CONCLUSÃO DO 3º CONTO DO CONCURSO “UM CASO POLICIAL NO NATAL
Retomamos
hoje a publicação do terceiro conto do concurso “Um Caso Policial no Natal”,
com a sua conclusão, recordando antes de mais o texto com que terminou a sua
primeira parte:
“(…)
Ela
perguntou quem queria café. Era aqui que começava a fase crítica. Aquela em que
eu confiara no conhecimento que tinha sobre a Fátima, e que me permitira
construir um conjunto sequencial de etapas que levariam à sua morte. Tinha sido
um planeamento meticuloso, aquele que eu fizera. Uma construção feita com base
num conhecimento acumulado ao longo dos muitos anos de convívio.
A
máquina de café estava na cozinha, assim como os pequenos recipientes de
variadas cores, contendo no seu interior o mágico pó castanho. Daquele café que
ela gostava, havia só uma cápsula na caixa e em casa. Ela não abdicava daquele
aroma, e eu fizera tudo, ao longo dos últimos dias, para deixar só uma dose.
Aquela que o seu egoísmo não permitiria que fosse para mais ninguém.
Todos,
com exceção do Miguel, queriam café, como eu já esperava.
Claro que a Fátima disse que ia preparar os expressos para toda gente. Eu sabia que iria ser desse modo. Ela era a mulher perfeita; aquela que nunca errava. Também não seria ali que iria falhar. Seria ela a provocar a sua própria morte”.
“Um Caso Policial no Natal” – TERCEIRO CONTO
A MINHA NOITE DE NATAL, de Paulo
II – PARTE (conclusão)
Durante
a tarde, eu colocara o veneno na cápsula, usando uma seringa. Lá, ficaria à
espera de entrar no organismo da Fátima. Era o único café com o seu aroma
favorito. O único de que ela gostava e que, por isso, não deixaria que fosse
para mais ninguém.
Desfazer-me
do que restava do material letal, fora fácil. Uma saída de automóvel, ao
supermercado, para comprar umas quaisquer inutilidades: lâminas de barbear, uma
esferográfica azul e pasta de dentes, e com isso trazer dois ingredientes de
última hora pedidos pela Fátima, tinham-me conduzido a um contentor de lixo,
bem afastado de casa, onde o frasco com os restos do veneno e a seringa tinham
sido deixados.
Os
meus olhos saltitavam entre as luzes de Natal, o meu irmão, a minha cunhada, o
meu sobrinho e a Fátima, que se levantava da mesa para ir buscar o café.
Embora
eu me quisesse manter calmo, o meu coração batia muito mais rapidamente.
Aproximava-se o momento; aquele que seria o meu Natal; aquele em que eu
nasceria de novo, perante a morte da Fátima.
Acreditava
que o seu egoísmo a levaria à morte. Mesmo havendo riscos para mim, para a
Germana e para o Rodrigo, eu confiava. Acreditava na minha intuição, no que eu
sabia, no meu plano e, principalmente, no egocentrismo da Fátima.
O seu
café teria que ser o mais quente quando chegasse à mesa. Ela não deixaria de o
fazer. Fazia-o sempre. Ninguém corria o risco de levar com os resíduos do
veneno que ela teria na chávena. O seu café seria o último que ela extrairia.
Ouvi a
máquina a trabalhar, e, pouco depois, a Fátima entrou na sala transportando uma
bandeja com as quatro chávenas, que distribuiu. Ela sabia bem qual teria que
ser a sua.
Enquanto
eu e o Rodrigo colocávamos açúcar e mexíamos, as nossas esposas, gostavam de
beber o café sem qualquer aditivo doce. Foi o que sucedeu.
Eu,
com uma colher, agitava a solução escura que estava na minha chávena, tentando
não mostrar ansiedade, e elas ingeriam o aromático líquido castanho. Tudo
decorria como eu previra.
Foi
enquanto eu bebia o meu café, que a Fátima mostrou um esgar de dor, deitou as
mãos ao ventre e tombou sobre a mesa, com uma ligeira espuma branca a sair-lhe
da boca. Virei-me para o seu lado, enquanto gritava para que o meu irmão
telefonasse para o 112.
Eu
sabia que ela estava viva. Eu sabia que ela estava inconsciente e não
recuperaria. Eu sabia que ela iria morrer, mas também previa que tal só
sucederia no hospital, e que, desse modo, eu teria tempo para eliminar os
últimos traços do crime. Não se é médico impunemente.
Só
depois da sua morte e da identificação da causa que a provocara, surgiria a
polícia. Eu ainda tinha tempo.
O
veneno iria aparecer na chávena, mas, sobre isso, eu não me importava. Fora ela
que o ingerira, sem ajuda.
Os
socorros não demoraram a chegar. E estavam com cara de quem não gostou de ser
incomodado naquela noite. Vieram num carro da emergência, com um médico, e numa
ambulância que transportou imediatamente a Fátima para as urgências
hospitalares.
Disse
ao meu irmão que também eu iria para o hospital, o que teve como consequência a
rápida partida dele, da esposa e do filho para casa onde moravam; também o
fizeram para retirar o Miguel daquele ambiente trágico. Sucedeu como eu
planeara.
Sozinho,
retirei da máquina a cápsula fatal. No recipiente onde caíam as que tinham sido
usadas, estava mais uma do mesmo aroma, já desde o almoço. Depois, enchi o
depósito da água e fi-la sair como quem tira café, durante cerca de dez
minutos. Foram quatro depósitos cheios. Seriam mais do que suficientes para
tirar da máquina os restos do veneno. Deitei a água extraída na sanita e fiz
com que fosse para o esgoto. Lavei bem o recipiente de recolha da água. Depois,
sequei-o com um pano e arrumei-o.
Só
tinha que ir para onde, anteriormente, eu dissera que iria. Pelo caminho,
deixei a cápsula usada, a que continha o veneno, num remoto contentor do lixo.
Jamais seria encontrada.
Terminados
estes passos, as batidas do meu coração começaram a regularizar e dirigi-me
para o hospital, agora, de modo efetivo, sabendo que mais tarde ou mais cedo me
iria ser comunicada a morte da Fátima.
