal, para ganhar algum dinheiro adicional, aproveitando os novos movimentos contra a Homofobia, Transfobia, Bifobia e segregação racial, socorrendo-me de uma écharpe cor-de-rosa da minha mãe e uns jeans justos da minha meia-irmã Vanessa, concorri ao lugar de Pai Natal no mercado do Bolhão. Nada melhor para a Associação de Comerciantes que contratar um negro-gay. Não me posso queixar, o salário não é mau, mesmo considerando que tenho de ouvir os maiores impropérios por parte das simpáticas peixeiras e de quando em vez levar nos costados com um ou outro carapau. Tudo pelo espírito natalício: “– Aí faneca, comia-te pelo rabo!”

Mas a estória que vos conto é mais interessante. Há algumas semanas, andava enrabichado por uma artista circense Russa que atuava no Circo de Natal do Coliseu como acrobata aérea e domadora de animais. A noite estava fria e aguardava pacientemente no conforto do café Guarany, observando os painéis de Graça Morais, mesmo por baixo do Hotel Aliados onde a minha princesinha estava alojada e eu ansiava daí a algumas horas dar umas tantas cambalhotas e quiçá ser domado por essa fantástica artista do país dos Czares. Tocou o telemóvel. Era o Xico Bala, meu amigo de escola primária e companheiro de equipa ao longo dos anos nesses campos pelados da cidade do Porto, atualmente trabalha como concierge no Hotel Infante Sagres. Estava nervosíssimo, sussurrando que uma hóspede tinha sido atacada pelo “famoso” fantasma do fundador do Hotel Infante de Sagres que há anos habita a mansarda do edifício e se tornou uma lenda na cidade do Porto à custa da necessidade de a cidade criar mitos e lendas que atraiam turistas. Xico precisava urgentemente da minha ajuda para resolver o assunto e do modo mais discreto possível.

Combinamos encontro no Maus-Hábitos, mesmo em frente ao Coliseu, para não me afastar demasiado do meu alvo principal e não perder a oportunidade de intercambio cultural com o meu cubinho de gelo moscovita.

– Jean Pierre, não imaginas o que me aconteceu… conheci uma hóspede lá do hotel, uma cinquentona enxuta cheia de guito, casada com um empresário de Valpaços. Com a desculpa das estreias da temporada de ballet no Rivoli, vem ao Porto e aproveita para se divertir depois das peças … até já aconteceu antes. Pois bem, desta vez veio com a filha ver a companhia de bailado da Olga Roriz, enquanto a miúda foi para o quarto, levei-a para o sótão do hotel onde fazemos depósito das roupas abandonadas pelos hóspedes, moveis velhos e colchões. Tudo corria como o previsto. Estávamos no único arrumo com janela do lado da praça Filipa de Lencastre, a que tem vista até ao cimo da rua da Picaria quando ouvimos uma pancada seca no compartimento ao lado e passos pesados a afastarem-se no corredor.

Continuou, num tom mais baixo com medo de que alguém o ouvisse, mesmo abafado pelo som da música alternativa que ecoava na sala: – Assustados viemos à porta e de imediato a gaja deu pela falta da sua carteira Tods – acho que custa uma pipa de massa – oferta do morcão do marido, no meio da roupa que fôramos descartando entre a porta de acesso ao sótão e os arrumos onde nos encontrávamos.

– E o telemóvel, não ligaste para saber onde estava a mala? – perguntei.

– O telemóvel estava com ela porque a tarada gosta de se filmar enquanto enfeita a cabeça do marido, para depois mostrar às amigas de Trás-os-Montes. Estou assustadíssimo pois mais ninguém tinha a chave do sótão e só me vem à lembrança a estória do fantasma do comendador. Que cagaço apanhei! Por outro lado, ela acha que é uma tramoia minha e insiste que se a carteira não aparecer até à hora do pequeno-almoço, vai apresentar queixa à gerência do hotel e como é óbvio vou ser despedido pois é expressamente proibido pela administração qualquer envolvimento entre o pessoal e os hóspedes. E logo agora nesta altura do ano. E o que vai ser da minha relação com a minha namorada Nelinha se a estória se souber. Nunca mais arranjo emprego em lado nenhum. Por favor, amigo não abras essa matraca – lamentou-se Xico Bala.

Olhei para o relógio, bolas 23:50, a minha bonequinha já deve ter saído. Liguei. No meu melhor inglês aprendido com os turistas na Ribeira a quem pedíamos moedas para saltar da ponte D. Luís, fiquei ainda mais transtornado. Natasha chorava copiosamente. O chimpanzé Francis que cresceu com ela nos circos por esse mundo fora, desaparecera misteriosamente do Coliseu no final da sua atuação ainda na 1ª parte do espetáculo. Só deram por falta dele no final e quando estavam a proceder às arrumações e alimentação dos animais. Estava desolada e inconsolável. Entre soluços pedia desculpa por não poder estar comigo, mas iriam passar a noite em buscas na cidade. Francis, extremamente afável e simpático poderia ficar agressivo fora do seu ambiente. Caramba, primeiro o Xico, agora Natasha, que noite!