Era, nos últimos anos, a minha noite de Natal mais feliz. Eu nascia de novo. Era o meu Natal. A minha noite de Natal!
AVALIAÇÃO-PONTUAÇÃO
Os
nossos leitores têm a partir de agora 30 (trinta) dias para proceder à
avaliação deste terceiro conto a concurso e ao envio da pontuação atribuída,
entre 5 a 10 pontos (em função da qualidade e originalidade), através do email
salvadorsantos949@gmail.com. Recorda-se que o conto vencedor do concurso será o
que conseguir alcançar a média de pontuação mais elevada após a publicação de
todos os trabalhos, sendo possível (e muito desejada!) a participação dos
autores no “lote de jurados”, estando, porém, impedidos de pontuar os seus
originais (escritos em nome próprio ou sob a forma de pseudónimo), de maneira a
não “fazerem juízo em causa própria”.
Torneio Memória
Já é conhecido o 2º problema do Torneio Memória, organizado pelo blogue A Página dos Enigmas, orientado pelo confrade Paulo (Viseu), que passamos a descrever:
O Assalto ao
Banco Royal
Eram duas horas
da tarde. Uma daquelas tardes quentes de Agosto. Só aqui ou ali — por absoluta
necessidade — um raro transeunte se arriscava a sair para a rua e a meter-se
debaixo do sol escaldante, que derretia tudo.
Ninguém notou
por isso o automóvel cinzento que descia vagarosamente a rua, e que parou junto
da porta do Royal Bank, de New York.
Do interior do
carro saiu um homem de fato claro, chapéu de sábado e óculos escuros. Trazia
uma mala pequena e transpôs a porta giratória do Banco, com aparente à vontade.
Lá fora o motor
do carro continuava a trabalhar, recortando-se ao volante a sombra de outro
homem.
Estava-se na
hora do almoço e, no Banco, os poucos empregados que haviam ficado de serviço
levantaram os olhos ensonados para o intruso, mas voltaram a baixá-los com
desinteresse, e este pôde aproximar-se da Caixa sem que nenhum deles o seguisse
com o olhar.
Se algum o
tivesse feito, teria notado decerto a cara surpreendida do «caixa», e
estranhado a expressão de terror com que o empregado acolhera o cliente
desconhecido.
Este
apontava-lhe uma pistola, ao mesmo tempo que murmurava:
— Se você der o
alarme, mato-o, como um cão!
E acrescentou:
— Traga-me todo
o dinheiro que tem na caixa, se tem amor à vida!... E nem um gesto
suspeito, senão...
Atemorizado, o
homenzinho obedeceu, trazendo vários maços de notas, que o assaltante se
apressou a guardar na pequena mala. Ao arrumar o último, recomendou de novo:
—Se gritar antes
de eu sair, não terei a mínima dúvida em abatê-lo!
Mal voltara
costas porém, a campainha de alarme retiniu por todo o edifício, e o empregado
teve que abrigar-se por trás do balcão, para evitar que o tiro disparado o
atingisse. Perante o espanto de todos, o gatuno alcançava o automóvel, e este
desaparecia pela rua, numa corrida vertiginosa.
Não tão rápida
porém, que não desse tempo ainda a que um dos empregados — que correra
logo em perseguição do gatuno — visse o número do carro. Esse número era
o: 98601.
Em breve as
estações de rádio transmitiam os sinais e número do carro. Horas depois, o
nosso «Inspector Diabrete» mandava deter o carro que vemos na gravura, quando
este passeava calmamente nas ruas da cidade. «Diabrete» averiguara que não
existia nenhum carro com o número: 98601.
Ter-se-ia o
nosso inspetor enganado desta vez, ao mandar deter o carro, cujos ocupantes
protestaram energicamente?
A solução deve
ser enviada até ao dia 29, (final do dia), para apaginadosenigmas@gmail.com.
Recorde-se que o Torneio
Memória, é constituído por problemas com mais de 65 anos. São enigmas
publicados nas décadas de 40 e 50 do século passado.
O Assalto ao Banco Royal é um problema policiário que tem associada uma imagem, situação que foi muito frequente em algumas secções policiárias que fizeram história.
Torneio Memória
Já é conhecida a
solução de autor, e as respetivas pontuações/classificações, do Problema nº 1
do Torneio Memória (CRIME NO PARQUE), organizado pelo blogue A Página dos
Enigmas, do Confrade Paulo (Viseu):
“O problema tem
como autor o Inspector Moisés. e foi publicado originalmente na
revista Camarada número 22, em 15 de outubro de 1948, na secção Mistério e
Aventura, orientada por Sete de Espadas, já passaram mais
de 75 anos.
A revista Camarada era
uma publicação juvenil, propriedade da Mocidade Portuguesa. Esta organização
enquadrava os jovens dentro da ideologia do Estado Novo, e a revista começou
por ser dirigida por Baltazar Rebelo de Sousa, pai do atual Presidente da
República.
Sete de
Espadas foi um grande divulgador do policiário em Portugal,
mantendo-se em atividade entre o final dos anos 40 e o fim da primeira
década deste século.
A secção Mistério
e Aventura, título várias vezes usado por Sete de Espadas nos
espaços que orientou, realizou alguns torneios que mostraram vários
policiaristas que se iriam evidenciar nos anos seguintes, sofrendo a secção, na
sua fase final, com a irregularidade com que era publicada.
O Inspector
Moisés, foi um policiarista que se manteve em atividade algumas décadas,
fosse como solucionista ou como autor de problemas. Podemos encontrá-lo na
década de 40, como neste caso, assim como na década de 70, marcando presença
como solucionista e produtor na secção Enigma Policiário, orientada pelo
Inspector Aranha.
Este terá sido
um dos primeiros problemas que escreveu.
Foi também um
notável charadista e cruzadista, tendo, nestas modalidades, adotado o
pseudónimo de El Nunes.
Ernesto Nunes, o Inspector Moisés, faleceu com 93 anos em 18 de fevereiro de 2022.
Solução
A solução aqui
apresentada surge como foi publicada originalmente na revista Camarada, não
havendo indicação se é um texto do Inspector Moisés (o autor) ou de Sete de
Espadas (o orientador da secção).
1.º — Foi Mota o
assassino, porque...
2.º — ...Porque a sua mentira o denuncia. De facto, ele que estava aos remos, (porque era ele que «pretendia atracar, encostando a popa») estava necessariamente virado para o cais, e portanto não teria necessidade de se voltar para ver o «falso vulto» fugindo no Parque...
Comentário
A solução
adotada será a do produtor do problema, embora ela possa trazer alguns
problemas, dada a simplicidade com que o texto do enigma foi escrito.
Foram também
aceites como respostas corretas, respostas diferentes, desde que indicassem
explicitamente a contradição de visualização do criminoso, indicada pelo
inspetor Moisés.
Embora houvesse
a ideia inicial, de fazer variar mais as classificações, foi decidido aplicar
apenas o critério que a seguir está estabelecido.
Houve um bom
número de soluções recebidas que se destacam pela qualidade, embora O Gráfico
apresente uma resposta que se sobrepõe a todas as outras. A quantidade de
pormenores focados na solução como, a título de exemplo, a análise das declarações
dos suspeitos e o destino da arma, foram tidos em conta para fazer a seleção,
assim como o modo como a solução era "embrulhada".
Na originalidade, é a solução de Mac Jr. que se destaca, não sendo muitos os concorrentes que apresentam respostas que se evidenciem por serem originais.
Critério
Classificativo.
Quem indica o
assassino e justifica corretamente - 10 pontos
Quem indica o
assassino correto mas não justifica corretamente - 9 pontos
Quem indica o assassino errado - 8 pontos
Os policiaristas indicados com a sigla TPBRO são elementos da Tertúlia Policiária Blogue Repórter de Ocasião.
Classificação do
problema
Geral
10 pontos (22
concorrentes)
Arjacasa
(TPBRO); Bernie Leceiro; Búfalos Associados; Cláudia Martinho; Clóvis; Cris;
Detective Nabo; Detective Jeremias; Guilherme; Inspector Boavida; Inspector
Moscardo; Kali Mero; Karl Marques: LS & MaG; Mac Jr; Mali(TPBRO); Menino
Nelito; Mister H; Núbis; O Gráfico (TPBRO); Rosa Marques; Xá do Reino.
9
pontos (4 concorrentes)
Abrótea;
Bertita; Doula; Háspide
8 pontos (5
concorrentes)
Detective Vasofe; Inspetora Marta; Pedro Ribeiro; Poluidora; Tiago Reis
Total: 31
concorrentes
Melhores
O Gráfico
(TPBRO) - 5 pontos
LS & Mag - 4
pontos
Detective
Jeremias - 3 pontos
Mac Jr. - 2
pontos
Bernie Leceiro . 1 ponto
Originalidade
Mac Jr. - 5
pontos
O Gráfico - 4
pontos
Bernie Leceiro -
3 pontos
Inspector
Moscardo - 2 pontos
Xá do Reino - 1
ponto
Classificação
Geral (após
o 1º problema)
Indica-se
o lugar de cada solucionista, ou grupo de solucionistas, quando a solução não é
individual, na Classificação Geral.
À frente
da pontuação, a alínea do artigo 12º do regulamento utilizada no desempate.
1º O
Gráfico (TPBRO) 10 pontos a
2º LS
& MaG 10 pontos a
3º
Detective Jeremias 10 pontos
a
4º Mac
Jr 10 pontos a
5º Bernie
Leceiro 10 pontos a
6º
Inspector Moscardo 10 pontos
g
7º Xá do
Reino 10 pontos g
8º
Clóvis 10 pontos o
9º Cláudia
Martinho 10 pontos o
10º
Mali(TPBRO) 10 pontos
o
11º Menino
Nelito 10 pontos o
12º Kali
Mero 10 pontos o
13º
Arjacasa (TPBRO) 10 pontos
o
14º
Búfalos Associados 10 pontos
o
15º
Cris 10 pontos
o
16º
Inspector Boavida 10 pontos o
17º
Detective Nabo 10 pontos o
18º
Guilherme 10 pontos o
19º
Núbis 10 pontos o
20º Karl
Marques 10 pontos o
21º Mister
H 10 pontos o
22º Rosa
Marques 10 pontos o
23º
Bertita 9 pontos o
24º
Abrótea 9 pontos o
25º
Doula 9 pontos o
26º
Háspide 9 pontos o
27º
Detective Vasofe 8 pontos
o
28º Tiago
Reis 8 pontos o
29º
Inspetora Marta 8 pontos o
30º
Poluidora 8 pontos o
31º Pedro Ribeiro 8 pontos o
Combinado
O Gráfico 4
pontos
Mac
Jr 9 pontos
Bernie
Leceiro 13 pontos
As classificações da Originalidade e Melhores coincidem, neste 1º problema, com a classificação do problema.”
A
vencedora do Prémio em Sorteio (livro “O Fim”, de Philip Banter) foi MALI
(TPBRO)
Torneio
Cultores do Policiário
Classificações
do 1º Problema
(“O Misterioso Desaparecimento de uma Aliança Velha”, de O Gráfico)
1.º - Ribeiro de
Carvalho (Torres Novas) = 10+04+05+03.
2.ª - Cocas
(Portalegre) = 10+03+00+02.
3.ª - Sofia
Ribeiro (Charneca de Caparica) = 10+02+11+14.
4.ª - Sandra
Ribeiro (Almada) = 10+01+00+00.
5.º - Inspector
Aranha (Santarém) = 09+00+18+21.
6.º - Mac Jr.
(Apúlia) = 09+00+17+22.
7.º - Paulo
(Viseu) = 09+00+16+23.
8.ª - Mali
(Lisboa) = 99+00+15+17.
9.º - Photus
A.D. (Belém-Lisboa) = 09+00+14+20.
10.º - Inspector
Pevides (Oeiras) = 09+00+13+08.
11.ºs - Búfalos
Associados (Lisboa) = 09+00+12+16.
12.ª - Detective
Jeremias (Santarém) = 09+00+10+19.
13.º - Inspector
Ryckyi (Amora) = 09+00+09+15.
14.º - Clóvis
(Viseu) = 09+00+08+13.
15.º - Bernie
Leceiro (Matosinhos) = 09+00+07+12.