(continua na próxima edição)

 
segunda-feira, janeiro 01, 2024
  NOTÍCIAS DO BLOGUE RO

TORNEIO CULTORES DO POLICIÁRIO

Torneio Cultores do Policiário

1º Problema

“O Misterioso Desaparecimento de uma Aliança Velha”, de O Gráfico

I - PARTE

Quando me reformei, no ano de 2018, estava longe de pensar que iria encontrar na Pastelaria Kimi que comecei a frequentar assiduamente, um ror de gente, de elevado espírito comunicativo, abertura fraterna de receber novos rostos e um atendimento público (mais tarde denominado como “CAC” – “com amor e carinho”!) de categorizada e inigualável distinção, todas estas coisas boas, de enaltecer, entre habituais clientes, pessoal ali empregado e respectivos gerentes.

O quotidiano é acolhedor e quando se chega à Quadra Natalícia, os sorrisos, os beijos, os abraços, o partilhar de mesa, os apertos de mãos, os votos de felicidade e desejos de um Bom Natal e um Novo Ano Feliz... transcendem-se! Entretanto passámos por uma Pandemia, a tal de “Covid-19”, e as faculdades intelectuais e a energia dos habituais clientes entrelaçada com os trabalhadores da Kimi mantiveram-se inalteráveis se bem que ainda me recordo de tomar o meu pequeno-almoço, cá fora, no parapeito das janelas do estabelecimento e do uso obrigatório da máscara que só era retirada para o consumo dos alimentos.

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Nos primeiros meses de 2018 comecei a ouvir falar, entre colegas e outras pessoas com a minha mesma idade, 60 anos, de que os trabalhadores, em Portugal, com 46 anos de “descontos” para a Segurança Social, já se poderiam reformar... por “inteiro”, ou seja, reforma antecipada usufruindo do valor mensal igual ao actual vencimento! Haveria no país poucos milhares de pessoas com esta particularidade e o Governo do Primeiro-Ministro António Costa lançou esta iniciativa! Ora, pelas minhas “contas” eu já descontava para a antiga Caixa Nacional de Pensões desde 1970 o que daria, se tudo estivesse documentado e registado, muito próximo de 48 anos de “descontos”... entre 1970 e 2018. Não hesitei um segundo... telefonei para Entre Campos, Lisboa, Atendimento por marcação no Centro Nacional de Pensões e marquei uma consulta. Creio que foi em Junho de 2018, já com 60 anos feitos ou muito próximo disso... que fui, então, a Entre Campos. Lá chegado, ao ser atendido, somente me pediram o Cartão de Cidadão e passados alguns segundos responderam-me “que já me podia reformar”, dentro dos requisitos enumerados pelo Governo, pois, desfrutava, tal e qual como tinha pensado, de 48 anos de “descontos” para a Segurança Social. Não esperei pela demora... preenchi, no imediato, os documentos necessários, comuniquei a minha decisão à Entidade Patronal vigente e... no mês de Agosto, seguinte, já estava reformado, contente da vida! Pensado e executado. Valeu a pena, pelo menos neste capítulo, ter começado a trabalhar com tenra idade, apesar dos 48 anos árduos de labuta.

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A Pastelaria Kimi, situada no Laranjeiro, Feijó, Conselho de Almada, apresenta-se estruturalmente numa forma muito original que tem como base um triângulo, imaginando-se a olharmos para um desenho de uma Árvore de Natal, com três entradas e saídas para clientes. Olhando de frente, o leitor, depara-se com a entrada principal, a porta maior, que está instalada na base do mencionado triângulo, dando lugar a uma esplanada que preenche uma parte da praceta onde se encontra. No lado direito, sensivelmente a meio do triângulo, existe a segunda porta, digamos assim e no vértice uma outra porta, mais pequena, que aparentemente está vedada à entrada de clientes semi-obstruída por duas cadeiras. Esta entrada serve especialmente para entrada e saída de fornecedores, mais usada pelos Padeiros que durante todo o dia vão entrando por ali com caixas repletas de pão, nomeadamente carcaças, os chamados papos-secos e saindo com as mesmas vazias evitando o passar pela maioria das pessoas que se aglomeram na sala entre a primeira e um pouco mais além da segunda entrada. Eles chegam, num ápice, após pedido, com os recipientes do pão, passam pelo lavatório que antecede as chamadas “casas de banho” (estas encontram-se por trás do lavatório, mas estão, sempre, fechadas à chave pelo que homens e senhoras terão de solicitar as respectivas, ao balcão, para efectuar as suas necessidades de obrigação imprescindível) descem dois degraus entram pela segunda abertura do balcão, percorrem todo o seu curto comprimento, cerca de 10 metros, despejam o conteúdo nos receptáculos adequados para o efeito, entre “bons-dias” e sorrisos e fazem o trajecto de regresso. 