16.º - Inspetor
Moscardo (Santarém) = 09+00+06+10.
17.º - Big Ben
(Amadora) = 09+00+04+05.
18.ª -
Inspectora Sardinha (Armação de Pêra) = 09+00+03+09.
19.º - Visigodo
(Setúbal) = 09+00+01+00.
20.º - Inspetor
Boavida (Charneca de Caparica) = 09+00+00+07.
21.º - O Pegadas
(Braga) = 09+00+00+06.
22.ª - Ana Carla
Silva (Almada) = 09+00+00+00.
22.ª - Ana
Marques (Lisboa) = 09+00+00+00.
22.º - Arjacasa
(Valpaços) = 09+00+00+00.~
22.º - Carlos
Caria (Lisboa) = 09+00+00+00.
22.ª - Carluxa
(lagos) = 09+00+00+00.
22.ª - CN13
(Charneca de Caparica) = 09+00+00+00.
22.º - Detective
Caracoleta (Charneca Caparica) = 09+00+00+00.
22.º - Detective
Nabo (Aldeia do Nabo) = 09+00+00+00.
22.ª - Detective
Silva (Cova da Piedade) = 09+00+00+00.
22.ª - Detective
Suricata (Braga) = 09+00+00+00.
22.º - Faria
(Évora) = 09+00+00+00.
22.º - Inspector
Cláudio (Lagos) = 09+00+00+00.
22.º - Joel
Trigueiro (Costa da Caparica) = 09+00+00+00.
22.º - Jorrod
(Burgau) = 09+00+00+00.
22.ª - Margareth
(Lagos) = 09+00+00+00.
22.º - Marino
(Lisboa) = 09+00+00+00.
22.º - Molécula
(Évora) = 09+00+00+00.
22.ª - Pintinha
(Lisboa) = 09+00+00+00.
22.º - 1.º
Sargento (Laranjeiro) = 09+00+00+00.
22.ª - Rainha
Katya (Charneca de Caparica) = 09+00+00+00.
22.º - Satanás
(Lisboa) = 09+00+00+00.
22.º - Zé Alguém
(Lagos) = 09+00+00+00.
44.º - Jartur
(Porto) = 08+00+00+18.
45.º - Eduardo Oliveira (Loures) = 07+00+00+04.
46.º - Pedro
Monteiro (Sobreda) = 07+00+00+01.
47.º - JC Al (Londres) = 06+00+02+11.
As Melhores
1.º - Ribeiro de Carvalho (Torres Novas) - (4 Pontos)
2.ª - Cocas (Portalegre) - (3 Pontos)
3.ª - Sofia Ribeiro (Charneca de Caparica) - (2 Pontos)
4.ª - Sandra Ribeiro (Almada) - (1 Ponto)
As Mais
Originais
1.º – Inspector
Aranha (Santarém) - (18 Pontos)
2.º – Mac Jr.
(Apúlia) - (17 Pontos)
3.º - Paulo
(Viseu) - (16 Pontos)
4.ª - Mali
(Lisboa) - (15 Pontos)
5.º – Photus
A.D. (Belém-Lisboa) - (14 Pontos)
6.º – Inspector
Pevides (Oeiras) - (13 Pontos)
7.º – Búfalos
Associados (Lisboa) - (12 Pontos)
8.ª – Sofia
Ribeiro (Charneca de Caparica) - (11 Pontos)
9.ª – Detective
Jeremias (Santarém) - (10 Pontos)
10.º – Inspector
Ryckyi (Amora) - (9 Pontos)
11.º – Clóvis
(Viseu) - (8 Pontos)
12.º – Bernie
Leceiro (Matosinhos) - (7 Pontos)
13.º – Inspector
Moscardo (Santarém) - (6 Pontos)
14.º – Ribeiro
de Carvalho (Torres Novas) - (5 Pontos)
15.º – Big Ben
(Amadora) - (4 Pontos)
16.ª –
Inspectora Sardinha (Armação de Pêra) - (3 Pontos)
17.º – JC Al
(Londres) - (2 Pontos)
18.º – Visigodo (Setúbal) - (1 Ponto)
Os Mais
Combativos
1.º – Paulo
(Viseu) - (23 Pontos)
2.º – Mac Jr.
(Apúlia) - (22 Pontos)
3.º - Inspector
Aranha (Santarém) - (21 Pontos)
4.º - Photus
A.D. (Belém-Lisboa) - (20 Pontos)
5.ª – Detective
Jeremias (Santarém) - (19 Pontos)
6.º – Jartur
(Porto) - (18 Pontos)
7.ª – Mali
(Lisboa) - (17 Pontos)
8.ºs – Búfalos
Associados (Lisboa) - (16 Pontos)
9.º – Inspector
Rycky (Amora) - (15 Pontos)
10.ª – Sofia
Ribeiro (Charneca de Caparica) - (14 Pontos)
11.º – Clóvis
(Viseu) - (13 Pontos)
12.º – Bernie
Leceiro (Matosinhos) - (12 Pontos)
13.º – JC Al
(Londres) - (11 Pontos)
14.º – Inspector
Moscardo (Santarém) - (10 Pontos)
15.ª –
Inspectora Sardinha (Armação de Pêra) - (9 Pontos)
16.º – Inspector
Pevides (Oeiras - (8 Pontos)
17.º – Inspetor
Boavida (Charneca de Caparica) - (7 Pontos)
18.º – O Pegadas
(Braga) - (6 Pontos)
19.º – Big Ben
(Amadora) - (5 Pontos)
20.º – Eduardo
Oliveira (Loures) - (4 Pontos)
21.º – Ribeiro
de Carvalho (Torres Novas) - (3 Pontos)
22.º – Cocas
(Portalegre) - (2 Pontos)
23.º – Pedro Monteiro (Sobreda) - (1 Ponto)
Prémio Combinado
1.ª – Sofia Ribeiro - (24 Pontos) = (3+3+8+10)
2.º – Ribeiro de Carvalho - (37 Pontos) = (1+1+14+21)
Caros Confrades,
Não havendo aqui, no Local do Crime, qualquer limitação de espaço, como acontece nas páginas do jornal AUDIÊNCIA GRANDE PORTO, publicamos na íntegra o terceiro conto do Concurso “Um Caso Policial no Natal”:
“Um Caso Policial no Natal” – TERCEIRO CONTO
A MINHA NOITE DE NATAL, de Paulo
A
conversa saltava entre as pessoas sentadas na mesa, musicada pelos risos e pelo
som dos
talheres sobre os pratos. Era, para eles, uma ceia de Natal igual a tantas
outras, mas,
para mim, seria diferente.
Eram
mais quatro pessoas sentadas à mesa. A Fátima, minha esposa, o meu irmão
Rodrigo, a
cônjuge Germana, todos nós entre os quarenta e os quarenta e cinco anos, e o
Miguel, o
meu sobrinho, com os seus treze aniversários já cumpridos. Como em todos
os dezembros
anteriores, juntávamo-nos para celebrar o Natal, ou melhor, ano sim, ano
não, porque
nos de data par, eu e a minha esposa passávamos as festividades natalícias
em casa dos
meus sogros, assim como o Rodrigo fazia o mesmo em casa dos pais da Germana. As mortes
do meu pai e da minha mãe num acidente de automóvel, havia dezoito meses,
fizeram com que a mesa dos anos ímpares ficasse reduzida àqueles que lá nos encontrávamos
sentados neste ano.
Enquanto
as restantes pessoas iam comendo o tradicional bacalhau cozido com batatas e
couves, eu, parecendo participar de uma alegre reunião familiar, conjeturava
sobre o meu futuro. Enquanto as luzes de Natal iam piscando no arremedo
plástico de árvore, eu pensava em tudo o que planeara e que iria mudar o rumo
da minha vida.
Eu
iria voltar a ter futuro. Iria ficar livre da Fátima; daquela voz sempre
crítica para os meus atos; daquele sorriso constantemente trocista para os meus
desejos; daquela arrogância com que ela se impunha à minha vontade; daquele
desprezo com que respondera a uma abordagem que eu lhe fizera de separação;
daquela falsa amabilidade que iludia todos os que com ela contactavam e que era
confundida com simpatia.
Naquela
mesa, ela dominava a conversa, era o centro das atenções, falando do seu
trabalho, da sua casa e da sua árvore de Natal, que ela iluminara e enfeitara,
e que estava erguida no canto da sala. De mim, não falava. Eu não contava.
Eu
ouvia a sua voz, sobrepondo-se à minha e à de cada um dos presentes, mas sabia
que essa voz se calaria dentro de pouco tempo. Sabia que seria a sua arrogância
que a levaria à morte. Seria o seu costume de se colocar sempre em primeiro, de
querer para si o melhor, de ter que ultrapassar tudo e todos, desde que fosse
em seu proveito, que lhe seria fatal. Estava tudo planeado, e nada melhor do
que uma noite de Natal para a matar, para deixar ficar na minha memória o
sucesso de todos os passos que eu tantas vezes imaginara e que agora iriam ter
o seu apogeu na morte dela.
O
brinde à saúde de todos fez-me rir interiormente. Não deixei de fazer a vontade
ao meu irmão, mas eu sabia que a saúde da Fátima não era algo que eu desejasse,
nem era algo que viesse a perdurar nos tempos mais próximos. Quase que me
apetecia brindar à sua morte, no entanto, eu teria que manter as aparências.
Era fundamental aquele meu contributo cortês, para não mostrar o que a minha
mente pensava. Se ela fingia para o resto da família, eu ainda faria melhor.
Iria ser um Natal memorável.
Claro
que havia sobremesas, mas não existia colesterol que nos impedisse de celebrar
condignamente aquela noite. Os ginásios tinham a sua utilidade. Uma delas
era darem a permissão aos pequenos abusos alimentares, como os que se
perpetravam nestes últimos dias de dezembro e que duravam até ao início do novo
ano.
A
Fátima não falhava em nada. Era Natal, e por isso a mesa tinha que ter as
tradicionais filhoses, as natalícias rabanadas, o indispensável bolo-rei, que
os tempos foram fazendo recuar desde o Dia de Reis até ao Natal, e todo um
outro conjunto de doces que ela fizera, como fosse um bolo, com uns
ingredientes que não revelava, dizendo que era um segredo familiar, e que eu
iria converter num segredo eterno, uma mousse de chocolate e arroz doce.
Um
bocadinho deste, um torrãozinho daquele, era a linguagem usada para acumular os
doces no prato da sobremesa. E assim, iam todos falando e sorrindo, não
deixando, também eu, de contribuir para a festa, nem de provar os diferentes
doces.
Na
nossa casa, nesta época tão marcada por alguns símbolos, não havia Pai-Natal
nem o tradicional Menino Jesus. A idade do meu sobrinho Miguel já há muito
deixara para trás essas personagens. Agora, apenas alguns presentes aguardavam,
sob a árvore que a Fátima iluminara. Esperavam que os abríssemos e fizéssemos
trocas, fingindo uma surpresa e um interesse que não existiam acerca do que
cada um recebia.
Mas
este ano não chegaríamos a essa atividade. Antes disso, eu teria que ver o meu
plano funcionar. Iria suceder aquela cadência de passos delineados, que eu
imaginara darem certos, e, desse modo, terminar com a vida da Fátima.
Ela
perguntou quem queria café. Era aqui que começava a fase crítica. Aquela em que
eu confiara no conhecimento que tinha sobre a Fátima, e que me permitira
construir um conjunto sequencial de etapas que levariam à sua morte. Tinha sido
um planeamento meticuloso, aquele que eu fizera. Uma construção feita com base
num conhecimento acumulado ao longo dos muitos anos de convívio.
A
máquina de café estava na cozinha, assim como os pequenos recipientes de
variadas cores, contendo no seu interior o mágico pó castanho. Daquele café que
ela gostava, havia só uma cápsula na caixa e em casa. Ela não abdicava daquele
aroma, e eu fizera tudo, ao longo dos últimos dias, para deixar só uma dose.
Aquela que o seu egoísmo não permitiria que fosse para mais ninguém.
Todos,
com exceção do Miguel, queriam café, como eu já esperava.