O primeiro ingresso do citado balcão encontra-se logo à esquerda da entrada principal que se apresenta direccionada para a esplanada e está quase tapado pela refrigeradora das bebidas, do lado de fora e da máquina dos sumos de laranja, na parte de dentro. Logo a seguir, mas inserta na parede da frente, ainda por detrás do balcão, em cima de uma pedra de mármore está a caixa registadora, depois estantes envidraçadas com pão que fica por cima dos recipientes dos papos-secos, elevador de comunicação e transporte de géneros alimentícios entre rés-do-chão e cave, grande máquina dos cafés e estantes de vidro que terminam na entrada da segunda abertura onde estão, em cima, o tabaco e bugigangas e por baixo, à altura da cintura de um ser humano, adulto, as várias bebidas alcoólicas, tais como Brandys, Whiskys, Vinho do Porto, Aguardentes e outros de muitas marcas. Por baixo, do lado de cá e do lado de lá, do balcão, existem armários de armazenamento. Para os clientes que consomem ao balcão e eu sou um deles, estão as vitrinas com as especialidades de arregalar a vista! No lado direito, da abertura do balcão, mais próxima das casas-de-banho, que não têm qualquer abertura para o exterior, foi arquitectado também uma pequena espécie de arrecadação, num aproveitamento de espaço, que fica por baixo das escadas que levam ao equivalente a um 1.º andar onde igualmente se fornecem refeições. Nas vésperas de Natal uma corrente impede o acesso aquele local porque não se servem almoços. Estas escadas encontram-se entre o lavatório e ao lado dos degraus que dão entrada para o balcão, por aquele lado. Neste reduzido cubículo os empregados que se vão revezando por períodos horários guardam os seus pertences, casacos, malas, sacos com compras, etc.

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No dia-a-dia a azáfama é intensa e muitos vendedores ambulantes e de rua que ali vão tomar o seu pequeno-almoço levam consigo grandes sacos com muita e diversificada indumentária, além de lençóis, material de pano para cozinhas, etc, na tentativa de seduzir alguns compradores. Uma vez comprei um par de lençóis.... por uma pechincha.

O Miguelito, um jovem de 16 anos é uma das atracções principais que aprecio e aplaudo, das minhas manhãs, na Pastelaria Kimi. Por volta das 11 horas, todos os dias, sem falhar nenhum, sábados e domingos, entra de rompante, pela entrada principal, vindo da praceta e com a sua pequena máquina fotográfica “dispara” em todos os sentidos e direcções repetindo incessantemente “-Olha a foto!”... “-Olha a foto!”... e lá vai ele obtendo fotografias dos três empregados e gerente que habitualmente estão atrás do balcão, de clientes que estão no compartimento de entrada, uns sentados ou em pé ingerindo os alimentos ao balcão. O jovem Miguelito que diz um dia querer ser Jornalista Fotográfico delicia-se com as fotografias e toda-a-gente faz poses originais e colabora, com os largos sorrisos da praxe! É um momento de enorme animação.

Chegamos à época Natalícia e é tudo igual, vivência, camaradagem e procedimentos à excepção que a porta do meio é encerrada a entradas e saídas porque no lado direito da entrada pela praceta até sensivelmente a meio do espaço é montada uma mesa em “L” para venda de produtos apropriados e lá se encontram de fazer crescer água na boca... BOLO REI, BOLO RAINHA, TRONCOS DE NATAL, LAMPREIA, TORTAS VARIADAS, FILHOZES, COSCORÕES, SONHOS DE ABÓBORA E VARIADOS, AZEVIAS DE GILA, GRÃO E BATATA-DOCE, FATIAS PARIDAS, ENTREMEIOS DIVERSOS, SORTIDOS E OUTRAS VARIEDADES. Uf! Que pena não se conseguir ingerir de tudo... um pouco!

Uma vez considerei que o pão com manteiga tinha pouco fiambre e a partir daí começaram a pôr 3 fatias do mesmo produto e quando lá aparecia... logo gritavam para o micro do elevador que fazia ligação com a cozinha: “-Atenção, essa carcaça que vai para baixo... é para colocar três fatias de fiambre! Três fatias de fiambre!” E noutras vezes acrescentavam: “-É para o senhor Rodrigues!”. Ultimamente achei um exagero e mandei reduzir somente, a sandes, para duas fatias! 