Claro
que a Fátima disse que ia preparar os expressos para toda gente. Eu sabia que
iria ser desse modo. Ela era a mulher perfeita; aquela que nunca errava. Também
não seria ali que iria falhar. Seria ela a provocar a sua própria morte.
Durante
a tarde, eu colocara o veneno na cápsula, usando uma seringa. Lá, ficaria à
espera de entrar no organismo da Fátima. Era o único café com o seu aroma
favorito. O único de que ela gostava e que, por isso, não deixaria que fosse
para mais ninguém.
Desfazer-me
do que restava do material letal, fora fácil. Uma saída de automóvel, ao
supermercado, para comprar umas quaisquer inutilidades: lâminas de barbear, uma
esferográfica azul e pasta de dentes, e com isso trazer dois ingredientes de
última hora pedidos pela Fátima, tinham-me conduzido a um contentor de lixo,
bem afastado de casa, onde o frasco com os restos do veneno e a seringa tinham
sido deixados.
Os
meus olhos saltitavam entre as luzes de Natal, o meu irmão, a minha cunhada, o
meu sobrinho e a Fátima, que se levantava da mesa para ir buscar o café.
Embora
eu me quisesse manter calmo, o meu coração batia muito mais rapidamente.
Aproximava-se o momento; aquele que seria o meu Natal; aquele em que eu
nasceria de novo, perante a morte da Fátima.
Acreditava
que o seu egoísmo a levaria à morte. Mesmo havendo riscos para mim, para a
Germana e para o Rodrigo, eu confiava. Acreditava na minha intuição, no que eu
sabia, no meu plano e, principalmente, no egocentrismo da Fátima.
O seu
café teria que ser o mais quente quando chegasse à mesa. Ela não deixaria de o
fazer. Fazia-o sempre. Ninguém corria o risco de levar com os resíduos do
veneno que ela teria na chávena. O seu café seria o último que ela extrairia.
Ouvi a
máquina a trabalhar, e, pouco depois, a Fátima entrou na sala transportando uma
bandeja com as quatro chávenas, que distribuiu. Ela sabia bem qual teria que
ser a sua.
Enquanto
eu e o Rodrigo colocávamos açúcar e mexíamos, as nossas esposas, gostavam de
beber o café sem qualquer aditivo doce. Foi o que sucedeu.
Eu,
com uma colher, agitava a solução escura que estava na minha chávena, tentando
não mostrar ansiedade, e elas ingeriam o aromático líquido castanho. Tudo
decorria como eu previra.
Foi
enquanto eu bebia o meu café, que a Fátima mostrou um esgar de dor, deitou as
mãos ao ventre e tombou sobre a mesa, com uma ligeira espuma branca a sair-lhe
da boca. Virei-me para o seu lado, enquanto gritava para que o meu irmão
telefonasse para o 112.
Eu
sabia que ela estava viva. Eu sabia que ela estava inconsciente e não
recuperaria. Eu sabia que ela iria morrer, mas também previa que tal só
sucederia no hospital, e que, desse modo, eu teria tempo para eliminar os
últimos traços do crime. Não se é médico impunemente.
Só
depois da sua morte e da identificação da causa que a provocara, surgiria a
polícia. Eu ainda tinha tempo.
O
veneno iria aparecer na chávena, mas, sobre isso, eu não me importava. Fora ela
que o ingerira, sem ajuda.
Os
socorros não demoraram a chegar. E estavam com cara de quem não gostou de ser
incomodado naquela noite. Vieram num carro da emergência, com um médico, e numa
ambulância que transportou imediatamente a Fátima para as urgências
hospitalares.
Disse
ao meu irmão que também eu iria para o hospital, o que teve como consequência a
rápida partida dele, da esposa e do filho para casa onde moravam; também o
fizeram para retirar o Miguel daquele ambiente trágico. Sucedeu como eu
planeara.
Sozinho,
retirei da máquina a cápsula fatal. No recipiente onde caíam as que tinham sido
usadas, estava mais uma do mesmo aroma, já desde o almoço. Depois, enchi o
depósito da água e fi-la sair como quem tira café, durante cerca de dez
minutos. Foram quatro depósitos cheios. Seriam mais do que suficientes para
tirar da máquina os restos do veneno. Deitei a água extraída na sanita e fiz
com que fosse para o esgoto. Lavei bem o recipiente de recolha da água. Depois,
sequei-o com um pano e arrumei-o.
Só
tinha que ir para onde, anteriormente, eu dissera que iria. Pelo caminho,
deixei a cápsula usada, a que continha o veneno, num remoto contentor do lixo.
Jamais seria encontrada.
Terminados
estes passos, as batidas do meu coração começaram a regularizar e dirigi-me
para o hospital, agora, de modo efetivo, sabendo que mais tarde ou mais cedo me
iria ser comunicada a morte da Fátima.
Era, nos últimos anos, a minha noite de Natal mais feliz. Eu nascia de novo. Era o meu Natal. A minha noite de Natal!
UM CRIME DE HOMICÍDIO PREMEDITADO QUE NOS CHEGA DE VISEU
O conto que hoje se publica no âmbito do concurso “Um Caso Policial no Natal” é da autoria do nosso confrade Paulo, de Viseu, produtor e decifrador policiário de reconhecido mérito, escritor recentemente distinguido com o prémio literário Germano Silva do Rotary Club de Penafiel, que nos conta a história de um crime de homicídio premeditado para uma ceia de Natal…
“Um Caso Policial no Natal” – TERCEIRO CONTO
A MINHA NOITE DE NATAL, de Paulo
I – PARTE
A
conversa saltava entre as pessoas sentadas na mesa, musicada pelos risos e pelo
som dos
talheres sobre os pratos. Era, para eles, uma ceia de Natal igual a tantas
outras, mas,
para mim, seria diferente.
Eram
mais quatro pessoas sentadas à mesa. A Fátima, minha esposa, o meu irmão
Rodrigo, a
cônjuge Germana, todos nós entre os quarenta e os quarenta e cinco anos, e o
Miguel, o
meu sobrinho, com os seus treze aniversários já cumpridos. Como em todos
os dezembros
anteriores, juntávamo-nos para celebrar o Natal, ou melhor, ano sim, ano
não, porque
nos de data par, eu e a minha esposa passávamos as festividades natalícias
em casa dos
meus sogros, assim como o Rodrigo fazia o mesmo em casa dos pais da Germana. As mortes
do meu pai e da minha mãe num acidente de automóvel, havia dezoito meses,
fizeram com que a mesa dos anos ímpares ficasse reduzida àqueles que lá nos
encontrávamos sentados neste ano.
Enquanto
as restantes pessoas iam comendo o tradicional bacalhau cozido com batatas e
couves, eu, parecendo participar de uma alegre reunião familiar, conjeturava
sobre o meu futuro. Enquanto as luzes de Natal iam piscando no arremedo
plástico de árvore, eu pensava em tudo o que planeara e que iria mudar o rumo
da minha vida.
Eu
iria voltar a ter futuro. Iria ficar livre da Fátima; daquela voz sempre
crítica para os meus atos; daquele sorriso constantemente trocista para os meus
desejos; daquela arrogância com que ela se impunha à minha vontade; daquele
desprezo com que respondera a uma abordagem que eu lhe fizera de separação;
daquela falsa amabilidade que iludia todos os que com ela contactavam e que era
confundida com simpatia.
Naquela
mesa, ela dominava a conversa, era o centro das atenções, falando do seu
trabalho, da sua casa e da sua árvore de Natal, que ela iluminara e enfeitara,
e que estava erguida no canto da sala. De mim, não falava. Eu não contava.
Eu
ouvia a sua voz, sobrepondo-se à minha e à de cada um dos presentes, mas sabia
que essa voz se calaria dentro de pouco tempo. Sabia que seria a sua arrogância
que a levaria à morte. Seria o seu costume de se colocar sempre em primeiro, de
querer para si o melhor, de ter que ultrapassar tudo e todos, desde que fosse
em seu proveito, que lhe seria fatal. Estava tudo planeado, e nada melhor do
que uma noite de Natal para a matar, para deixar ficar na minha memória o
sucesso de todos os passos que eu tantas vezes imaginara e que agora iriam ter
o seu apogeu na morte dela.
O
brinde à saúde de todos fez-me rir interiormente. Não deixei de fazer a vontade
ao meu irmão, mas eu sabia que a saúde da Fátima não era algo que eu desejasse,
nem era algo que viesse a perdurar nos tempos mais próximos. Quase que me
apetecia brindar à sua morte, no entanto, eu teria que manter as aparências.
Era fundamental aquele meu contributo cortês, para não mostrar o que a minha
mente pensava. Se ela fingia para o resto da família, eu ainda faria melhor.
Iria ser um Natal memorável.
Claro
que havia sobremesas, mas não existia colesterol que nos impedisse de celebrar
condignamente aquela noite. Os ginásios tinham a sua utilidade. Uma delas
era darem a permissão aos pequenos abusos alimentares, como os que se
perpetravam nestes últimos dias de dezembro e que duravam até ao início do novo
ano.
A
Fátima não falhava em nada. Era Natal, e por isso a mesa tinha que ter as
tradicionais filhoses, as natalícias rabanadas, o indispensável bolo-rei, que
os tempos foram fazendo recuar desde o Dia de Reis até ao Natal, e todo um
outro conjunto de doces que ela fizera, como fosse um bolo, com uns
ingredientes que não revelava, dizendo que era um segredo familiar, e que eu
iria converter num segredo eterno, uma mousse de chocolate e arroz doce.
Um
bocadinho deste, um torrãozinho daquele, era a linguagem usada para acumular os
doces no prato da sobremesa. E assim, iam todos falando e sorrindo, não
deixando, também eu, de contribuir para a festa, nem de provar os diferentes
doces.
Na
nossa casa, nesta época tão marcada por alguns símbolos, não havia Pai-Natal
nem o tradicional Menino Jesus. A idade do meu sobrinho Miguel já há muito
deixara para trás essas personagens. Agora, apenas alguns presentes aguardavam,
sob a árvore que a Fátima iluminara. Esperavam que os abríssemos e fizéssemos
trocas, fingindo uma surpresa e um interesse que não existiam acerca do que
cada um recebia.
Mas
este ano não chegaríamos a essa atividade. Antes disso, eu teria que ver o meu
plano funcionar. Iria suceder aquela cadência de passos delineados, que eu
imaginara darem certos, e, desse modo, terminar com a vida da Fátima.
Ela
perguntou quem queria café. Era aqui que começava a fase crítica. Aquela em que
eu confiara no conhecimento que tinha sobre a Fátima, e que me permitira
construir um conjunto sequencial de etapas que levariam à sua morte. Tinha sido
um planeamento meticuloso, aquele que eu fizera. Uma construção feita com base
num conhecimento acumulado ao longo dos muitos anos de convívio.
A
máquina de café estava na cozinha, assim como os pequenos recipientes de
variadas cores, contendo no seu interior o mágico pó castanho. Daquele café que
ela gostava, havia só uma cápsula na caixa e em casa. Ela não abdicava daquele
aroma, e eu fizera tudo, ao longo dos últimos dias, para deixar só uma dose.
Aquela que o seu egoísmo não permitiria que fosse para mais ninguém.
Todos,
com exceção do Miguel, queriam café, como eu já esperava.
Claro
que a Fátima disse que ia preparar os expressos para toda gente. Eu sabia que
iria ser desse modo. Ela era a mulher perfeita; aquela que nunca errava. Também
não seria ali que iria falhar. Seria ela a provocar a sua própria morte.
(continua na próxima edição)
Torneio Cultores do Policiário
1º Problema
“O Misterioso
Desaparecimento de uma Aliança Velha”, de O Gráfico
Solução de Autor
(O Gráfico)
II - PARTE
- OLÁ, Rui! - cumprimentei o meu amigo regressando à
Pastelaria Kimi.
- Viva, então, tudo bem!? A Aliança Velha sumiu-se de vez!
Que coisa...!? - disse ele.
- Meu caríssimo Amigo eu tenho uma teoria para desvendar o
mistério e queria-lhe apresentar as minhas deduções, vamos a isso? - perguntei.