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Hoje, pela manhã, precisamente, neste dia em que escrevo estas linhas, Domingo, 24 de Dezembro de 2023, o insólito aconteceu na Pastelaria Kimi. Como sou bem tratado e muito bem recebido naquele estabelecimento resolvi oferecer uma Garrafa de Aguardente Aliança Velha ao gerente, meu amigo, Rui Marino. Dizem que este produto é o mais vendido no mercado e fiz questão de mostrar os meus agradecimentos com esta simbólica oferta de Natal! Cheguei à Kimi por volta das 10h e 45m e quando entreguei a prenda foi uma alegria, para todos! O Rui Marino agradeceu-me olhou para a garrafa com os olhos a brilhar e colocou-a, bem vistosa, à minha frente, numa das estantes de vidro, junto com as outras bebidas do género e... disse bem alto, para o “seu” pessoal: “-Atenção, nesta... ninguém mexe, ok!?”. E voltou às lides.

A Pastelaria Kimi, naquela hora, estava a transbordar pelo que durante uma quinzena de minutos ninguém entrava nem saía, a não ser clientes para as guloseimas de Natal. Entravam, compravam o necessário e saíam pela mesma porta. Vendedores de rua tentavam convencer alguns clientes a adquirir as suas “coisas boas”! Alguns, homens e mulheres, necessitando de ir às casas-de-banho solicitavam as chaves que estavam penduradas no cimo do cubículo dos empregados. A próxima mudança de turno seria somente ao meio-dia. Eu tomava o meu pequeno-almoço descansado e a observar como os Troncos de Natal, os Sonhos de Abóbora e os Coscorões “voavam” dali para fora... do Bolo-Rei, então, nem os conseguia contar... até que um enorme alvoroço sucedeu em simultâneo... com mais pão a chegar e o Miguelito a entrar pelo meio das pessoas de máquina no ar e a gritar “-Olha a foto!”... “-Olha a foto!”... Uma alegria e diversão imensas! Até que o insólito aconteceu... no meio de tanto entusiasmo, passados uns breves momentos..., o Rui Marino gritou alto e em bom som com enorme aflição: “-Onde está a garrafa!?” Ui... virei-me para a estante das Aguardentes e o Rui estava branco como a cal da parede! A agradável Aguardente Aliança Velha que eu lhe tinha oferecido... tinha desaparecido misteriosamente! “-Ninguém sai daqui!” Gritou ele. Toda a gente obedeceu fecharam-se as portas e mais nenhuma pessoa entrou ou saiu do Estabelecimento e no imediato todos foram revistados e... nada de se descobrir onde estava a Aliança Velha! O cubículo dos empregados foi analisado... sem sucesso! O andar de cima, também. A cozinha, lá em baixo, outrossim e a garrafa sem aparecer! Todos os sacos, enormes, dos vendedores de rua foram despejados e nada de garrafa! Nos cestos do lixo... também não se encontrava a Aliança Velha! Casas-de-banho vistas de alto a baixo e buscas infrutíferas! Na refrigeradora... nada! Em lugar nenhum foi encontrada a Aliança Velha! Resignado o Rui Marino ordenou que tudo regressasse à normalidade!

Que coisa!? Quem teria feito desaparecer misteriosamente a garrafa de Aliança Velha!?

Pensativo... despedi-me e regressei a casa.

Absorto e arrebatado nos meus pensamentos, sobre o sucedido, foi quando me sentei ao computador para mais umas publicações no Blogue do “Repórter de Ocasião” e pensando que este seria mais um interessante caso para o “Inspector Rodriguinho” e o seu famoso “Ajudante Lumafero”... que me veio uma “proposta de solução” deste misterioso caso... à ideia! “-Pois... é!” “-Só pode!...” Deduzi.

Regressei, ainda esta tarde, à Pastelaria Kimi... conversei com o Rui... ele boquiaberto concordou comigo e... posteriormente o caso foi deslindado!

 

PERGUNTA-SE AO LEITOR:

- Como teria desaparecido misteriosamente a Garrafa da Aguardente Aliança Velha?

Escreva a II PARTE da história relatando como tudo teria sucedido, narrando a sua opinião sobre o caso, elaborando a sua “proposta de solução”! [a enviar até ao dia 31 de janeiro, utilizando para o efeito os emails reporter.de.ocasiao@gmail.com e lumaferoma1958@sapo.pt ou o endereço postal Luís Manuel Felizardo Rodrigues / Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2º Esq. / Feijó 2810-032 Almada].

 
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