O Rui Marino concordou comigo e expus-lhe as minhas
conclusões, desta maneira:
“Uma vez que a garrafa da Aliança Velha jamais foi
encontrada no estabelecimento, em lugar ou local nenhum e mais ninguém saiu ou
entrou após a sua falta... então só pode ter sido levada pelo Padeiro... porque
ele entrou em simultâneo com o Miguelito e o alvoroço e as distracções foram
imensas! O Padeiro foi o único que entrou no balcão e no seu trajecto, por duas
vezes se cruzou com a Aliança Velha! Depois de depositar as carcaças no
receptáculo apropriado, ao regressar pegou na garrafa e colocou-a na caixa
vazia do transporte do pão. Enquanto posavam para as fotos ele saiu
sorrateiramente pela porta vedada ao público, pelas duas cadeiras! Só pode!...”
- Interessante, meu caro Rodrigues! Quase de certeza! - comentou
o Rui.
- E como é que podemos provar isso mesmo...!? - interrogou-me.
- Fácil! - respondi, eu.
- Provavelmente, o jovem Miguelito, numa das suas
fotografias “apanhou” o Padeiro em flagrante delito! - acrescentei.
- Vamos chamá-lo... para que nos mostre as suas
fotografias! - concluí.
Dito e feito. O jovem Miguelito nem queria acreditar...
numa das suas fotografias, no meio de um alvoroço fantástico... lá se
encontrava, em segundo plano, numa das fotografias de rosto dos empregados de
balcão, o Padeiro a pegar na garrafa da Aliança Velha e numa outra via-se a
garrafa já colocada no caixote, vazio, do transporte do pão! Sintomático. Uma
prova irrefutável da culpabilidade do Padeiro.
TORNEIO CULTORES DO POLICIÁRIO
2º Problema
“Crime ao Sol”,
de Faria (Évora)
- Sargento
Pázeiro, mande prender o sr. Anacleto Silva, pelo assassinato do tio.
Quem assim falava,
era o Inspetor Faria, satisfeito por mais uma vez ter conseguido resolver um
dos seus famosos casos.
Desta vez o
mesmo não o ocupara muito tempo e ele pôde, assim, dispor de mais uma
oportunidade para fazer a sua partidinha de ténis, na companhia do Sargento
Pázeiro.
Porém, antes de ir à sua partidinha de ténis, o Inspetor deu-me todos os elementos do caso e autorizou-me a apresentá-los a todos os Policiaristas, para ver se o conseguem resolver.
OS ELEMENTOS
SÃO OS SEGUINTES:
a) -A
vítima era o sr. Pedro Silva, industrial de renome, conhecido pelos seus modos
duros. Estava constantemente a discutir com o sobrinho e no dia anterior
ameaçara-o de que o iria deserdar.
b) -O
local do crime é um grandioso imóvel de dois andares, localizado dentro de uma
enorme quinta, a qual estava isolada do exterior, por um grande muro que a
rodeava.
c) -A
vítima encontrava-se no seu escritório, localizado no 1.º andar, tombada de
frente sobre o bordo da única janela do mesmo, com a cabeça pendente para a rua
e apresentava um ferimento muito profundo na cabeça, mais propriamente na zona
da testa, provocado por um instrumento corto-contundente.
d) A
janela estava localizada na parte da frente do imóvel.
e) Na
parede exterior, junto da janela encontrava-se uma escada encostada ao alto.
f) A
parede junto à janela, bem como a escada, apresentavam alguns salpicos de
sangue.
g) Na
rua, por baixo da janela e na direção em que pendia a cabeça da vítima via-se
uma poça de sangue.
h) A
única porta do escritório, na altura do crime estava fechada por dentro, à
chave e, além disso, ainda estava trancada por dentro com uma corrente de
segurança, pois, após o almoço, a vítima gostava sempre de ficar sozinha
durante algum tempo e não a abria para ninguém.
i) Havia
apenas dois telefones em casa. Um estava na sala, mas não funcionava devido a
avaria e o outro estava no escritório da vítima.
j) No
armazém, localizado nas traseiras do imóvel e onde se guardava, entre outras
coisas, a farinha, foram encontrados entre os sacos de farinha, enrolados num
pano um pouco sujo de sangue, um martelo, uma faca de mato e um machado.
l) Na
altura do crime só se encontravam na quinta, a vítima e o seu sobrinho, o sr.
Anacleto Silva seu único herdeiro.
m) O
sobrinho da vítima estava vestido desportivamente, no entanto uma das pernas
das suas calças estava um pouco suja de farinha.
n) A
vítima funcionava como um autêntico relógio e sem exceção, todos os dias, à
mesma hora, abria à janela do escritório e ficava de pé junto da mesma durante
algum tempo a saborear o sol.
o) A porta do escritório, quando à Polícia chegou, estava fechada e trancada por dentro, sendo arrombada posteriormente para se poder remover o corpo.
DEPOIMENTO DO
SOBRINHO:
Ainda não tinha
saído de casa nesse dia. Após o almoço, como se sentia cansado, continuou ainda
em casa e aproveitou para fazer um telefonema a um amigo. Após o telefonema,
resolveu sair para a rua e, casualmente, olhou na direção da janela do
escritório e deparou com aquela fatalidade. De imediato correu para fora da
quinta a pedir socorro e conseguiu assim contactar a Polícia.
Estes elementos permitiram ao Inspetor Faria resolver o caso; espero, pois, que não tenham dificuldades em o fazer!
PERGUNTAS:
1) - Qual das
três armas apresentadas no texto foi a utilizada no crime? Justifique.
2) - Como
julgam que o crime foi cometido? Justifique.
3) - Quais os
pormenores que provam a culpabilidade do sobrinho?
4) - Qual o móbil do crime?
Resposta até 29
de fevereiro, através dos seguintes meios:
a -
Via Messenger, Facebook, mensageiro
instantâneo e aplicativo de Luís Rodrigues.
b -
Por emails, correio eletrónico, de Luís
Rodrigues: reporter.de.ocasiao@gmail.com
e lumaferoma1958@sapo.pt
c -
Utilizando o Correio Normal (CTT):
Luís Manuel
Felizardo Rodrigues
Praceta
Bartolomeu Constantino, 14, 2.º Esq.
FEIJÓ 2810 – 032
ALMADA